Dia da Arqueologia, 24 de Julho de 2020
Intervenção arqueológica no antigo convento de São Domingos, núcleo central do Museu Martins Sarmento
Assinala-se
hoje o Dia da Arqueologia e a Sociedade Martins Sarmento aproveita esta
efeméride para divulgar, de forma preliminar, os resultados dos
trabalhos arqueológicos que foram recentemente realizados no antigo
convento de São Domingos. Aqui se localiza, desde os finais do século
XIX, o núcleo central do nosso Museu Arqueológico, criado ainda por ação
direta de Francisco Martins Sarmento.
A intervenção
no claustro insere-se no conjunto de obras de melhoramento que têm vindo
a ser realizadas no espaço do Museu, começando pelas reparações
efetuadas em 2019 no piso superior, com restauro de soalhos, tetos e
paredes e, agora, com a intervenção próxima no piso inferior, com
consolidação da arcaria Norte do claustro, regularização e reposição do
pavimento nas três alas cobertas e arranjo nas paredes interiores.
Sendo
este antigo claustro uma pérola da arquitetura gótica no Norte de
Portugal e sendo classificado como Monumento Nacional desde 1910, a SMS
propôs à Direção Geral do Património Cultural um conjunto de medidas de
minimização do impacto das obras no piso inferior, correspondente à fase
original do claustro medieval. Estas medidas incluíram a realização de
sondagens arqueológicas até à profundidade a afetar pelas obras nos
pavimentos, o registo dos paramentos do claustro e escadaria do convento
e o acompanhamento arqueológico das obras. A intervenção está a ser
garantida pela equipa da SMS.
Nesta fase,
realizaram-se já os registos prévios, prevendo-se o acompanhamento após o
início das obras, o que deverá acontecer dentro de alguns dias.
Tendo
abrangido apenas a profundidade (30cm) que será atingida pelos
trabalhos de regularização do piso nas alas cobertas do claustro, as
três valas de escavação abertas não atingiram níveis arqueológicos
selados, mas apenas camadas de revolvimento formadas sensivelmente nos
últimos cem anos. Consequentemente, os vestígios detetados não são
historicamente relevantes, com um registo marcado por muitos materiais
recentes, como telha, tijolo, pregos em ferro e fragmentos de cimento.
No entanto, por entre vários vestígios de um passado recente, foram
recolhidos pequenos pedaços de peças mais antigas, como louças
características da Idade Moderna, incluindo faiança e azulejo e mesmo
alguns raros fragmentos de cerâmica medieval, do período fundacional do
convento. Alguns vestígios osteológicos detetados estavam também
descontextualizados nestas camadas recentes.
Mais
interessante foi o registo dos paramentos visíveis, que permitiram
ensaiar um faseamento da construção do edifício, particularmente na sua
fase fundacional, os finais do século XIV. Com efeito, depois da
demolição, por ordem de D. Dinis, do primitivo convento de São Domingos,
localizado junto da muralha medieval de Guimarães, o cenóbio foi
reedificado neste local a partir de 1375. Foi posteriormente a esta data
que se edificaram os quatro lanços de arcaria do claustro, com os seus
formosos capiteis, nos quais se supõe a intervenção dos artesãos que
trabalhavam então no centro e sul do país.
Esta
adequação artística aos padrões arquitetónicos do início da dinastia de
Avis é visível não apenas nas arcarias, mas também na localização e
acesso ao que seria a sala do capítulo, localizada a leste do claustro
(e a norte da igreja), para o qual abria através de um grande arco em
ogiva, ladeado por dois janelões igualmente ogivais. Uma solução
idêntica, numa escala mais pequena, à da entrada da sala do capítulo do
célebre mosteiro da Batalha, obra sensivelmente contemporânea desta fase
do convento vimaranense. Do espaço original do capítulo pouco restará,
embora se tenha também registado um provável arcossólio gótico que terá
pertencido a este compartimento na fase medieval.
A
sala do capítulo medieval deu, na Idade Moderna, lugar à escadaria que
se conserva, dando acesso a um primeiro andar provavelmente criado nesta
época. A escadaria dava também acesso a uma capela, atualmente
inexistente, mas que integrava o convento, de Nossa Senhora das
Angústias, cujo arco de acesso se conserva. Esta reforma moderna, que
amortizou a antiga sala do capítulo, permitiu ao mesmo tempo a
conservação dos elementos góticos da entrada do espaço mais nobre do
convento medieval.
O acompanhamento
arqueológico das obras no piso inferior do claustro, bem como um estudo
mais detalhado dos materiais recolhidos, poderão revelar novas
informações.
As obras a realizar no piso inferior irão
permitir uma reformulação do percurso expositivo do nosso Museu
Arqueológico, bem como uma visita mais cómoda ao espaço.
A comemoração do Dia da Arqueologia prosseguirá com uma exposição evocativa de Luís de Pina, que abrirá na próxima semana.
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