12 de Março, nascimento de Raul Brandão
No dia 12 de Março, passam 155 anos sobre o nascimento de Raul Brandão, ocorrido na Foz do Douro em 1867. Homem das letras, Raul Brandão casou e viveu em Guimarães, na Casa do Alto, na freguesia de Nespereira.
Militar, jornalista e, fundamentalmente, escritor, Raul Brandão (1867-1930) deixou uma obra literária diversificada, com um marcado discurso dramático, simbólico e metafísico, onde a angústia/ sofrimento humano dos humildes ocupou um lugar especial no universo reflexivo do autor. Brandão expressou-se no domínio da ficção, da dramaturgia, da literatura de viagem, em trabalhos de natureza memorialística, histórica e jornalística, tendo também e juntamente com sua esposa, a vimaranense Maria Angelina, elaborado o livro infanto-juvenil, “O Portugal Pequenino”.
Por altura da comemoração de mais um aniversário natalício, a Sociedade Martins Sarmento recorda Raul Brandão a partir da sua Biblioteca, doada por determinação testamentária do escritor à Instituição Vimaranense, tendo sido integrada no acervo da mesma, no final da década de setenta do século XX.
Universo de formação intelectual e reflexo das mundividências de Raul Brandão, a Biblioteca do Escritor contempla mais de dois mil volumes, nomeadamente monografias e publicações periódicas. Alguns dos exemplares conservam as anotações manuscritas de Brandão, outros possuem dedicatórias de variadas personalidades nacionais coetâneas do escritor e que ilustram impressões sobre Brandão e a sua obra, assim como revelam a teia de relações intelectuais que o escritor mantinha. É exemplo, a que António Correia de Oliveira escreveu no Livro 5.º de “Na hora incerta ou a nossa pátria”, conjunto de redondilhas escritas pelo poeta para o povo, e que é a seguinte:
“A Raul Brandão, em cuja Arte a Língua Portuguesa é um profundo vulcão de Sombras e Relâmpagos.”
António Correia de Oliveira (1879-1960) e o escritor da Casa do Alto, mantinham relações de estreita amizade, embora a obra de ambos espelhe diferenças assinaláveis, quer no estilo literário, quer nas perspectivas da abordagem social. Esta proximidade era visível não só nas variadas dedicatórias que o poeta escreveu nos livros que enviou para Raul Brandão, nas cartas [consultar aqui] que escreveu ao autor do “Húmus”, assim como pelas referências que Brandão dedica ao poeta nas suas “Memórias”: António Correia de Oliveira, “ossos, nervos e a pele necessária para os cobrir – com um chapéu alto e lustroso em cima – grande poeta, com raízes profundas na natureza”, nas palavras de Raul Brandão, foi para além de poeta, jornalista e funcionário público.
Correia de Oliveira publicou durante seis décadas numerosos trabalhos literários, muitos dos quais evidenciam a composição de gosto popular, as temáticas patrióticas e de traço religioso que o autor cultivou, tendo sido, também, um recordista nacional de nomeações ao Prémio Nobel da Literatura. Destacada figura das Letras em Portugal da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX, António Correia de Oliveira foi, assim como Raul Brandão, sócio da Sociedade Martins Sarmento. No ano do Centenário do Nascimento de Francisco Martins Sarmento, o poeta esteve presente na Sessão Solene das Comemorações, tendo recitado o poema que escrevera em memória do investigador vimaranense – “Como eu fui arqueólogo” –, do qual se transcrevem alguns versos:
(…)
E tu, ó Mestre!
Sôbre todos eleito, e já na glória
Em luz dos Céus e placidez marmóreo;
Alma profunda, adivinhante e absorta
Que, de entre as pedras da Cidade-Morta,
A fé que não engana
Te fizeste o Cronista
O Fernão Lopes scismador e artista,
Da primitiva gente lusitana;
(…)
E tu, ó Mestre!
Sôbre todos eleito, e já na glória
Em luz dos Céus e placidez marmóreo;
Alma profunda, adivinhante e absorta
Que, de entre as pedras da Cidade-Morta,
A fé que não engana
Te fizeste o Cronista
O Fernão Lopes scismador e artista,
Da primitiva gente lusitana;
(…)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home