Um mês, uma peça - 1 a 31 de julho
Um mês, uma peça - 1 a 31 de julho
Super Categoria Arqueologia
Categoria Vidros Subcategoria Cosmética /Farmácia e Medicina
Nº Inventário MSA-2542
Objeto Enócoa de vidro (oinochoe)
Proveniência Sepultura de Almeirim
Cronologia Séculos VIII a I a. C.
Matéria Pasta vítrea policroma
Altura 6,3 cm
Ø máx. 5,7 cm
Ø base 3,2 cm
Descrição Pequeno balsamário (forma conhecia como enócoa, do grego oinochoe) de vidro que integrava o espólio de uma sepultura descoberta em terrenos de uma quinta pertencente ao Conde de Sobral, próxima de Almeirim, cuja localização exata se desconhece. Pode tratar-se da Quinta do Casal Branco, que ainda se encontra na posse da mesma família. Além desta peça, a sepultura continha também um espelho de bronze e outros cinco objetos de vidro: fragmentos de uma ampula, fragmentos de um frasco ou pequena garrafa, dois unguentários ou balsamários inteiros e uma taça canelada, também inteira. É habitual a recolha deste tipo de espólio em sepulturas de época romana. Todos estes objetos se encontram no Museu Martins Sarmento. A filha do Conde de Sobral, D. Ana Francisca Braamcamp da Cruz Sobral de Almeida Castelo Branco de Narbonne-Lara de Mello Breyner, 2ª Condessa de Margaride, ofereceu estas peças ao Museu, na primeira metade do século XX.
Esta pequena enócoa teria sido considerada, na Antiguidade, como um objeto de luxo. Embora a sua função inicial tenha sido a substituição de pedras semipreciosas, o vidro não seria um substituto barato, sendo um produto particularmente apreciado pelas elites. Permitindo a preservação do cheiro ou sabor dos produtos que continham, os objetos de vidro seriam muito utilizados para o acondicionamento de perfumes, bálsamos ou unguentos, dos quais o Egipto era produtor na Antiguidade. Ao contrário do que ainda frequentemente se diz, estes vidros não eram fabricados pelos Fenícios; eram produzidos no Egipto e mercadejados por Fenícios e Gregos, e mais tarde pelas redes de comércio do Império Romano.
Esta peça terá sido fabricada no Egipto, entre a chamada Época Baixa (séculos VIII a IV a. C.) e o período Ptolomaico (séculos IV a I a. C.), uma margem de erro muito vasta, agravada pela ausência de contexto arqueológico. Será, portanto, um objeto mais antigo que as outras peças do mesmo conjunto da sepultura de Almeirim, datadas do século I d. C. Por esta razão, este objeto pode ter, na
Antiguidade, atravessado diferentes gerações, até à sua deposição na mencionada sepultura, no século I.
Parece ter sido fabricada, de forma relativamente descuidada, através do recurso a um núcleo de argila, areia e matéria orgânica, com o formato da peça a obter, que era depois envolvido com vidro derretido. A decoração polícroma da peça era obtida através da adição de fios coloridos de vidro. A peça era depois suavizada, com o vidro ainda maleável, rolando-a sobre uma superfície, sendo depois acrescentados elementos como a base e a asa, trabalhados separadamente. Era depois lentamente arrefecida. O estudo mais recente desta peça permitiu a identificação, no seu interior, de restos do núcleo, não totalmente removido.
Esta enócoa, de forma ovóide e assimétrica, está incompleta, faltando-lhe a asa e parte do gargalo, que teria uma boca trilobada. Feita em vidro azul-escuro e opaco, mostra decorações em branco e amarelo mostarda, de baixo para cima: um cordão amarelo na base; já no corpo uma espiral branca, dois conjuntos de linhas em ziguezague, amarelo em baixo, formando quinze triângulos, e branco em cima, formando dezanove triângulos; um cordão amarelo rodeando a base do gargalo.
