Continuámos por cá... | Teatro Jordão (1938-...)
Dia
vinte de Novembro.
De
trinta e oito, é o ano.
Em
todas as ruas se ouve: –
Sempre
abriu, não há engano.
Numa
expressão d’alegria
Nas
ruas se ouve também: –
Guimarães
pode orgulhar-se
Do
filho adotivo que tem.
Guimarães,
hoje, em Festa,
Veste
a roupa domingueira
P’ra
cumprimentar o Jordão
E
ver a peça primeira.
Até
mesmo as andorinhas
Se
juntam com alegria.
E
no seu canto se ouve:
Aleluia!
Aleluia!
“Ó
Guimarães, teu progresso!”
Ó
Guimarães esquecida!
Ó
Guimarães teu Teatro,
Ó
Guimarães, tua vida.
Guimarães
tem um Teatro,
Guimarães
tem um Jordão.
Guimarães
o abençoe,
Guimarães
de coração.
Desculpe
esta franqueza
Saída
do coração.
Sentimento
bem altivo:
Aceite-o,
pois, Snr. Jordão.
Guimarães,
20 Novembro 1938
J.
Gomes
No
final da década de trinta do século XX, a cidade de Guimarães fora surpreendida
por uma notícia que traria grande contentamento à sociedade vimaranense, a
construção de um Teatro. O responsável por tal empreendimento era Bernardino
Jordão (1868-1940), empresário nascido em Fafe e a viver em Guimarães, cuja
actividade se ligava ao meio comercial e industrial, sendo o fornecimento de
energia eléctrica uma das importantes vertentes da sua acção.
A
construção da casa de espectáculos do Jordão, projectada pelo arquitecto e
engenheiro civil Júlio José de Brito, principiou em Fevereiro de 1937 e a
inauguração, vivida com grande regozijo pelos vimaranenses, ocorreu no dia 20
de Novembro de 1938.
No
programa da inauguração da nova Casa de Teatro de Guimarães, cuja sala de
espectáculos foi perfumada pela Sociedade de Perfumaria Nally, LDA., com o
perfume “Noite de Prata”, foi apresentada uma pequena resenha ilustrativa do
edifício e que é a seguinte:
Gastaram-se
entre outros materiais 979 camiões de areia, cascalho e saibro; 684 camiões de
perpianho e alvenaria; 62 vagões de cimento, cal, gesso e marmorite; 13 vagões
com 127000 quilos de ferro; 31000 ou sejam perto de 30 vagões de tijolos
"SIMCO" gastos para os pavimentos. Só os pinheiros utilizados na obra
somam um comprimento que chega para fazer uma via dupla desde a Praça do Toural
até à Penha. As tábuas e escoras gastas nas cofragens e soalhos chegariam para
fazer um tapamento a toda a volta da Praça do Toural com uma altura de 20
metros. Se carregássemos um comboio com todo o material gasto nesta obra,
teríamos uma composição de 835 vagões excluindo a máquina e o tender ou seja um
comprimento total de 9,2 quilóm., isto é, uma distância igual à que vai da
estação de Guimarães até Vizela. Com as 926 lâmpadas num total de 46000 watts aplicadas
na iluminação, e distanciadas de 10 m. podíamos iluminar toda esta linha.
Embora,
existissem, em Guimarães, alguns locais dedicados à arte da representação,
havia o desejo da cidade ter uma Casa de Teatro com condições dignas, moderna.
O desejo cumpriu-se e a Casa de Teatro, que até 1940 se designou Teatro Martins
Sarmento, foi criado na Avenida António Reis, actual Avenida D. Afonso
Henriques, tendo sido palco para variadíssimas figuras da representação e da
música, nacionais e internacionais, entre as quais Amélia Rey Colaço, João
Villaret, Beatriz Costa, António Silva, Vasco Santana, Amália Rodrigues, Lolita
González, José Romero, Guilhermina Suggia, Pedro de Freitas Branco e a
Grande Orquestra Nacional, Orquestra do Norte, Companhia Nacional de Bailado e
Ballet Gulbenkian, entre muitos outros.
Para
além das artes de representação em palco, foi sala de cinema e acolheu várias
iniciativas de cariz diverso - de instituições/ colectividades vimaranenses,
comícios de natureza política, celebrações do número das festas dos estudantes
de Guimarães, as Danças Nicolinas, sessões de beneficência, entre outras.
Na sua
sala de espectáculos, o Teatro Jordão proporcionou, também, por vários anos,
sessões de cinema que oferecia aos alunos premiados na Festa Escolar do 9 de
Março, organizada pela Sociedade Martins Sarmento, instituição de quem era
associado o fundador do Teatro, Bernardino Jordão.
Mais
de meio século após a abertura e depois de feitas várias diligências para
garantir a sua actividade, o Teatro Jordão encerrou, estando para breve a
inauguração da obra de reconversão da antiga Sala de Espectáculos de Guimarães,
que acolherá novas utilizações ligadas às artes – musicais e performativas –,
as actividades lectivas do Conservatório de Guimarães e as do Curso de Artes
Performativas e Visuais da Universidade do Minho.
Uma parte muito significativa da história do Teatro Jordão, cuja memória atravessa várias gerações de vimaranenses e das suas instituições, encontra-se preservada no Fundo Teatro Jordão, na Sociedade Martins Sarmento, constituído por documentação e vários objectos, parte dos quais integram a exposição Teatro Jordão (1938-…).
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