Coleção de Arqueologia da SMS | Esculturas em baixo-relevo do "Forno dos Mouros", Monte da Saia, Barcelos
Os dois elementos de granito foram recolhidos no século XIX no monumento conhecido como "Forno dos Mouros", na Freguesia de Carvalhas, Concelho de Barcelos. É um característico balneário castrejo localizado na encosta do que se conhece como Monte da Saia, em cuja parte cimeira existem vestígios de um povoado fortificado, ao qual o balneário estaria associado.
A primeira referência a estas duas peças é feita numa publicação de João António Torres no jornal Comércio do Lima, em 1876. Martins Sarmento manteve-se em contacto com João António Torres, que era familiar de um dos proprietários do "Forno dos Mouros". Com efeito, o balneário, bem como outros vestígios arqueológicos na mesma área, foram observados por Sarmento em duas excursões realizadas em 1878 e 1881, sem que, no entanto, alguma vez tenha realizado escavações arqueológicas no local.
Estes dois elementos esculpidos, que já teriam sido removidos do balneário aquando das visitas do arqueólogo, foram adquiridos por Sarmento, aos proprietários do terreno, em data posterior. Entretanto, o "Forno dos Mouros" foi doado pelos mesmos proprietários à Sociedade Martins Sarmento em 1898, tal como a "Laje dos Sinais", sítio rupestre icónico, localizado a cerca de 170 metros deste balneário. Os dois sítios arqueológicos mantêm-se na posse da SMS, ao cuidado do Município de Barcelos.
Estas duas peças fariam parte da guarda do tanque existente no átrio do balneário, sendo, aliás, idênticas às pedras que se conservam no tanque do Balneário Sul da Citânia de Briteiros. Mostram, na superfície superior, um desgaste em forma de arco, que Mário Cardozo atribuía à utilização do tanque para amolar ferramentas metálicas, mas que podem ser um polimento intencional, que permitia a utilização das guardas do tanque como assento para os utilizadores do balneário.
O facto mais curioso sobre estes dois elementos do tanque é o facto de terem sido decorados com estes dois baixos-relevos, com o formato de duas pequenas edículas. Um deles mostra uma pessoa em pé, interpretada como um sacrificante, com a cabeça de um animal numa mão e um objecto na outra, que pode ser uma faca. No outro relevo vê-se outra pessoa envergando uma toga.
Estas duas esculturas têm contribuído para a interpretação dos balneários da Idade do Ferro como espaços multifuncionais, utilizados não estritamente para banhos, mas também para outras actividades de carácter ritual ou litúrgico, ou para a realização de cerimónias que envolviam práticas de banho e de sacrifício ritual. Por outro lado, a representação de uma pessoa vestindo uma toga, leva a considerar a hipótese de estes dois baixos relevos terem sido esculpidos em época romana, o que pode sugerir a construção do balneário num período mais tardio, ou então uma intervenção realizada no edifício no período romano.
O "Forno dos Mouros", de onde provêm estes elementos, pode ser visitado no Monte da Saia, através do trilho pedestre PR2 BCL "Pelos caminhos do Monte da Saia", criado pelo Município de Barcelos.
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