A Sociedade Martins Sarmento e o projecto para a requalificação do Toural/Alameda
Porque a proposta de intervenção no Toural e na Alameda que se encontra em discussão pública, caso se concretize, irá ter fortes implicações na cidade e na sua imagem, mas também na vida desta Instituição, a Direcção da Sociedade Martins Sarmento entende que ser este o momento adequado para emitir a sua opinião sobre o assunto.
O Toural é uma referência incontornável da cidade, um espaço por onde passou muita da História colectiva vimaranense. Ao longo dos séculos, adquiriu uma dimensão afectiva singular, que dá origem a discussões apaixonadas quando se planeia alguma mudança, mesmo que meramente cosmética. Daí que seja compreensível a intensidade da discussão em curso, a propósito de um anteprojecto de intervenção que, a concretizar-se, resultará na mais profunda e irreversível das mudanças a que esta praça tem sido sujeita.
A Direcção da Sociedade Martins Sarmento entende que o conhecimento disponível sobre o alcance do projecto em discussão é manifestamente insuficiente, por não terem sido feitos ou divulgados estudos prévios essenciais para a sua sustentação, nomeadamente:
- sobre a mobilidade urbana e suburbana de Guimarães e o impacto das alterações propostas na circulação viária em Guimarães e, em especial, nas artérias adjacentes ao Toural;
- sobre as necessidades presentes e futuras de estacionamento na zona a intervir e na sua envolvente (sendo patente que hoje existe uma oferta claramente excedentária de lugares de aparcamento pago em Guimarães);
- sobre a dimensão dos efeitos que o projecto poderá induzir na revitalização do comércio do Centro Histórico;
- sobre o impacto da intervenção proposta n as estruturas dos edifícios centenários que contornam a praça;
- sobre a configuração geológica do terreno;
- sobre a história da praça e dos modos como foi ocupada no passado, de modo a perceber o que se poderá esperar encontrar no seu subsolo.
Uma das principais dúvidas que têm sido levantadas quanto à exequibilidade da obra prende-se com a possibilidade de serem colocados a descoberto no Toural vestígios arqueológicos significativos. Só uma prospecção sistemática do terreno trará resposta a essa dúvida. No entanto, do que se conhece, é possível avançar-se que é mais do que provável a existência de restos arqueológicos importantes no subsolo da praça, nomeadamente os que terão ficado do primitivo convento de S. Domingos, mandado demolir por D. Dinis, em 1323, da antiga Torre de S. Domingos e dos sistemas de condução de água que atravessavam o Toural (entre outras, a conduta que abastecia o Convento das Dominicas e a que levava água ao chafariz do Toural).
Independentemente do que fica dito, resulta evidente que um dos principais problemas que o projecto levanta se prende com a embocadura do túnel que atravessará o Toural, caso o projecto seja concretizado. Até hoje não foi tornada pública qual será a extensão da rampa de acesso ao túnel, mas parece seguro que rasgará a praça na maior parte da sua extensão no sentido Norte/Sul, criando, à imagem do que vemos suceder em outras cidades, um imenso desconforto no uso pedonal da praça e da rua de Paio Galvão e introduzindo uma barreira física que isolará o lado poente do Toural.
No que directamente respeita à Sociedade Martins Sarmento, a solução proposta para a localização da entrada no túnel, ao gerar maior dificuldade no atravessamento pedonal da rua de Paio Galvão, é susceptível de criar sérias limitações no acesso ao edifício da sede desta Instituição e, desde logo, ao seu Museu e à sua Biblioteca, que previsivelmente se passará a fazer com menos segurança, o que levanta especiais preocupações por estarem estão em questão, por exemplo, visitas de grandes grupos escolares.
Em presença da informação disponível, a Direcção da Sociedade Martins Sarmento, não discutindo a necessidade de requalificação do Toural, entende que o projecto que se encontra em discussão pública, além de não parecer capaz de resolver a maior parte dos problemas existentes, é susceptível de acrescentar novos problemas, dificilmente reversíveis. Assim sendo, entende que deve ser procurada uma outra solução para a requalificação da praça, assente em estudos consistentes, nomeadamente no que respeita à mobilidade urbana, que assegure a redução do trânsito automóvel no centro da cidade e que melhore as condições de conforto para utilização pedonal da praça. Atendendo à sensibilidade desta intervenção, a Direcção da Sociedade Martins Sarmento sugere que se pondere a abertura de um concurso de ideias para se procurar a melhor solução para o Toural.
Guimarães, 17 de Março de 2008
A Direcção da Sociedade Martins Sarmento
1 Comments:
Completamente de acordo. Está na hora de levar os cidadãos e as suas instituições a sério. Estou completamente solidário com a esta tomada de posição. Frontal e real, não virtual.
José João Maia
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