Na morte de Irene Vilar
Monumento aos 500 anos do Teatro Português (fotografia do projecto)
Faleceu, no dia 12 de Maio de 2008, a escultora Irene Vilar, que deixa uma importante obra escultórica que se espalhou por quatro continentes. Em Guimarães, existem duas obras de sua autoria, o busto de Abel Salazar e o Monumento aos 500 anos do Teatro Português. Esta última, resultou de uma iniciativa da Sociedade Martins Sarmento, pretendendo celebrar a memória de Gil Vicente e da sua arte. Foi inaugurado no dia 8 de Junho de 2003. A Direcção da Sociedade Martins Sarmento presta homenagem à memória de Irene Vilar, transcrevendo algumas das palavras então proferidas pelo seu Presidente, Santos Simões, a propósito daquele monumento singular:
"Sabíamos que estava posta de parte a ideia de uma estátua por motivos óbvios: o poeta não deixou qualquer rasto da sua figura. Por outro lado, havendo múltiplos elementos ou propostas nos autos vicentinos, eles ou não eram figurativos ou os que o eram representavam um personagem muito marcado (diabo) ou um certo tipo de personagem (lavrador, pastor, fidalgo, etc). E a nossa preocupação era, no essencial, remeter sempre o Monumento para uma leitura em que o Teatro e o homem (actor) fossem elementos centrais. Quando depois de uma aprofundada reflexão a nossa Escultora nos propôs as máscaras, aplaudimos sem reservas a ideia, já que, simultaneamente, sugerem os homens que a afivelam e, ao mesmo tempo, os outros/eus que são os personagens que com elas se identificam.
Por outro lado, as máscaras não se esgotam em si próprias, já que não é absolutamente necessário usá-las para se criar o personagem. Este tem sempre uma máscara diferente, que lhe é dada pela caracterização e pela interpretação do actor. Este é dotado da qualidade suprema de a cada instante ser um mesmo ser com mil máscaras e outros tantos corpos, tantas e tantos quantos os personagens.
A proposta de Irene Vilar só nos surpreendeu pelo que teve de beleza surpreendente no acto criativo. Ao convidá-la, tínhamos a certeza de que algo de muito belo e expressivo ia sair das suas mãos.
No Jardim da Alameda, fazendo contraponto com o Fauno e a Sereia de Mestre António Azevedo, fica uma escultura que sob todos os aspectos tem a ver com a simplicidade do acto da criação de Mestre Gil e o painel imenso dos personagens que ao longo de 500 anos foram criados pela dramaturgia portuguesa.
É, ao mesmo tempo, uma mensagem poética, dada pela leveza dos elementos que a constituem, mas com uma mensagem forte e duradoura, tal como se exige de uma obra de arte.
Agrada também porque, para as crianças, é como um brinquedo de Gulliver no reino de Liliput."
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