Não existem muitos paralelos em Portugal para esta peça de alguma raridade. Conhecem-se algumas produções congéneres recolhidas na necrópole de Puig des Molins (Ibiza), como Mário Cardozo já tinha feito notar, na década de 1950.
A enócoa de vidro procedente de Almeirim foi estudada inicialmente por Mário Cardozo, depois por Jorge e Adília Alarcão, num trabalho que abrangeu também as outras peças de vidro antigo do Museu Martins Sarmento. Teve, finalmente, um estudo mais detalhado por Marcus Carvalho Pinto, em 2018, que se debruçou sobre as questões técnicas e cronológicas em torno desta peça.
Bibliografia
- ALARCÃO, Jorge de; ALARCÃO, Adília (1963), "Vidros romanos do Museu da Sociedade Martins Sarmento", Revista de Guimarães, 73 (1-2), pp. 175-209
- CARDOZO, Mário (1957): "Breve análise do espólio de uma sepultura Lusitano-Romana", Galáxia. Homaxe a Florentino Lopéz Cuevillas, pp. 41-51.
- CARDOZO, Mário (1999), "Breve análise do espólio de uma sepultura lusitano-romana" in Obras de Mário Cardozo, vol. II, Porto: Fundação Eng. António de Almeida, p. 349-362, fig. 4
- DÉCHELETTE, Joseph (1924), Manuel d'archeologie prehistorique et gallo-romaine. Vol. III, Paris, p. 278, fig. 4
- MORGAN, John Pierpont, GRÉAU, Julien, Metropolitan Museum Of Art & Lessing J. Rosenwald Collection, FROEHNER, Wilhelm, ed. (1903), Collection Julien Gréau. Verrerie antique, émaillerie et poterie appartenant à M. John Pierpont Morgan. Vol. I, Planches 1-75, Paris, pl. XIV - 2. [Pdf] Extraído de Library of Congress, https://www.loc.gov/item/44010070/
- PERROT, Georges; CHIPIEZ, Charles, Histoire de l'art dans l'antiquité: Egypte, Assyrie, Perse, Asie Mineure, Grèce, Étrurie, Rome (Band 3): Phénice - Cypre - Paris, 1885, p. 740 e ss., pl. VIII, fig. 1 e pl. IX, fig. 2
- PIMENTA, João; HENRIQUES, Eurico; MENDES, Henrique (2012), O Acampamento Romano do Alto dos Cacos - Almeirim. Associação de Defesa do Património Histórico e Cultural de Almeirim, p. 36, fig. 43 - p. 41
- PINTO, Marcus Carvalho (2018), "A enócoa egípcia do Museu da Sociedade Martins Sarmento", Revista de Guimarães, 128, p. 41-61
Esta pequena enócoa teria sido considerada, na Antiguidade, como um objeto de luxo. Embora a sua função inicial tenha sido a substituição de pedras semipreciosas, o vidro não seria um substituto barato, sendo um produto particularmente apreciado pelas elites. Permitindo a preservação do cheiro ou sabor dos produtos que continham, os objetos de vidro seriam muito utilizados para o acondicionamento de perfumes, bálsamos ou unguentos, dos quais o Egipto era produtor na Antiguidade. Ao contrário do que ainda frequentemente se diz, estes vidros não eram fabricados pelos Fenícios; eram produzidos no Egipto e mercadejados por Fenícios e Gregos, e mais tarde pelas redes de comércio do Império Romano.
Esta peça terá sido fabricada no Egipto, entre a chamada Época Baixa (séculos VIII a IV a. C.) e o período Ptolomaico (séculos IV a I a. C.), uma margem de erro muito vasta, agravada pela ausência de contexto arqueológico. Será, portanto, um objeto mais antigo que as outras peças do mesmo conjunto da sepultura de Almeirim, datadas do século I d. C. Por esta razão, este objeto pode ter, na
Antiguidade, atravessado diferentes gerações, até à sua deposição na mencionada sepultura, no século I.
