A colecção de gravuras da Sociedade Martins Sarmento
Uma gravura é um objecto de arte.
Tempos houve em que uma gravura era também uma valiosa fonte de informação. Num tempo em que o conhecimento das realidades distantes era essencialmente transmitido através de relatos verbalizados, a multiplicação das imagens através dos diferentes processos de reprodução, a partir de matrizes gravadas em madeira ou em metal, permitiu iniciar a massificação do conhecimento visual do mundo e dos seus protagonistas. As gravuras, mais do que objectos de criação e fruição artística, foram, durante séculos, os mediadores entre o observador e a realidade observada, permitindo ao súbdito conhecer o rosto do seu rei, ao homem do campo espreitar a cidade, aos que nunca saíram da terra que os viu nascer vislumbrarem outros mundos, outros homens, outros costumes.
O advento da fotografia e dos processos de reprodução e difusão de imagens que lhe sucederam retiraram à gravura o seu papel de ilustração do mundo, perdendo definitivamente a função de reportar a actualidade. Saindo do espaço do homem comum, a gravura passou para o território do esquecimento, mas continua a ser uma fonte inesgotável de conhecimento do passado.
A Sociedade Martins Sarmento dispõe de um dos mais importantes acervos de gravuras antigas de Portugal. Na sua origem, está um legado de Francisco Martins Sarmento, que adquiriu, com o propósito de a oferecer à SMS, a colecção particular do historiador de arte Joaquim de Vasconcelos, composta por um conjunto de aproximadamente 1600 estampas de gravuras sobre madeira e sobre metal. Actualmente integra mais de 2500 estampas.
Daquelas cujas datas de impressão estão estabelecidas, sabe-se que as mais antigas remontam a finais do século XVI, e que, do conjunto, mais de sete dezenas foram produzidas durante o século XVII e mais de meio milhar ao longo do XVIII. O período mais representado na colecção cobre os finais do século XVIII e as primeiras décadas do XIX.
A iconografia presente nesta colecção cobre as mais diversas áreas, que vão desde dos assuntos religiosos aos políticos, da história à ciência, dos costumes à heráldica, incluindo uma extensa galeria de retratos. A temática religiosa ocupa largo espaço nesta colecção, tanto pela dimensão, como pela variedade. Nela se encontram mais de trezentas imagens da Nossa Senhora, para cima de centena e meia de estampas com a representação de Jesus Cristo, cerca de duzentos santos diferentes. É também muito significativo o rol de estampas representando os reis de Portugal (Afonso Henriques, por exemplo, aparece em 26 estampas).
O período histórico melhor representado nesta colecção é o dos tempos conturbados das primeiras décadas do século XIX, com diversas gravuras relativas às Invasões Francesas e ao embarque da família real para o Brasil, à revolução liberal, à Constituição de 1822, e diversos retratos de figuras em destaque nesse período, como Beresford, o duque de Wellington (10 estampas), D. João VI (30), Carlota Joaquina (10), D. Miguel (18) ou D. Pedro IV (14).
Neste acervo estão representados todos os grandes gravadores portugueses e estrangeiros que trabalharam em Portugal, para além de um número significativo de gravadores europeus de renome.
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