Citânia Viva - Aspectos da recriação
Preparativos para ritual fúnebre
Durante as duas visitas animadas efectuadas durante a "Citânia Viva", os cerca de 50 figurantes que participaram no evento recriaram algumas actividades quotidianas das comunidades castrejas. As actividades, à semelhança do evento de 2007, foram encenadas por Gil Filipe, e os participantes são voluntários naturais de Briteiros e arredores.
3 Comments:
Antes de mais, parabéns por estas iniciativas sobre a vida dos nossos antepassados.
No entanto, gostava que me explicassem se há algum facto histórico/científico que justifique a presença de um "bobo", em plena idade do ferro.
Quanto às roupas, não seria de esperar que fossem semelhantes às dos celtas atlânticos? (tendo os autores clássicos identificado estes povos como idênticos aos dos outros celtas)
A presença do bobo D. Vivas nesta recriação justificou-se, por um lado, pelo facto histórico da associação de Alexandre Herculano à investigação das origens. Herculano e Martins Sarmento mantiveram correspondência relacionada com a investigação dos castros. Deste modo, a integração de uma personagem de Herculano nesta encenação surge assim como uma forma de referência e homenagem. Por outro lado, era importante que o cicerone da visita animada fosse uma personagem neutra, e que, tendo que dialogar com os visitantes, não poderia ser um figurante "castrejo", (estes não falaram durante toda a actividade). Além disso, o "bobo" é, de certa forma, uma figura intemporal.
Quanto às roupas, a esperada semelhança com os "celtas atlânticos" que refere, é muito pouco consensual entre os arqueólogos. Na verdade, os habitantes da Citânia não eram Celtas, quando muito podem ter sofrido influências dos mesmos. Os adereços da Citânia Viva foram elaborados tendo em conta fontes o mais fidedignas possível, nomeadamente: as descrições de Estrabão e a estatuária e arte rupestre da Idade do Ferro. Tudo leva a crer que a indumentária dos guerreiros do Noroeste da Península Ibérica seria bastante característica, e fruto talvez de uma cultura endógena.
Esperamos ter esclarecido as questões que suscitou.
Conforme se pode verificar no site
http://www.andrepena.org/publicacions/guerreiros-galaicos.htm
há inúmeras estátuas de guerreiros adornados com motivos puramente celtas, muito semelhantes ao padrão encontrado nas ilhas britâncias. Os trisqueis, rosetas, nós e entrançado encontrados no património arqueológico do noroeste peninsular, aponta também para essa "celticidade". Aliás, houve até um autor que afirmou que, caso se transportasse essas pedras para a Irlanda, ninguém iria notar a diferença.
Convém lembrar também que Estrabão nunca esteve na Península Ibérica e os seus textos devem ser interpretados com uma grande dose de propaganda romana. Afinal foram os romanos que descreveram como "bárbaros" todas as tribos célticas da europa. Hoje sabe-se que, em muitos aspectos essas tribos eram mais civilizadas que os romanos.
Posso estar enganado, mas além de uma herança importantíssima legada por Martins Sarmento, foi-nos também transmitida uma grande dose de anti-celtismo para justificar uma inexistente homogeneidade dos nossos antepassados. O noroeste peninsular detêm traços únicos que a destinguem do resto da península. Admitir isto é deitar por terra a legitimidade das "nações" Portuguesa e Espanhola. E Martins Sarmento, além de um apaixonado pela arqueologia, era antes de mais, um grande patriota.
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