Citânia Viva - Aspectos da recriação
Preparativos para ritual fúnebre
Preparativos para ritual fúnebre
Os figurantes mais idosos trabalham o linho
No passado domingo, dia 25 de Maio, acorreram à Citânia de Briteiros algumas centenas de pessoas, que de uma forma diferente tomaram contacto com o universo cultural e material da Idade do Ferro. Apesar do tempo húmido, foram realizadas duas visitas animadas à Acrópole da Citânia, conduzidas pelo bobo D. Vivas (desde já o nosso agradecimento à professora Elvira por ter encarnado esta personagem de Alexandre Herculano). O agradecimento também, por parte da organização, aos voluntários e associações que participaram nesta iniciativa.
No dia em que se assinala o Dia Internacional dos Museus, aqui se deixa a notícia publicada por Adolfo Salazar na Revista de Guimarães, sobre a inauguração do Museu da Sociedade Martins Sarmento, o mais antigo museu português do seu género, no dia 9 de Março de 1885:
O museu arqueológico e numismático, inaugurado, como dissemos, no dia 9, encerra muitas e verdadeiras preciosidades.
A secção de numismática, organizada com o maior zelo e proficiência pelo ilustre numismata, dr. José de Freitas Gosta, compreende para cima de mil exemplares, sendo setecentas moedas portuguesas, cento e cinquenta e tantas romanas, igual número de estrangeiras, duas celtiberas, quatro dos reis visigodos de Espanha, cinco maltesas (de um grão-mestre português), jetons, etc.
Das portuguesas, há sessenta e três de ouro, cento e setenta e seis de prata, trinta e cinco de bilhão (prata com muita liga), uma de calaím (estanho indiano), onze de bronze e quatrocentas e catorze de cobre. Entre elas, há algumas de muita raridade, como o maravedi, áureo, ou soldo de ouro de D. Sancho I, os dinheiros deste monarca, os de D Sancho II, de D. Afonso III, D. Dinis, D. Pedro, I, o real de prata de D. Fernando, etc.
As de bilhão, quase todas do reinado de D. João I, são também de subido merecimento, porque algumas delas oferecem variantes que os catálogos dos coleccionadores ou tratadistas de numismática portuguesa não mencionam.
Vê-se ali o cinquinho de D. Manuel, que é raríssimo, alguns cruzados de ouro de D. João III e o S. Vicente do mesmo monarca, todos eles muito raros e preciosos. Também se vêem diversas moedas coetâneas da dominação dos Filipes e algumas de D. António, prior do Grato, tendo o açor por carimbo, e destas merece especial menção o cruzado de sete dinheiros, moeda de prata.
As de D. João V são muito valiosas e interessantes por conterem variantes não conhecidas, e oferecem também muita curiosidade e merecimento as moedas das nossas colónias principalmente algumas antigas de Goa.
A colecção de medalhas, cujo número excede a cem, é também muito curiosa e opulenta, não só por conter algumas raras, por exemplo a dos empregados do Santo Ofício, mas também por compreender todas ou quase todas as das nossas lutas civis, as das inaugurações, exposições, etc. De entre as medalhas comemorativas merecem referencia especial as dedicadas a Camões, cuja colecção se pode chamar completa, porque não só encerra as que se cunharam por ocasião do tricentenário do poeta, como por conter outras anteriores.
Em toda a colecção de medalhas abundam as que foram gravadas pelo nosso distinto compatrício e notabilíssimo artista, Arnaldo Molarinho.
A secção arqueológica, dirigida e coordenada pelo snr. dr. F. Martins Sarmento, coadjuvado pelo ilustrado reitor de Mascotelos, o rev. padre João Gomes de Oliveira Guimarães, compõe-se nomeadamente do seguinte:
1.°
a) Objectos de pedra encontrados em antas, antelas e cavidades de penedos; machados, pontas de seta, facas, pontas de dardo. Alguns destes objectos pertencem ao concelho de Guimarães (arredores de Sabroso). Duas urnas cinerárias, uma de uma anta, outra de uma antela.
b) Machados de pedra, encontrados em Castros ou imediações deles, como Sabroso, Citânia, Castelo de Guifões, Monte da Senhora, etc.
c) Machados de bronze, de formas diferentes, um de Pinhel, outro de Trás-os-Montes, outro de Fafe.
d) Machados de ferro, um de Sabroso, outro da Citânia (forma diferente).
2.°
a) Fragmentos de cerâmica ornamentada de Sabroso, mostrando mais de cinquenta temas ornamentais diferentes.
b) Vasilhas encontradas num cemitério de Moreira de Cónegos.
3.°
a) Objectos de bronze encontrados na Citânia: alfinetes ou pregos de diferentes formas; fíbulas, idem; contas de colar, uma com ornamentação em esmalte preto; braceletes; agulhas, etc.
b) Vasilhas encontradas em um cemitério de Moreira de Cónegos.
4.°
a) Objectos de bronze encontrados em Sabroso, quase idênticos aos da Citânia; mas uma pulseira e duas fíbulas que se não acham acolá.
b) Vasilhas e lâmpadas de barro achadas em diferentes partes, Citânia, Freixo (Marco de Canaveses), etc.
c) Objectos de metal encontrados em Vizela (explorações para os banhos); moedas.
d) Objectos de ouro, sendo os únicos dignos de nota (por evidentemente antigos) duas pulseiras achadas em Folgosinho (Beira).
