Semana Santa | Do acervo da Sociedade Martins Sarmento
A Sociedade Martins Sarmento, no ensejo da Semana Santa, evoca, a partir de objectos e documentos do seu acervo, a narrativa da Paixão de Jesus Cristo. Acontecimento de incontornável expressão na História da Religião Cristã, o tema da Paixão surge, ao longo dos séculos e com significativa recorrência, traduzida de variadas formas, nomeadamente documentais, iconográficas ou simbólicas.
Em Portugal, onde desde a Idade Média se dedica grande atenção ao culto da Cruz, as celebrações em memória da Paixão de Cristo assumem, ainda hoje, particular destaque na cultura portuguesa, quer no domínio religioso quer ao nível das tradições populares.
Com relativa frequência a narrativa da Paixão é reactivada, assistindo-se a variadas manifestações de natureza ritual, simbólica, musical e de representação que procuram retratar os principais momentos da vida de Jesus Cristo, desde a sua entrada triunfal em Jerusalém, passando pela Última Ceia e o lava-pés, pela traição de Judas, pela condenação e pela Via Dolorosa, até à sua morte na Cruz.
No século XVI, Francisco Vaz, padre natural de Guimarães, escreveu um texto de cariz cénico (teatro de cordel) – Auto da Paixão –, amplamente divulgado em variadas edições ao longo do tempo, no qual o autor, numa linguagem singela e a partir dos textos dos quatro Evangelistas, traduz a narrativa da Paixão.
No Fundo Local da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, existe um exemplar do Auto de Francisco Vaz, editado em 1820 e ilustrado com 22 xilogravuras, representando cenas da Paixão de Jesus Cristo. Neste célebre texto da literatura da paixão, escrito em verso e profusamente representado por diversas populações portuguesas, desde o século XVI, assim como também no Brasil e no Oriente, Francisco Vaz relata os últimos dias da vida de Jesus, apresentando personagens e episódios centrais no discurso narrativo da Paixão e Morte de Jesus de Nazaré.
Em Portugal, onde desde a Idade Média se dedica grande atenção ao culto da Cruz, as celebrações em memória da Paixão de Cristo assumem, ainda hoje, particular destaque na cultura portuguesa, quer no domínio religioso quer ao nível das tradições populares.
Com relativa frequência a narrativa da Paixão é reactivada, assistindo-se a variadas manifestações de natureza ritual, simbólica, musical e de representação que procuram retratar os principais momentos da vida de Jesus Cristo, desde a sua entrada triunfal em Jerusalém, passando pela Última Ceia e o lava-pés, pela traição de Judas, pela condenação e pela Via Dolorosa, até à sua morte na Cruz.
No século XVI, Francisco Vaz, padre natural de Guimarães, escreveu um texto de cariz cénico (teatro de cordel) – Auto da Paixão –, amplamente divulgado em variadas edições ao longo do tempo, no qual o autor, numa linguagem singela e a partir dos textos dos quatro Evangelistas, traduz a narrativa da Paixão.
No Fundo Local da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, existe um exemplar do Auto de Francisco Vaz, editado em 1820 e ilustrado com 22 xilogravuras, representando cenas da Paixão de Jesus Cristo. Neste célebre texto da literatura da paixão, escrito em verso e profusamente representado por diversas populações portuguesas, desde o século XVI, assim como também no Brasil e no Oriente, Francisco Vaz relata os últimos dias da vida de Jesus, apresentando personagens e episódios centrais no discurso narrativo da Paixão e Morte de Jesus de Nazaré.
Depois de creados os Ceos e a terra,
oh povo devoto e mui reverendo,
segundo meu fraco saber, que entendo,
com tudo andamos em mui grande guerra.
Da qual victoria em valle encerra,
e não se descobre até descender
o Filho de Deos por nós padecer,
segundo na Sacra Escriptura se encerra.
E porque, movido de gran devoção,
que vós outros tendes em esta historia,
me puz a fazer a sagrada memoria
da mui dolorosa e sentida Paixão.
O Padre Eterno por dar-nos perdão,
(contemple em isto qualquer peccador)
mandou seu Filho por restaurador
do pecado primeiro da humana geração.
Francisco Vaz de Guimarães, Auto da Paixão
oh povo devoto e mui reverendo,
segundo meu fraco saber, que entendo,
com tudo andamos em mui grande guerra.
Da qual victoria em valle encerra,
e não se descobre até descender
o Filho de Deos por nós padecer,
segundo na Sacra Escriptura se encerra.