Parece ter sido fabricada, de forma relativamente descuidada, através do recurso a um núcleo de argila, areia e matéria orgânica, com o formato da peça a obter, que era depois envolvido com vidro derretido. A decoração polícroma da peça era obtida através da adição de fios coloridos de vidro. A peça era depois suavizada, com o vidro ainda maleável, rolando-a sobre uma superfície, sendo depois acrescentados elementos como a base e a asa, trabalhados separadamente. Era depois lentamente arrefecida. O estudo mais recente desta peça permitiu a identificação, no seu interior, de restos do núcleo, não totalmente removido.
Esta enócoa, de forma ovóide e assimétrica, está incompleta, faltando-lhe a asa e parte do gargalo, que teria uma boca trilobada. Feita em vidro azul-escuro e opaco, mostra decorações em branco e amarelo mostarda, de baixo para cima: um cordão amarelo na base; já no corpo uma espiral branca, dois conjuntos de linhas em ziguezague, amarelo em baixo, formando quinze triângulos, e branco em cima, formando dezanove triângulos; um cordão amarelo rodeando a base do gargalo.
Não existem muitos paralelos em Portugal para esta peça de alguma raridade. Conhecem-se algumas produções congéneres recolhidas na necrópole de Puig des Molins (Ibiza), como Mário Cardozo já tinha feito notar, na década de 1950.
A enócoa de vidro procedente de Almeirim foi estudada inicialmente por Mário Cardozo, depois por Jorge e Adília Alarcão, num trabalho que abrangeu também as outras peças de vidro antigo do Museu Martins Sarmento. Teve, finalmente, um estudo mais detalhado por Marcus Carvalho Pinto, em 2018, que se debruçou sobre as questões técnicas e cronológicas em torno desta peça.
Bibliografia
- ALARCÃO, Jorge de; ALARCÃO, Adília (1963), "Vidros romanos do Museu da Sociedade Martins Sarmento", Revista de Guimarães, 73 (1-2), pp. 175-209
- CARDOZO, Mário (1957): "Breve análise do espólio de uma sepultura Lusitano-Romana", Galáxia. Homaxe a Florentino Lopéz Cuevillas, pp. 41-51.
- CARDOZO, Mário (1999), "Breve análise do espólio de uma sepultura lusitano-romana" in Obras de Mário Cardozo, vol. II, Porto: Fundação Eng. António de Almeida, p. 349-362, fig. 4
- DÉCHELETTE, Joseph (1924), Manuel d'archeologie prehistorique et gallo-romaine. Vol. III, Paris, p. 278, fig. 4
- MORGAN, John Pierpont, GRÉAU, Julien, Metropolitan Museum Of Art & Lessing J. Rosenwald Collection, FROEHNER, Wilhelm, ed. (1903), Collection Julien Gréau. Verrerie antique, émaillerie et poterie appartenant à M. John Pierpont Morgan. Vol. I, Planches 1-75, Paris, pl. XIV - 2. [Pdf] Extraído de Library of Congress, https://www.loc.gov/item/44010070/
- PERROT, Georges; CHIPIEZ, Charles, Histoire de l'art dans l'antiquité: Egypte, Assyrie, Perse, Asie Mineure, Grèce, Étrurie, Rome (Band 3): Phénice - Cypre - Paris, 1885, p. 740 e ss., pl. VIII, fig. 1 e pl. IX, fig. 2
- PIMENTA, João; HENRIQUES, Eurico; MENDES, Henrique (2012), O Acampamento Romano do Alto dos Cacos - Almeirim. Associação de Defesa do Património Histórico e Cultural de Almeirim, p. 36, fig. 43 - p. 41
- PINTO, Marcus Carvalho (2018), "A enócoa egípcia do Museu da Sociedade Martins Sarmento", Revista de Guimarães, 128, p. 41-61
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