Coleção de Arqueologia da SMS | Taça canelada recolhida na Citânia de Briteiros
"Um fragmento de vidro esverdeado, como a côr das garrafas d'aguas ferreas. (se não é bom espreitar bem!). Assim, pois, a Citania foi habitada em plena época do vidro (periodo que os archeologos devem accrescentar aos sabidos)."
Sarmento, 1874, do diário de campo.
"Esta casa deu cacaria immensa: (...) fragmentos de vidro com os quaes se pode restaurar uma taça de vidro (quasi toda), que me diz a forma das azelhas apparecidas noutras partes."
Sarmento, 20 de Junho de 1877, do diário de campo.
Os objetos em vidro limitavam-se, na Idade do Ferro do Norte de Portugal, na sua maioria, a contas de diversas formas, usadas em colares que reforçavam o estatuto social de quem os exibia. As contas eram importadas por via marítima, em rotas comerciais controladas por mercadores de Gadir (Cádiz), no âmbito do sistema de comércio Cartaginês.
O vidro começou a generalizar-se nesta região apenas a partir da época de Augusto. Os fragmentos recolhidos na Citânia de Briteiros são maioritariamente pertencentes a objetos de vidro de aspeto exótico, datados da primeira metade do séc. I d.C., como taças em vidro mosaico colorido. No entanto, surgem também os primeiros fragmentos de vidro comum, como taças caneladas e aríbalos em vidro verde-azulado, datados da segunda metade do séc. I d.C. e de provável produção Ibérica, como será o caso desta taça, recolhida por Sarmento nas escavações de 1877.
"Esta [a taça canelada] é, de longe, a vasilha de mesa mais comum em todos os contextos Alto-Imperiais, a par com a garrafa quadrangular, sendo um excelente fóssil diretor para o séc. I d.C. Surge em todos os tipos de aglomerados, desde os castros romanizados às cidades.
(...)
Esta é a forma “internacional” Alto-Imperial por excelência. Os centros produtores mais importantes seriam o Mediterrâneo Oriental e a Itália. Destes centros provêm seguramente os exemplares mais antigos, sobretudo os monocromáticos de cores fortes translúcidas e os polícromos. Relativamente aos exemplares em vidro verde azulado, de época flávia a inícios do séc. II, terá existido certamente uma produção peninsular, nomeadamente no NOP [Noroeste peninsular]. Estas taças são de tal forma abundantes e possuem uma tal variação nos tamanhos, formas e decoração que só a existência de várias oficinas regionais poderia explicar tal facto. Essas oficinas começaram logicamente por se instalar nos acampamentos militares e nas principais cidades. Existem evidências arqueológicas e arqueométricas que nos permitem falar de produções em Asturica Augusta, Bracara Augusta e Lucus Augusti."
Mário da Cruz, 2009, O vidro romano no Noroeste Peninsular: Um olhar a partir de Bracara Augusta,
Braga: Universidade do Minho, vol. II, p. 21.
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