Coleção de Notafilia da SMS | Cédulas Alemãs oferecidas por Johannes Minnemann
Nos finais de 1978, foi a Secção de Notafilia da Sociedade Martins Sarmento enriquecida com a oferta de uma interessante colecção composta por 350 Cédulas Alemãs, do período 1921-1922.
Foi uma oferta do Senhor Johannes Minnemann, cidadão alemão, há muitos anos, radicado em Portugal e residente na cidade do Porto.
As cédulas oferecidas pertencem, segundo os estudos do grande especialista alemão da matéria, Dr. Arnold Keller, ao período classificado CÉDULAS DE SÉRIE 1916-1922. Sobre estas cédulas e o seu período, um dos mais importantes, quer em quantidades emitidas, quer em qualidade artística e documental, nos iremos, em seguida, ocupar.
«As Cédulas e o seu Tempo»
À semelhança de muitos outros Países, entre os quais se conta Portugal, também a Alemanha, nos primeiros decénios deste século, teve necessidade de emitir papel moeda de emergência (Notgeld) para acudir à falta de trocos, que, por várias vezes, a apoquentou. Pode-se afirmar que, salvo alguns intervalos, o recurso à emissão de cédulas foi uma constante durante mais de 34 conturbados anos, ou seja, desde o início da I Grande Guerra até à reforma financeira de 1948.
As primeiras cédulas foram postas em circulação nalgumas regiões da Alemanha, em 1914, ao eclodir a I Grande Guerra. Esta anomalia foi-se regularizando, lentamente, e parecia em 1916 quase normalizada, quando, de repente, e com grande intensidade, se começou a agudizar a falta de trocos. Esta situação poderia, de início, ser facilmente remediada, como certos peritos financeiros sugeriram, com o lançamento pelo Banco Imperial (Reichsbank) de cédulas ou mesmo moedas de cartão, como então estava a fazer a Rússia Czarista. Estas sugestões não foram aceites e as entidades oficiais teimaram em resolver o problema recorrendo unicamente às emissões metálicas. Como era de prever, tal não conseguiram, perdendo, dentro em breve e, por completo, o domínio da situação.
Assim, e durante 6 anos, assistiu-se, primeiro lentamente, depois em ritmo alucinante, a uma avalanche de emissões de cédulas por parte de Cidades, Aldeias, Associações, Caixas Económicas, Firmas Comerciais, etc. O aparecimento, a partir do fim da I Grande Guerra, de numerosos e ávidos coleccionadores foi o principal motivo desta avalanche incontrolável. Por essa altura, e face à grande procura de cédulas, por parte dos coleccionadores, as autoridades locais, explorando a situação, começaram a prestar mais atenção ao aspecto artístico destas.
Assistiu-se, então, a uma verdadeira competição entre as diversas entidades emissoras, procurando cada uma delas apresentar as mais belas e sugestivas cédulas. Artistas de nomeada foram muitas vezes encarregados da execução dos belíssimos desenhos que, na sua maioria, as cédulas deste período ostentam.
Os monumentos, a história local, os trajes, os costumes, a paisagem, as figuras históricas e literárias, a indústria, o comércio, a agricultura, etc. numa diversificação fabulosa, em desenhos admiráveis, a maior parte belamente coloridos, são os motivos principais que ilustram estas cédulas. Entretanto, o número de coleccionadores crescia
a olhos vistos, sendo a procura maior do que a oferta. As cédulas deixaram, então, de ter o destino inicialmente previsto, que era o de suprir a falta de trocos e, tornaram-se num campo de coleccionismo.
Em 1921, atingiu-se o auge, surgindo então o oportunismo e a especulação.
Associações, Clubes, Autoridades locais, etc. procuraram melhorar as finanças, recorrendo à emissão de cada vez mais numerosas e variadas séries de cédulas, chegando-se ao ponto de, particulares, arrematarem a algumas autoridades locais o direito de emissão de cédulas dessas localidades.
Muitas cédulas que, de início tinham um prazo de validade dentro do qual podiam ser trocadas por dinheiro legal, deixaram de o ter, pelo que o possuidor nunca mais era reembolsado, o que se traduzia por um lucro total para as tesourarias. Esta situação não podia, de maneira alguma, continuar e por toda a Alemanha começaram a surgir, por parte da população, já saturada, os protestos contra tal anarquia. Com tal intensidade o fizeram que o Governo, até então apático, reagiu, proibindo por decreto de 17 de Julho de 1922 e sob risco de pesadas penas, a emissão de mais cédulas.
Foi, porém, sol de pouca dura; semanas depois, novos e terríveis problemas financeiros se abatem sobre a Alemanha, na forma de uma inflacção galopante, com as suas emissões sucessivas de notas e cédulas com valores de milhares, milhões e biliões de Marcos.
Com a subida ao poder do Nacional-Socialismo a situação financeira normalizou-se, mas o espectro da II Grande Guerra começava já a surgir no horizonte. Com o início do conflito o interesse pelas cédulas foi diminuindo, chegando quase a desaparecer.
