Um Mês, Uma Peça, Dezembro de 2024 - Presépio de altar ou de trono
A peça em destaque do mês de dezembro é um presépio de altar ou de trono em figurado de barro policromado, procedente da olaria Alfacinha de Estremoz.
Esta peça poderá ser visitada no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Categoria Escultura
Nºs Inventário Et-0450 (altar/trono), ET-0451 (Baltasar), ET-0452 (Menino Jesus), ET-0453 (Belchior), ET-0456 (Gaspar), ET-0459 (São José), ET-0460 (Nossa Senhora), ET-0461 (pastor orante) e ET-0462 (pastor ofertante)
Denominação Presépio de altar ou de trono
Cronologia 1968
Fabrico/ Marca Olaria Alfacinha, Estremoz - Portugal
Tema Imaginária: conjunto de devoção
Função Decorativa e simbólica
Técnica Rolo, bola e placa / policromado e vidrado
Matéria Barro
Altura 34,5 cm
Largura 28,5 cm
Profundidade 22 cm
Incorporação Oferta de Margarida Rosa Cassola Ribeiro em 23 maio 1970
Localização Reserva etnográfica
Descrição: Conjunto composto por 8 figuras [originalmente, deveria ser composto por nove figuras] dispostas num altar/trono de base verde com pontos brancos e "muros" pintados a azul e branco com tijolo cor-de-rosa.
No presépio de trono, as figuras encontram-se distribuídas por três degraus, hierarquizadas de baixo para cima e da esquerda para a direita do observador:
Assim no 1º degrau temos os PASTORES - (falta o pastor ofertante das pombas); pastor ajoelhado e de cabeça descoberta, em adoração, com o chapéu à frente e o pastor ofertante segurando um borrego, com tarro enfiado no braço esquerdo. O 1º degrau corresponde à base da escala social.
No 2º degrau temos a SAGRADA FAMÍLIA - Nossa Senhora ajoelhada; o Menino Jesus deitado na manjedoura e São José ajoelhado.
No 3º degrau temos os REIS MAGOS - todos de pé e segurando as respetivas ofertas: Gaspar, representante da raça asiática (de túnica cor-de-rosa: mirra); Baltasar, representante da raça africana (de túnica vermelha: incenso) e Belchior, representante da raça europeia (de túnica azul: ouro). O 3º degrau corresponde ao topo da escala social.
Todas as figuras estão de frente para o Menino.
Neste tipo de presépio existe um eixo de simetria que passa pelas figuras centrais, que têm qualquer coisa que as distingue daquelas que as ladeiam. Assim: o rei central é negro e os outros dois têm pele clara; o Menino Jesus tem natureza celeste e Nossa Senhora e São José têm natureza terrena; o pastor ajoelhado está ladeado de dois pastores em pé.
Relativamente à hierarquia e da esquerda para a direita temos as seguintes disposições. Numa sociedade patriarcal e conservadora como a da época de Jesus, há supremacia do homem nas relações sociais e a direita é valorizada em relação à esquerda. Por isso, o rei que oferece ouro está posicionado à direita, enquanto o que oferta incenso está situado à esquerda, visto que o metal é mais valioso que a resina aromática; São José está ajoelhado à direita do berço e Nossa Senhora também ajoelhada à esquerda; o pastor ofertante que segura o borrego está localizado à direita, ao passo que o pastor ofertante da pomba, está posicionado à esquerda, pois o ovino vale mais que a ave.
Origem/Historial Segundo Hugo Guerreiro, responsável técnico da Candidatura do figurado de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade: «As origens do Figurado de Estremoz remontam ao séc. XVII/XVIII, conforme documentado em diversas fontes e coleções nacionais, em particular a do Museu Municipal de Estremoz, e encontram-se intimamente ligadas à produção de imaginária devocional, nomeadamente imagens de Nossa Senhora da Conceição e St. António, a que acresce, em finais do Séc. XVIII, a produção de presépios em todos os casos destinados a consumo por parte das classes populares.
A partir de meados do séc. XIX ocorre uma primeira alteração na produção de Figurado, expressa na sua miniaturização, simplificação formal e autonomização de Figuras originalmente associadas ao “Presépio”, tais como representações de ofícios tradicionais e de atividades do quotidiano.
Tendo a produção entrado em decadência em finais de séc. XIX, quando então apenas duas famílias de barristas se encontravam ainda em atividade, a tradição é recuperada em 1935 graças ao trabalho do escultor José Maria Sá Lemos (1892-1971), então diretor da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, em Estremoz.