5.°
a) Inscrições : Aras dedicadas a deuses, algumas contendo nomes de deuses até hoje desconhecidos. Lápides tumulares, algumas desconhecidas até hoje, como as de Carqueres e Negrelos. Pedras ornamentadas: espécimes da Citânia, Sabroso, Cividade de Ancora. Escultura: Estátua incompleta, de Baião. A figura tosca de um animal, idem. Figuras em relevo (humanas) das proximidades do Monte da Saia (Barcelos), etc. Túmulo (carneiro) da época cristã, com suástica. Túmulo de tijolo (época romana) encontrado no monte da Fornalha, freguesia de Abação. Capitéis de colunas encontradas não longe do túmulo, na mesma freguesia.
Aos cavalheiros que se dignaram fornecer materiais para o museu arqueológico-numismástico, os snrs. dr. F. Martins Sarmento, dr. José de Freitas Costa, barão de Pombeiro, padre António Afonso de Carvalho, Artur Veiga de Lacerda, Custódio da Costa, José Joaquim de Oliveira, Manuel Joaquim Gonçalves, dr. Eduardo Martins da Costa, Dinis da Costa Santiago, José de Castro Sampaio, dr. Gaspar Leão, Albino Dias Leite, padre Cândido França, Elias da Silva Machado, António Correia de Abreu, Manuel António Dias, Joaquim José Machado Guimarães, dr. Manuel Rebelo de Carvalho, António Montenegro, dr. Francisco Pinheiro Osório, António José Ribeiro, padre Abílio Augusto de Passos, João Baptista Pinto da Cunha, António Maria Rebelo de Magalhães, etc., significámos, em nome da Sociedade, o mais vivo reconhecimento.
Monumento aos 500 anos do Teatro Português (fotografia do projecto)
Faleceu, no dia 12 de Maio de 2008, a escultora Irene Vilar, que deixa uma importante obra escultórica que se espalhou por quatro continentes. Em Guimarães, existem duas obras de sua autoria, o busto de Abel Salazar e o Monumento aos 500 anos do Teatro Português. Esta última, resultou de uma iniciativa da Sociedade Martins Sarmento, pretendendo celebrar a memória de Gil Vicente e da sua arte. Foi inaugurado no dia 8 de Junho de 2003. A Direcção da Sociedade Martins Sarmento presta homenagem à memória de Irene Vilar, transcrevendo algumas das palavras então proferidas pelo seu Presidente, Santos Simões, a propósito daquele monumento singular:
"Sabíamos que estava posta de parte a ideia de uma estátua por motivos óbvios: o poeta não deixou qualquer rasto da sua figura. Por outro lado, havendo múltiplos elementos ou propostas nos autos vicentinos, eles ou não eram figurativos ou os que o eram representavam um personagem muito marcado (diabo) ou um certo tipo de personagem (lavrador, pastor, fidalgo, etc). E a nossa preocupação era, no essencial, remeter sempre o Monumento para uma leitura em que o Teatro e o homem (actor) fossem elementos centrais. Quando depois de uma aprofundada reflexão a nossa Escultora nos propôs as máscaras, aplaudimos sem reservas a ideia, já que, simultaneamente, sugerem os homens que a afivelam e, ao mesmo tempo, os outros/eus que são os personagens que com elas se identificam.
Por outro lado, as máscaras não se esgotam em si próprias, já que não é absolutamente necessário usá-las para se criar o personagem. Este tem sempre uma máscara diferente, que lhe é dada pela caracterização e pela interpretação do actor. Este é dotado da qualidade suprema de a cada instante ser um mesmo ser com mil máscaras e outros tantos corpos, tantas e tantos quantos os personagens.
A proposta de Irene Vilar só nos surpreendeu pelo que teve de beleza surpreendente no acto criativo. Ao convidá-la, tínhamos a certeza de que algo de muito belo e expressivo ia sair das suas mãos.
No Jardim da Alameda, fazendo contraponto com o Fauno e a Sereia de Mestre António Azevedo, fica uma escultura que sob todos os aspectos tem a ver com a simplicidade do acto da criação de Mestre Gil e o painel imenso dos personagens que ao longo de 500 anos foram criados pela dramaturgia portuguesa.
É, ao mesmo tempo, uma mensagem poética, dada pela leveza dos elementos que a constituem, mas com uma mensagem forte e duradoura, tal como se exige de uma obra de arte.
Agrada também porque, para as crianças, é como um brinquedo de Gulliver no reino de Liliput."
Este ano, a Sociedade Martins Sarmento associa-se às comemorações do Dia Internacional dos Museus, que se assinalará no próximo dia 18 de Maio, com um programa que tem como principal objectivo contribuir para a aproximação o público aos Museus, proporcionando-lhe uma viagem às origens da nossa cultura através do património desta Instituição.
As actividades previstas para este dia contam com a colaboração da Academia de Música Valentim Moreira de Sá (Sociedade Musical de Guimarães) e da Casa do Povo de S. Salvador de Briteiros.
Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento
15:00 horas – Visita encenada às colecções e à história do Museu Arqueológico, guiada por Francisco Martins Sarmento.
16:00 horas – Concerto comemorativo, pela Academia de Música Valentim Moreira de Sá.
Citânia de Briteiros
11:00 horas – Visitas ao sítio arqueológico, guiadas pelos Arqueólogos Francisco Sande Lemos e Gonçalo Cruz. A cada um dos participantes será oferecido, no momento da aquisição do ingresso, um exemplar do livro "Citânia de Briteiros. Povoado proto-histórico".
Museu da Cultura Castreja
15:00 horas – actuação do Grupo de Cantares da Casa do Povo de Briteiros
15h30m – Apresentação pública da Ombreira de Santo Estêvão de Briteiros, o mais recente achado arqueológico com origem na Citânia de Briteiros, encontrado na Igreja de Santo Estêvão.
16:00 horas – Visita guiada ao Museu da Cultura Castreja.