25 de Abril | 46 anos
Atravessando um tempo de situações contraditórias em que um futuro livre se tem de alimentar com a luta pela própria vida, travada em assumidas restrições da liberdade, assinalamos, também de forma diferente, a passagem dos 46 anos da Revolução do “25 de Abril”.
No já algo distante ano de 1974, a Sociedade Martins Sarmento sentiu - ela própria - os “Ventos da História” e percebeu como eles lhe traziam outras vastidões e exigências.
Na primeira publicação da Revista de Guimarães após o “25 de Abril”, a Direcção, saudando o Movimento das Forças Armadas, logo manifestou essa consciência de responsabilidades acrescidas e de novos desafios que se lhe colocavam.
Do texto editorial então divulgado, respigam-se as seguintes passagens:
Esse movimento, que se colocou desde a primeira hora exclusivamente ao serviço do povo português, tem de ser saudado entusiasticamente pelas redobradas esperanças que abre a esta velha nação de oito séculos que se deseja mais consciencializada e mais culta, virada ao futuro sem qualquer espécie de restrição.
(...)
A queda do regime anterior, escusado será referir, que em nada veio prejudicar a «Revista de Guimarães», bem pelo contrário.
Ao afirmar-se a garantia de uma autêntica liberdade de expressão, ao eliminarem-se formas de compromisso, melhor nos sentimos possuídos de uma nova dimensão, mais do que isso de uma remoçada dignidade, sem as quais não é possível fazer cultura genuinamente verdadeira e universal.
(...)
É a razão porque a «Revista de Guimarães» pelo trabalho dos seus organizadores e certamente dos seus colaboradores, mais do que nunca, sente que tem de continuar o seu já longo caminho ao serviço e expansão da cultura portuguesa, admitindo, sem reservas, que a viragem política verificada em 25 de Abril, consubstanciada no indiscutível programa do M F A, ao rasgar os horizontes apetecidos de uma sociedade democrática, abre ao mesmo tempo novas e mais brilhantes perspectivas à investigação em Portugal.
E, dedicar, como convém e é urgente, melhor atenção ao ensino e à cultura do povo, sem quaisquer limitações, facilitando e alargando o intercâmbio com os meios mais evoluídos e progressistas dos vários continentes, que agora se nos abrem, é política que desejamos e na qual depositamos as mais fundadas esperanças.
No já algo distante ano de 1974, a Sociedade Martins Sarmento sentiu - ela própria - os “Ventos da História” e percebeu como eles lhe traziam outras vastidões e exigências.
Na primeira publicação da Revista de Guimarães após o “25 de Abril”, a Direcção, saudando o Movimento das Forças Armadas, logo manifestou essa consciência de responsabilidades acrescidas e de novos desafios que se lhe colocavam.
Do texto editorial então divulgado, respigam-se as seguintes passagens:
25 de Abril
É este o primeiro número da «Revista de Guimarães» que sai do prelo, depois do movimento vitorioso das forças armadas que derrubaram o regime anterior.
Esse movimento, que se colocou desde a primeira hora exclusivamente ao serviço do povo português, tem de ser saudado entusiasticamente pelas redobradas esperanças que abre a esta velha nação de oito séculos que se deseja mais consciencializada e mais culta, virada ao futuro sem qualquer espécie de restrição.
A queda do regime anterior, escusado será referir, que em nada veio prejudicar a «Revista de Guimarães», bem pelo contrário.
Ao afirmar-se a garantia de uma autêntica liberdade de expressão, ao eliminarem-se formas de compromisso, melhor nos sentimos possuídos de uma nova dimensão, mais do que isso de uma remoçada dignidade, sem as quais não é possível fazer cultura genuinamente verdadeira e universal.
(...)
É a razão porque a «Revista de Guimarães» pelo trabalho dos seus organizadores e certamente dos seus colaboradores, mais do que nunca, sente que tem de continuar o seu já longo caminho ao serviço e expansão da cultura portuguesa, admitindo, sem reservas, que a viragem política verificada em 25 de Abril, consubstanciada no indiscutível programa do M F A, ao rasgar os horizontes apetecidos de uma sociedade democrática, abre ao mesmo tempo novas e mais brilhantes perspectivas à investigação em Portugal.
E, dedicar, como convém e é urgente, melhor atenção ao ensino e à cultura do povo, sem quaisquer limitações, facilitando e alargando o intercâmbio com os meios mais evoluídos e progressistas dos vários continentes, que agora se nos abrem, é política que desejamos e na qual depositamos as mais fundadas esperanças.
Guimarães, 6 de Dezembro de 1974.
Verdadeiramente, a Revista de Guimarães - que entretanto já vai para 136 anos de existência - permanece como uma referência cultural, firme a promover o estudo e investigação e a partilha do conhecimento. É essa a sua tradição histórica, o seu papel libertador, e, por isso, fica bem associá-la a esta data em que, renovadamente, se afirma a Liberdade.