Nos anos 40, séc. XX, o oleiro Mestre Mariano da Conceição surge com a grande inovação, o “Presépio de Altar”. Unindo à tradição presepista a tradição dos “Tronos de Santo António” das festas populares, cria-se uma peça inteiramente nova, de estética popular, e que hoje é emblemática das Figuras de barro de Estremoz. Este é composto pelo altar, estrutura com três degraus, onde no primeiro degrau estão os “Pastores Ofertantes”, no segundo a “Sagrada Família” com o “Menino Jesus” deitado numa manjedoura e no terceiro estão os “Reis Magos”».
Os métodos utilizados na barrística de Estremoz são, os de rolo, da bola e da placa, esta última, na elaboração de vestuário e bases. As partes constituintes dos bonecos, que apresentam maior espessura e volume são previamente picadas por meio de uma agulha ou arame e depois corrigidos com os dedos. Este procedimento permite uma maior secagem no interior do boneco evitando assim, quebradura e fendilhagem no ato da cozedura. Um dos aspetos que mais caracteriza os bonecos de Estremoz, e diferencia este figurado do restante, é o facto de estes nascerem nus e serem posteriormente vestidos. Um boneco de Estremoz é constituído por diversas partes que são unidas entre si. Assim, a primeira peça a ser realizada é a base, que é feita através de um pedaço de barro espalmado por intermédio de uma palmatória. A próxima tarefa consiste em fazer as pernas ou saias e seguidamente o tronco. Com uma bola de barro, e um molde, segue-se a face e depois o pescoço. Os rostos são, na maior parte dos casos, feitos por meio dum molde e colados à bola de barro que constitui a cabeça. Com a ajuda dum teque ou teco (palheta na gíria dos artesãos) modela-se o cabelo. Coloca-se o boneco na base, previamente feita e com furos no local onde este vai assentar, colando-o com barbotina ou lamugem na gíria bonequeira. De seguida, passa-se para a elaboração dos braços que é realizada através de um rolinho. Corta-se a extremidade que liga ao ombro e faz-se em seguida as mãos. Estas são feitas espalmando-se a extremidade do braço menos grossa, e depois, por intermédio de uma série de incisões com a ajuda dos já mencionados teques criam-se os dedos. Unem-se os braços ao tronco com lamugem. É altura então, de vestir os bonecos e colocar todos os adornos referentes ao modelo representado, como xailes, lenços, brincos, chapéus e um número infindável de enfeites saídos da imaginação do artista, empregando-lhes assim, "movimento, vida, alma" (in Vermelho, Joaquim, Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística, Limiar, 1990). Deixa-se o boneco secar e vai ao forno ou à mufla a 800°C / 900°C, no entanto, é importante referir que durante a modelação do boneco convém deixar secar a peça durante as fases da união das várias partes constituintes do boneco. Os bonecos são peças muito frágeis e, portanto, são necessários muitos cuidados no processo de enfornamento. Finalmente, o boneco passa pelo processo de pintura onde prevalecem o verde, o azul, o vermelho, o zarcão, o amarelo, o branco, o roxo, o laranja e o preto. As tintas utilizadas são os óxidos que são dissolvidos em água e misturados com grude previamente derretido. Contudo, foram introduzidos recentemente, por questões comerciais e técnicas, têmperas, ou seja, tintas a água ou plásticas que são misturadas com colas resinosas para madeira. Estas colas proporcionam ao boneco, resistência à luz e à humidade, sem, no entanto, prejudicar a cor. Sobre a pintura seca é colocado um verniz que, nos séculos passados, era fabricado pelos próprios barristas através de processos que se perderam. Foram posteriormente substituídos por vernizes industriais.
in Processo do Inventário Nacional do Património Cultural lmaterial. Disponível em: https://ich.unesco.org/doc/src/35004.pdf
A Produção de Figurado em Barro de Estremoz que mantém as características populares tradicionais e cujas origens remontam a influências barrocas, integra o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, desde 2014, sendo desde 07-12-2017 Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.
A Olaria Alfacinha, foi fundada por Caetano Augusto da Conceição em 1881, na Rua do Arco, transferindo-se sucessivamente para a Casa das Fardas e para a Rua de Santo António, todas em Estremoz. A olaria esteve na posse da família até 1987, tendo produzido louça não vidrada e louça vidrada.
Em 1987, a olaria foi vendida a Rui Pires de Zêzere Barradas, professor, que conjuntamente com sua mulher Cristina, dela foi coproprietário até 1995, ano em que a olaria cessou a sua atividade. Neste último período, a olaria produziu apenas louça vidrada. in https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com/
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