17 abril, 2020

Coleção de Notafilia da SMS | Cédulas Alemãs oferecidas por Johannes Minnemann


Nos finais de 1978, foi a Secção de Notafilia da Sociedade Martins Sarmento enriquecida com a oferta de uma interessante colecção composta por 350 Cédulas Alemãs, do período 1921-1922.

Foi uma oferta do Senhor Johannes Minnemann, cidadão alemão, há muitos anos, radicado em Portugal e residente na cidade do Porto.

As cédulas oferecidas pertencem, segundo os estudos do grande especialista alemão da matéria, Dr. Arnold Keller, ao período classificado CÉDULAS DE SÉRIE 1916-1922. Sobre estas cédulas e o seu período, um dos mais importantes, quer em quantidades emitidas, quer em qualidade artística e documental, nos iremos, em seguida, ocupar.


«As Cédulas e o seu Tempo»

À semelhança de muitos outros Países, entre os quais se conta Portugal, também a Alemanha, nos primeiros decénios deste século, teve necessidade de emitir papel moeda de emergência (Notgeld) para acudir à falta de trocos, que, por várias vezes, a apoquentou. Pode-se afirmar que, salvo alguns intervalos, o recurso à emissão de cédulas foi uma constante durante mais de 34 conturbados anos, ou seja, desde o início da I Grande Guerra até à reforma financeira de 1948.

As primeiras cédulas foram postas em circulação nalgumas regiões da Alemanha, em 1914, ao eclodir a I Grande Guerra. Esta anomalia foi-se regularizando, lentamente, e parecia em 1916 quase normalizada, quando, de repente, e com grande intensidade, se começou a agudizar a falta de trocos. Esta situação poderia, de início, ser facilmente remediada, como certos peritos financeiros sugeriram, com o lançamento pelo Banco Imperial (Reichsbank) de cédulas ou mesmo moedas de cartão, como então estava a fazer a Rússia Czarista. Estas sugestões não foram aceites e as entidades oficiais teimaram em resolver o problema recorrendo unicamente às emissões metálicas. Como era de prever, tal não conseguiram, perdendo, dentro em breve e, por completo, o domínio da situação.

Assim, e durante 6 anos, assistiu-se, primeiro lentamente, depois em ritmo alucinante, a uma avalanche de emissões de cédulas por parte de Cidades, Aldeias, Associações, Caixas Económicas, Firmas Comerciais, etc. O aparecimento, a partir do fim da I Grande Guerra, de numerosos e ávidos coleccionadores foi o principal motivo desta avalanche incontrolável. Por essa altura, e face à grande procura de cédulas, por parte dos coleccionadores, as autoridades locais, explorando a situação, começaram a prestar mais atenção ao aspecto artístico destas.

Assistiu-se, então, a uma verdadeira competição entre as diversas entidades emissoras, procurando cada uma delas apresentar as mais belas e sugestivas cédulas. Artistas de nomeada foram muitas vezes encarregados da execução dos belíssimos desenhos que, na sua maioria, as cédulas deste período ostentam.

Os monumentos, a história local, os trajes, os costumes, a paisagem, as figuras históricas e literárias, a indústria, o comércio, a agricultura, etc. numa diversificação fabulosa, em desenhos admiráveis, a maior parte belamente coloridos, são os motivos principais que ilustram estas cédulas. Entretanto, o número de coleccionadores crescia

a olhos vistos, sendo a procura maior do que a oferta. As cédulas deixaram, então, de ter o destino inicialmente previsto, que era o de suprir a falta de trocos e, tornaram-se num campo de coleccionismo.

Em 1921, atingiu-se o auge, surgindo então o oportunismo e a especulação.

Associações, Clubes, Autoridades locais, etc. procuraram melhorar as finanças, recorrendo à emissão de cada vez mais numerosas e variadas séries de cédulas, chegando-se ao ponto de, particulares, arrematarem a algumas autoridades locais o direito de emissão de cédulas dessas localidades.

Muitas cédulas que, de início tinham um prazo de validade dentro do qual podiam ser trocadas por dinheiro legal, deixaram de o ter, pelo que o possuidor nunca mais era reembolsado, o que se traduzia por um lucro total para as tesourarias. Esta situação não podia, de maneira alguma, continuar e por toda a Alemanha começaram a surgir, por parte da população, já saturada, os protestos contra tal anarquia. Com tal intensidade o fizeram que o Governo, até então apático, reagiu, proibindo por decreto de 17 de Julho de 1922 e sob risco de pesadas penas, a emissão de mais cédulas.

Foi, porém, sol de pouca dura; semanas depois, novos e terríveis problemas financeiros se abatem sobre a Alemanha, na forma de uma inflacção galopante, com as suas emissões sucessivas de notas e cédulas com valores de milhares, milhões e biliões de Marcos.

Com a subida ao poder do Nacional-Socialismo a situação financeira normalizou-se, mas o espectro da II Grande Guerra começava já a surgir no horizonte. Com o início do conflito o interesse pelas cédulas foi diminuindo, chegando quase a desaparecer.

Hoje em dia, mais de 35 anos passados sobre o fim do trágico conflito, e como que acordando de um sono profundo, o interesse por esses pequenos rectângulos de papel ressurge da parte de novos coleccionadores e estudiosos destas maravilhosas cédulas, que recordam, quais novas iluminuras, pedaços da história e das tradições da grande nação alemã.


in As Cédulas Alemãs do Museu Martins Sarmento, Guimarães, 1980

publicado por SMS às 13:16

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