E fica bem, representando nele, de uma forma simbólica, todos quantos, ao longo destes já muitos anos, dirigiram e trabalharam a Revista de Guimarães, recordar a figura, visceralmente livre, de Eduardo de Almeida que, por há cerca de 100 anos atrás, se distinguiu na condução dos destinos por esse tempo incertos da Sociedade Martins Sarmento e da Revista de Guimarães que então ressurgiu sob o seu impulso e esforço abnegado.
A História e a Vida são feitas de muitas construções. A História da Sociedade Martins Sarmento e da sua Revista chega a 1974 e ao “25 de Abril” e não fica, como se viu, sobressaltada. Sente-se - isso sim, e como se sente em 2020 - liberta e revigorada. Por isso em nada se estranhará que, a par da efeméride e do que foi na altura o sentimento da sua Direcção, a SMS, desprezando o insólito do tempo, releve hoje Eduardo de Almeida e nele todos os construtores da ideia libertadora desta Instituição que, como Guimarães, tem na sua matriz desígnios de progresso e de promoção da cultura e da ciência.
Na sua vida pública, Eduardo de Almeida destacou-se como defensor dos direitos e liberdades, de cada um sem distinção. Na Assembleia Nacional Constituinte de 1911, de que fez parte, não se distinguiu propriamente pelo alinhamento com as teses vencedoras, nomeadamente quando defendeu o sufrágio universal incluindo as mulheres, direito que acabou por ficar condicionado à prevalência de caminhos mais conservadores. Em 1918, oito anos depois da aprovação da primeira lei do divórcio em Portugal, Eduardo de Almeida ofereceu ao Orfeon de Guimarães, que comemorava um ano de existência, um “episódio dramático” intitulado “O Marido”, que é um curioso apontamento de como um instituto “libertador” pode, afinal, revelar-se adequado a suportar as mais arreigadamente tradicionalistas estruturas sociais. Em “O Marido”, que poderia também chamar-se “História de um divórcio”, Eduardo d’Almeida revela-nos um protagonista inesperado para a morte de um casamento em que os supostos sujeitos são afinal comparsas.
Neste “25 de Abril”, olhe as páginas de Eduardo d’Almeida e festeje a Liberdade com uma reflexão sobre o que - em novas formas - permanece ainda entre nós a convocar mais tensões e caminhos renovados.
E fica bem, representando nele, de uma forma simbólica, todos quantos, ao longo destes já muitos anos, dirigiram e trabalharam a Revista de Guimarães, recordar a figura, visceralmente livre, de Eduardo de Almeida que, por há cerca de 100 anos atrás, se distinguiu na condução dos destinos por esse tempo incertos da Sociedade Martins Sarmento e da Revista de Guimarães que então ressurgiu sob o seu impulso e esforço abnegado.
A História e a Vida são feitas de muitas construções. A História da Sociedade Martins Sarmento e da sua Revista chega a 1974 e ao “25 de Abril” e não fica, como se viu, sobressaltada. Sente-se - isso sim, e como se sente em 2020 - liberta e revigorada. Por isso em nada se estranhará que, a par da efeméride e do que foi na altura o sentimento da sua Direcção, a SMS, desprezando o insólito do tempo, releve hoje Eduardo de Almeida e nele todos os construtores da ideia libertadora desta Instituição que, como Guimarães, tem na sua matriz desígnios de progresso e de promoção da cultura e da ciência.
Na sua vida pública, Eduardo de Almeida destacou-se como defensor dos direitos e liberdades, de cada um sem distinção. Na Assembleia Nacional Constituinte de 1911, de que fez parte, não se distinguiu propriamente pelo alinhamento com as teses vencedoras, nomeadamente quando defendeu o sufrágio universal incluindo as mulheres, direito que acabou por ficar condicionado à prevalência de caminhos mais conservadores. Em 1918, oito anos depois da aprovação da primeira lei do divórcio em Portugal, Eduardo de Almeida ofereceu ao Orfeon de Guimarães, que comemorava um ano de existência, um “episódio dramático” intitulado “O Marido”, que é um curioso apontamento de como um instituto “libertador” pode, afinal, revelar-se adequado a suportar as mais arreigadamente tradicionalistas estruturas sociais. Em “O Marido”, que poderia também chamar-se “História de um divórcio”, Eduardo d’Almeida revela-nos um protagonista inesperado para a morte de um casamento em que os supostos sujeitos são afinal comparsas.
Neste “25 de Abril”, olhe as páginas de Eduardo d’Almeida e festeje a Liberdade com uma reflexão sobre o que - em novas formas - permanece ainda entre nós a convocar mais tensões e caminhos renovados.
25 de Abril de 2020
A Direcção da SMS
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