Um Mês, Uma Peça 1 a 28 de fevereiro de 2025
Um Mês, Uma Peça
1 a 28 de fevereiro de 2025
Candil do séc. XI/XII
A Sociedade Martins Sarmento dando continuidade em 2025 ao ciclo UM MÊS, UMA PEÇA, onde serão expostas e estudadas em detalhe 12 peças da sua coleção, escolheu para o mês de fevereiro um candil do séc. XI/XII.
Esta peça poderá ser visitada no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Super Categoria Arqueologia
Categoria Cerâmica
Subcategoria Iluminação
Nº de Inventário 733
Datação Séculos XI/XII
Técnica de fabrico Manual e torno
Dimensões (cm) Comp. 16,5 x Alt. 6,7 x Diâm. máx 7,3; Diâm. base 4,2
Descrição
Candil de cerâmica, com bico de paredes retas e lábio em bisel com vestígios de fuligem na ponta, coberto em ambas as faces de engobe esbranquiçado. Apresenta base plana ligeiramente convexa, depósito bitroncocónico com canelura saliente a meia altura do depósito, asa de fita em forma "D" de secção oval que parte da carena até à base do colo, com uma pequena porção do colo de forma troncocónica. Pasta bege clara, homogénea e bem depurada com alguns elementos não plásticos de grão médio.
Este candil ostenta a decoração de corda seca parcial de que subsistem ainda manchas de esmalte amarelo melado dispostas na parte superior do depósito.
Além disso, a forma do depósito assim como o bico de canal com as características paredes facetadas que formam uma reentrância entre o contorno do depósito e do bico de canal, situam este candil no contexto das produções dos séc. XI/XII.
Candil de proveniência desconhecida, tendo sido oferecido ao museu da SMS pela senhora D. Amélia Vaz Monteiro Gomes, de Sintra em 3 novembro 1962.
Historial
Segundo o artigo "E da noite se fez dia... Alumiar em período islâmico" publicado na revista digitAR é explicado de forma sucinta e clara a definição de candil e a sua evolução, conforme é descrito a seguir: "A palavra candil deriva da palavra árabe qindīl, a qual para uns autores é um helenismo (Rosselló Bordoy, 1991: 149), defendendo outros que procede do término latino candela, do qual também provém a palavra candeia (Gómez Martínez, 2004: 276). Frequentes em contextos islâmicos, os candis são recetáculos de azeite utilizados na iluminação doméstica, conhecendo-se dois tipos principais.
O primeiro consiste numa forma fechada, constituída por um reservatório (que continha o azeite), colo (por onde se introduzia o combustível), bico (onde se colocava o pavio) e uma asa para facilitar o manuseamento (Serrano, 2011: 56-57).
Este tipo é o mais antigo e frequente, surgindo em época emiral (séc. VIII-IX), desenvolvendo-se no decurso do período califal (séc. X-XI), tendo atingido o seu auge durante a época almorávida (séc. XI-XII) /almóada (séc. XII-XIII).
A evolução morfológica deste tipo está intimamente ligada à dicotomia diâmetro do reservatório/comprimento do bico: os mais antigos apresentam reservatórios grandes e bicos pequenos, morfologia que os aproxima das antecedentes lucernas romanas, enquanto os mais recentes possuem bicos maiores e reservatórios menores. Verifica-se, pois, que os mais antigos
apresentam bicos muito pequenos, amendoados, a que se sucedem candis com bico em forma de cauda de pato, evoluindo, no século IX, para bicos lanceolados (Zozaya Stabel-Hansen, 2007: 130). A evolução prossegue com o seu alargamento, fazendo lembrar uma “orelha de mula” (segunda metade do século IX), uma “orelha de lebre” (primeiro quartel do século X), sendo que começam a desenvolver paredes facetadas. No período de taifas, as cinco facetas criam uma “forma de barca”, voltando a afilar-se no período almorávida e, por último, no almóada os bicos são largos e profundos, apresentando-se facetados (Zozaya Stabel-Hansen, 2007: 130).
No que concerne aos acabamentos, verifica-se uma diversidade que passa dos alisados aos vidrados, passando pelos engobes e aguadas. Relativamente à ornamentação, estão presentes as mais variadas técnicas, nomeadamente, incisão, pintura (a branco, preto e vermelho) e corda seca parcial, bem como o vidrado parcial, o verde e manganés e os pingos de vidrado.
O segundo tipo, os candis de disco impresso, surgem em época almóada e assemelham-se às lucernas de períodos anteriores, facto que levou a que inicialmente se considerassem como elementos de transição entre a romanidade e o período islâmico (Zozaya Stabel-Hansen, 1999: 261).
Vidrados essencialmente a verde ou melado, estes candis eram produzidos a molde. Apresentam forma geralmente circular, corpo troncocónico ou cilíndrico, base plana, face superior com pequeno orifício para introduzir o azeite no reservatório, asa vertical circular e bico de canal de secção em U."
Bibliografia
- CAVACO, Sandra; COVANEIRO, Jaquelina; CATARINA COELHO, Maria; SOFIA GOMES, Ana; INÁCIO, Isabel; BUGALHÃO, Jacinta; CRISTINA FERNANDES, Isabel; et al. "E da noite se fez dia... Alumiar em período islâmico". digitAR - Revista Digital de Arqueologia, Arquitectura e Artes nº 8 (2022), pp. 227-242.
- GÓMEZ MARTÍNEZ, Susana (2004). La Cerámica Islámica de Mértola: producción y comercio. Tesis doctoral. Facultad de Geografía e Historia. Universidad Complutense de Madrid.
- KEMNITZ, Eva (1993/94). Candis da colecção do Museu Nacional de Arqueologia. O Arqueólogo Português, Série 4, Volume 11-12 (1993/1994 - ed. 1999), pp. 427-472
- Núcleo arqueológico da Rua dos Correeiros / coord. Fundação Millennium BCP; textos Jacinta Bugalhão, IGESPAR, Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, Rui Carvalho (BG 37-7-152)
- Revista de Guimarães (1962), vol. 72, p. 491-492
- ROSSELLÓ-BORDOY, Guillermo (1991). El nombre de las cosas en al-Andalus: Una propuesta de terminología cerámica. Palma de Mallorca: Sociedad Arqueológica Luliana y Museo de Mallorca.
- SERRANO, Liliana (2011). Lucernas, candis e candeias: para uma distribuição geográfica no território português. Dissertação de mestrado em Arqueologia e Território. Faculdade de Letras. Universidade de Coimbra.
- VASCONCELLOS, José, (1902), “Candeias árabes do Algarve”, O Archeólogo Português, vol. 7, série 1, Imprensa Nacional, Lisboa, pp. 119-123
- ZOZAYA STABEL-HANSEN, Juan (1999). Una discusión recuperada: candiles musulmanes de disco impreso. Arqueología y Territorio Medieval, 6, pp. 261-278.
- ZOZAYA STABEL-HANSEN, Juan (2007). Los candiles de piquera. Tierras del Olivo. El olivo en la Historia. Fundación El Legado Andalusí, pp. 125-135.
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