E porque, movido de gran devoção,
que vós outros tendes em esta historia,
me puz a fazer a sagrada memoria
da mui dolorosa e sentida Paixão.
O Padre Eterno por dar-nos perdão,
(contemple em isto qualquer peccador)
mandou seu Filho por restaurador
do pecado primeiro da humana geração.
Francisco Vaz de Guimarães, Auto da Paixão
Azorrague de oito pontas, em corda entrançada. Séc. [XVIII-XIX?].
Pilat[os]. Em verdade eu porei
meu nome em tão gran perigo,
por vos comprazer farei
que ferillo mandarei de açoutes por seu castigo.
meu nome em tão gran perigo,
por vos comprazer farei
que ferillo mandarei de açoutes por seu castigo.
(...)
Eis o Homem açoutado,
eis o Homem affligido,
eis o Homem accusado,
eis o Homem sem culpa culpado,
eis o Homem descorrido,
dizei ora o que farei?
Dirão todos:
Crucifige, crucifige eum.
Francisco Vaz de Guimarães, Auto da Paixão.
Eis o Homem açoutado,
eis o Homem affligido,
eis o Homem accusado,
eis o Homem sem culpa culpado,
eis o Homem descorrido,
dizei ora o que farei?
Dirão todos:
Crucifige, crucifige eum.
Francisco Vaz de Guimarães, Auto da Paixão.
Jesus Cristo crucificado. Escultura em madeira com decoração incisa. Séc. XX.
Eu Pilatos adiantado,
de Jerusalem Senhor,
com justiça delegado,
com poder e com mandado,
de Cesar Imperador.
Vistas as accusações
de Jesu de Nazareth,
sem mais outras dilações,
e pelas proprias razões,
ou sentença que tal he:
Eu mando que seja alçado
em huma Cruz de madeiro,
com fortes prégos pregado,
e morra crucificado
no mais áspero madeiro.
E o pregão ha de ser
com estes escritos meus:
Justiça que manda fazer
em Jesu por se dizer,
direito Rei dos Judeos.
de Jerusalem Senhor,
com justiça delegado,
com poder e com mandado,
de Cesar Imperador.
Vistas as accusações
de Jesu de Nazareth,
sem mais outras dilações,
e pelas proprias razões,
ou sentença que tal he:
Eu mando que seja alçado
em huma Cruz de madeiro,
com fortes prégos pregado,
e morra crucificado
no mais áspero madeiro.
E o pregão ha de ser
com estes escritos meus:
Justiça que manda fazer
em Jesu por se dizer,
direito Rei dos Judeos.
PREGÃO.
Justiça, justiça de grande rigor,
que manda fazer o muito sereno
Poncio Pilatos, justiça maior,
que morra na Cruz como peccador
crucificado Jesu Nazareno.
Justiça, justiça de grande rigor,
que manda fazer o muito sereno
Poncio Pilatos, justiça maior,
que morra na Cruz como peccador
crucificado Jesu Nazareno.
Francisco Vaz de Guimarães, Auto da Paixão.
A iconografia religiosa, muito presente no imaginário devocional, retrata com especial ênfase o martírio de Jesus Cristo, nomeadamente a Crucificação.
Na Colecção de Etnografia da Sociedade Martins Sarmento, a escultura de origem angolana de Jesus Cristo Crucificado, para além do valor de natureza estético, evidencia a importância do tema da Paixão na liturgia cristã. A escultura, executada no âmbito da produção de objectos de artesanato, a partir de materiais autóctones e dos respectivos referenciais culturais locais, revela a influência missionária portuguesa no antigo território ultramarino.
Por seu lado, o Azorrague, objecto de penitência usado com o propósito de associar o sacrifício pessoal ao da Paixão, especialmente aos açoites infligidos a Jesus Cristo, lembra o martírio e flagelação de Jesus Cristo até à sua morte na Cruz.
Na tradição cristã, a morte de Jesus Cristo não é um fim, mas o caminho para uma nova vida, comemorada no dia de Páscoa, com a Ressurreição.
A celebração da Páscoa é um momento de remota origem e significação diversa. Para as civilizações antigas pagãs, simbolizava a passagem do Inverno para a Primavera; para os judeus, é lembrança da libertação do povo hebreu do Egipto; para os cristãos assinala a importância da Ressurreição de Jesus para a salvação da humanidade e com o fenómeno da secularização das sociedades, espelha significados de natureza material. No entanto, ainda que sujeita a diversos processos de resignificação, ao longo dos séculos, a festividade da Páscoa liga-se com o sentimento da esperança e com a crença numa nova era.
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