28 abril, 2020

Colecção de Arte Moderna e Contemporânea da SMS | Retrato-medalhão de Rafael Bordalo Pinheiro


O medalhão com o retrato em perfil de Rafael Bordalo Pinheiro, em relevo numa reserva central com a inscrição “O Mestre – Rafael Bordalo Pinheiro – 1846-1905”, enquadrado por uma coroa de frutos, folhas e fitas em faiança esmaltada polícroma, foi executado por Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro em homenagem a seu pai, Rafael Bordalo, por altura do seu falecimento, em 1905.

A obra em faiança foi realizada na antiga Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, criada em 1884 por Rafael Bordalo Pinheiro, tendo o ceramista contado com a colaboração de Ramalho Ortigão, Maria Augusta e Feliciano Bordalo Pinheiro, irmãos de Rafael Bordalo.

O projecto de produção da Fábrica das Caldas da Rainha assentava na vontade de dinamizar a indústria ceramista, nomeadamente a das faianças, elaborando objectos de natureza utilitária, ornamental e de revestimento e simultaneamente proporcionar o ensino profissional na área da cerâmica.

O traço artístico da obra bordaliana, manifesta-se no intenso colorido e na riqueza e expressão das formas dos elementos naturalistas, do figurado de tipo popular e das cenas de natureza etnográfica que Bordalo Pinheiro executou e que nos permite conhecer as diversas personagens da sociedade portuguesa dos finais do século XIX – povo e figuras da vida pública e política –, onde tomam particular destaque as figuras-tipo, especialmente a figura do Zé Povinho.

Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) foi um dos mais profícuos artistas da segunda metade do século XIX em Portugal, tendo-se destacado como caricaturista e desenhador humorista, assim como ceramista. Autor de numerosos trabalhos – muitos deles publicados em diversas publicações da época, outros tomaram forma enquanto obra ceramista – Bordalo Pinheiro foi uma figura de grande talento criativo e de caracterização do meio envolvente, do imaginário histórico, cultural e simbólico português.



Bordalo Pinheiro visto por Raul Brandão, o escritor da Casa do Alto:

Passei a noite em casa do Columbano, com o Rafael Bordalo Pinheiro. Durante o jantar falou sempre. Todo ele mexe, todo ele é caricatura e imprevisto: os olhos, o nariz, as mãos e até o bigode que se encrespa, desenham e imitam. – Era um homem com um olho assim… – E logo o olho se lhe enviesa. Em rapaz o seu sonho era o teatro. Chegou a ter lições do Rosa pai. Está um pouco cansado. Queixa-se muito. Amua. - Ninguém faz caso de mim… – Estranha quando o não vão esperar à estação – e está sempre a chegar das Caldas e partir para as Caldas. Depois esquece-se e põe-se a rir. Depois torna: - Eu não jogo, mas lá em casa todas as noites jogam e pedem-me dinheiro emprestado. – Agora arremeda este e aquele de quem fala. Conta que em Paris ouviu o rei dizer: Isto aqui é uma terra, lá é uma piolheira. – E que o infante, quando lhe perguntaram: – Então em Londres, que tal, com aqueles príncipes todos? – Mal, mal… eu sou um príncipe asa de mosca…

E acaba – é nas vésperas do jantar que lhe vão oferecer no teatro D. Maria – por dizer: – Veja o senhor que desgraça a minha! Daqui a pouco não posso fazer a caricatura de ninguém!

Efectivamente lá estavam no banquete todos os homens imponentes, os conselheiros, os políticos decorativos, a série completa das figuras do António Maria. Não faltou ninguém à chamada. E nos camarotes aplaudiram-no com delírio as lisboetas pálidas de que troçou em tantas páginas de génio. Confundiram-no e arrasaram-no. Creio que foi a primeira vez que perdeu a linha.

Gostou sempre de fazer partidas. É o Schwalbach que conta:

– O imperador do Brasil logo que chegava ao teatro metia-se no camarote, descalçava as botas e calçava com regalo uns chinelos. Uma noite o Rafael, que estava no Rio, foi pé ante pé, meteu a mão pela cortina e roubou-lhe as botas. O pobre homem não se desconcertou: saiu em chinelos, atravessou em chinelos a multidão, saudando para a direita e para a esquerda, desceu o pátio, e meteu-se em chinelos na carruagem.

Os seus últimos dias passou-os a suspirar por um bocadinho de sol. Doente, prostrado, todas as manhãs perguntava: – O sol?... Está sol? – E os dias seguiam-se cuspinhentos e sujos, daquela chuva que enegrece as almas e transforma as ruas de Lisboa em charcos de lama pegajosa. Outra manhã – e ele acordando da prostração: – O sol? Quero ver o sol… – Mais chuva, maior negrume ainda. Morreu num dia, e no outro dia, o do enterro, o sol resplandeceu sobre Lisboa, aquecendo-a e doirando-a.

Raul Brandão, Memórias.

publicado por SMS às 09:30

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