Hoje em dia, mais de 35 anos passados sobre o fim do trágico conflito, e como que acordando de um sono profundo, o interesse por esses pequenos rectângulos de papel ressurge da parte de novos coleccionadores e estudiosos destas maravilhosas cédulas, que recordam, quais novas iluminuras, pedaços da história e das tradições da grande nação alemã.
in As Cédulas Alemãs do Museu Martins Sarmento, Guimarães, 1980
Foi uma oferta do Senhor Johannes Minnemann, cidadão alemão, há muitos anos, radicado em Portugal e residente na cidade do Porto.
As cédulas oferecidas pertencem, segundo os estudos do grande especialista alemão da matéria, Dr. Arnold Keller, ao período classificado CÉDULAS DE SÉRIE 1916-1922. Sobre estas cédulas e o seu período, um dos mais importantes, quer em quantidades emitidas, quer em qualidade artística e documental, nos iremos, em seguida, ocupar.
«As Cédulas e o seu Tempo»
À semelhança de muitos outros Países, entre os quais se conta Portugal, também a Alemanha, nos primeiros decénios deste século, teve necessidade de emitir papel moeda de emergência (Notgeld) para acudir à falta de trocos, que, por várias vezes, a apoquentou. Pode-se afirmar que, salvo alguns intervalos, o recurso à emissão de cédulas foi uma constante durante mais de 34 conturbados anos, ou seja, desde o início da I Grande Guerra até à reforma financeira de 1948.
As primeiras cédulas foram postas em circulação nalgumas regiões da Alemanha, em 1914, ao eclodir a I Grande Guerra. Esta anomalia foi-se regularizando, lentamente, e parecia em 1916 quase normalizada, quando, de repente, e com grande intensidade, se começou a agudizar a falta de trocos. Esta situação poderia, de início, ser facilmente remediada, como certos peritos financeiros sugeriram, com o lançamento pelo Banco Imperial (Reichsbank) de cédulas ou mesmo moedas de cartão, como então estava a fazer a Rússia Czarista. Estas sugestões não foram aceites e as entidades oficiais teimaram em resolver o problema recorrendo unicamente às emissões metálicas. Como era de prever, tal não conseguiram, perdendo, dentro em breve e, por completo, o domínio da situação.
Assim, e durante 6 anos, assistiu-se, primeiro lentamente, depois em ritmo alucinante, a uma avalanche de emissões de cédulas por parte de Cidades, Aldeias, Associações, Caixas Económicas, Firmas Comerciais, etc. O aparecimento, a partir do fim da I Grande Guerra, de numerosos e ávidos coleccionadores foi o principal motivo desta avalanche incontrolável. Por essa altura, e face à grande procura de cédulas, por parte dos coleccionadores, as autoridades locais, explorando a situação, começaram a prestar mais atenção ao aspecto artístico destas.
Assistiu-se, então, a uma verdadeira competição entre as diversas entidades emissoras, procurando cada uma delas apresentar as mais belas e sugestivas cédulas. Artistas de nomeada foram muitas vezes encarregados da execução dos belíssimos desenhos que, na sua maioria, as cédulas deste período ostentam.
Os monumentos, a história local, os trajes, os costumes, a paisagem, as figuras históricas e literárias, a indústria, o comércio, a agricultura, etc. numa diversificação fabulosa, em desenhos admiráveis, a maior parte belamente coloridos, são os motivos principais que ilustram estas cédulas. Entretanto, o número de coleccionadores crescia
a olhos vistos, sendo a procura maior do que a oferta. As cédulas deixaram, então, de ter o destino inicialmente previsto, que era o de suprir a falta de trocos e, tornaram-se num campo de coleccionismo.
Em 1921, atingiu-se o auge, surgindo então o oportunismo e a especulação.
Associações, Clubes, Autoridades locais, etc. procuraram melhorar as finanças, recorrendo à emissão de cada vez mais numerosas e variadas séries de cédulas, chegando-se ao ponto de, particulares, arrematarem a algumas autoridades locais o direito de emissão de cédulas dessas localidades.
Muitas cédulas que, de início tinham um prazo de validade dentro do qual podiam ser trocadas por dinheiro legal, deixaram de o ter, pelo que o possuidor nunca mais era reembolsado, o que se traduzia por um lucro total para as tesourarias. Esta situação não podia, de maneira alguma, continuar e por toda a Alemanha começaram a surgir, por parte da população, já saturada, os protestos contra tal anarquia. Com tal intensidade o fizeram que o Governo, até então apático, reagiu, proibindo por decreto de 17 de Julho de 1922 e sob risco de pesadas penas, a emissão de mais cédulas.
Foi, porém, sol de pouca dura; semanas depois, novos e terríveis problemas financeiros se abatem sobre a Alemanha, na forma de uma inflacção galopante, com as suas emissões sucessivas de notas e cédulas com valores de milhares, milhões e biliões de Marcos.
Com a subida ao poder do Nacional-Socialismo a situação financeira normalizou-se, mas o espectro da II Grande Guerra começava já a surgir no horizonte. Com o início do conflito o interesse pelas cédulas foi diminuindo, chegando quase a desaparecer.
Hoje em dia, mais de 35 anos passados sobre o fim do trágico conflito, e como que acordando de um sono profundo, o interesse por esses pequenos rectângulos de papel ressurge da parte de novos coleccionadores e estudiosos destas maravilhosas cédulas, que recordam, quais novas iluminuras, pedaços da história e das tradições da grande nação alemã.
in As Cédulas Alemãs do Museu Martins Sarmento, Guimarães, 1980
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