No Dia Internacional dos Museus, a memória da criação do Museu da SMS
No dia em que se assinala o Dia Internacional dos Museus, aqui se deixa a notícia publicada por Adolfo Salazar na Revista de Guimarães, sobre a inauguração do Museu da Sociedade Martins Sarmento, o mais antigo museu português do seu género, no dia 9 de Março de 1885:
O museu arqueológico e numismático, inaugurado, como dissemos, no dia 9, encerra muitas e verdadeiras preciosidades.
A secção de numismática, organizada com o maior zelo e proficiência pelo ilustre numismata, dr. José de Freitas Gosta, compreende para cima de mil exemplares, sendo setecentas moedas portuguesas, cento e cinquenta e tantas romanas, igual número de estrangeiras, duas celtiberas, quatro dos reis visigodos de Espanha, cinco maltesas (de um grão-mestre português), jetons, etc.
Das portuguesas, há sessenta e três de ouro, cento e setenta e seis de prata, trinta e cinco de bilhão (prata com muita liga), uma de calaím (estanho indiano), onze de bronze e quatrocentas e catorze de cobre. Entre elas, há algumas de muita raridade, como o maravedi, áureo, ou soldo de ouro de D. Sancho I, os dinheiros deste monarca, os de D Sancho II, de D. Afonso III, D. Dinis, D. Pedro, I, o real de prata de D. Fernando, etc.
As de bilhão, quase todas do reinado de D. João I, são também de subido merecimento, porque algumas delas oferecem variantes que os catálogos dos coleccionadores ou tratadistas de numismática portuguesa não mencionam.
Vê-se ali o cinquinho de D. Manuel, que é raríssimo, alguns cruzados de ouro de D. João III e o S. Vicente do mesmo monarca, todos eles muito raros e preciosos. Também se vêem diversas moedas coetâneas da dominação dos Filipes e algumas de D. António, prior do Grato, tendo o açor por carimbo, e destas merece especial menção o cruzado de sete dinheiros, moeda de prata.
As de D. João V são muito valiosas e interessantes por conterem variantes não conhecidas, e oferecem também muita curiosidade e merecimento as moedas das nossas colónias principalmente algumas antigas de Goa.
A colecção de medalhas, cujo número excede a cem, é também muito curiosa e opulenta, não só por conter algumas raras, por exemplo a dos empregados do Santo Ofício, mas também por compreender todas ou quase todas as das nossas lutas civis, as das inaugurações, exposições, etc. De entre as medalhas comemorativas merecem referencia especial as dedicadas a Camões, cuja colecção se pode chamar completa, porque não só encerra as que se cunharam por ocasião do tricentenário do poeta, como por conter outras anteriores.
Em toda a colecção de medalhas abundam as que foram gravadas pelo nosso distinto compatrício e notabilíssimo artista, Arnaldo Molarinho.
A secção arqueológica, dirigida e coordenada pelo snr. dr. F. Martins Sarmento, coadjuvado pelo ilustrado reitor de Mascotelos, o rev. padre João Gomes de Oliveira Guimarães, compõe-se nomeadamente do seguinte:
1.°
a) Objectos de pedra encontrados em antas, antelas e cavidades de penedos; machados, pontas de seta, facas, pontas de dardo. Alguns destes objectos pertencem ao concelho de Guimarães (arredores de Sabroso). Duas urnas cinerárias, uma de uma anta, outra de uma antela.
b) Machados de pedra, encontrados em Castros ou imediações deles, como Sabroso, Citânia, Castelo de Guifões, Monte da Senhora, etc.
c) Machados de bronze, de formas diferentes, um de Pinhel, outro de Trás-os-Montes, outro de Fafe.
d) Machados de ferro, um de Sabroso, outro da Citânia (forma diferente).
2.°
a) Fragmentos de cerâmica ornamentada de Sabroso, mostrando mais de cinquenta temas ornamentais diferentes.
b) Vasilhas encontradas num cemitério de Moreira de Cónegos.
3.°
a) Objectos de bronze encontrados na Citânia: alfinetes ou pregos de diferentes formas; fíbulas, idem; contas de colar, uma com ornamentação em esmalte preto; braceletes; agulhas, etc.
b) Vasilhas encontradas em um cemitério de Moreira de Cónegos.
4.°
a) Objectos de bronze encontrados em Sabroso, quase idênticos aos da Citânia; mas uma pulseira e duas fíbulas que se não acham acolá.
b) Vasilhas e lâmpadas de barro achadas em diferentes partes, Citânia, Freixo (Marco de Canaveses), etc.
c) Objectos de metal encontrados em Vizela (explorações para os banhos); moedas.
d) Objectos de ouro, sendo os únicos dignos de nota (por evidentemente antigos) duas pulseiras achadas em Folgosinho (Beira).
5.°
a) Inscrições : Aras dedicadas a deuses, algumas contendo nomes de deuses até hoje desconhecidos. Lápides tumulares, algumas desconhecidas até hoje, como as de Carqueres e Negrelos. Pedras ornamentadas: espécimes da Citânia, Sabroso, Cividade de Ancora. Escultura: Estátua incompleta, de Baião. A figura tosca de um animal, idem. Figuras em relevo (humanas) das proximidades do Monte da Saia (Barcelos), etc. Túmulo (carneiro) da época cristã, com suástica. Túmulo de tijolo (época romana) encontrado no monte da Fornalha, freguesia de Abação. Capitéis de colunas encontradas não longe do túmulo, na mesma freguesia.
Aos cavalheiros que se dignaram fornecer materiais para o museu arqueológico-numismástico, os snrs. dr. F. Martins Sarmento, dr. José de Freitas Costa, barão de Pombeiro, padre António Afonso de Carvalho, Artur Veiga de Lacerda, Custódio da Costa, José Joaquim de Oliveira, Manuel Joaquim Gonçalves, dr. Eduardo Martins da Costa, Dinis da Costa Santiago, José de Castro Sampaio, dr. Gaspar Leão, Albino Dias Leite, padre Cândido França, Elias da Silva Machado, António Correia de Abreu, Manuel António Dias, Joaquim José Machado Guimarães, dr. Manuel Rebelo de Carvalho, António Montenegro, dr. Francisco Pinheiro Osório, António José Ribeiro, padre Abílio Augusto de Passos, João Baptista Pinto da Cunha, António Maria Rebelo de Magalhães, etc., significámos, em nome da Sociedade, o mais vivo reconhecimento.
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