20 de Novembro de 1881 | Assembleia Fundadora da Sociedade Martins Sarmento
Aos vinte dias do mês de Novembro de mil oitocentos e oitenta e um, pelas onze horas da manhã, a convite dos Senhores Avelino Germano da Costa Freitas, Avelino da Silva Guimarães, José da Cunha Sampaio, Domingos Leite de Castro e de Domingos José Ferreira Júnior reuniram-se em uma das salas da Assembleia Vimaranense os cavalheiros abaixo assinados.
Usando da palavra o Senhor Doutor José da Cunha Sampaio, primeiro testemunhou à assembleia o seu agradecimento e dos indivíduos acima referidos pela obsequiosa deferência que lhes dispensaram, acolhendo com agrado os convites que lhe dirigiram e comparecendo àquela reunião. Em seguida expôs em termos gerais, o plano da projectada associação, indicando dirigir-se ela, por um lado, a prestar homenagem ao nosso ilustre conterrâneo o Excelentíssimo Senhor Francisco Martins de Gouveia Morais Sarmento e por outro prestar utilidade a esta terra, promovendo o desenvolvimento da instrução primária, secundária ou profissional.
(...)
Por isso nos lembramos da criação de uma instituição, que possa viver sem limitações de tempo, que seja como que um monumento recordativo dos altos dotes intelectuais de um homem respeitável, e que aufira elementos de duração indeterminada pelos benefícios sociais que há-de prestar sob o influxo do nome do nosso ilustre patrício: para este duplo fim nenhuma outra nos pareceu mais ajustada que uma associação de instrução, cuja necessidade de há muito sentíamos, criada em condições modestas para que a tentativa não intimide por ostentosa, mas contendo os germens do mais largo e proveitoso desenvolvimento.
Dar à associação, por melhor título de nobreza, o nome do nosso patrício, com prévia autorização que podemos conseguir, inaugurá-la no dia Nove de Março, seu aniversário natalício, e fixar para este dia os actos mais solenes em homenagem perpétua; estabelecer como um dos fins principais o desenvolvimento da instrução deste concelho, em que tanto se sente a falta de institutos de instrução secundária; acudir à nossa indústria com escola ou escolas profissionais, que inoculem no espírito dos nossos industriais, naturalmente aptos, as indispensáveis noções dos novos progressos da arte, para deste modo se levantar a indústria de Guimarães às condições de sustentar concorrências estranhas: tais são os fins indicados, mais ou menos explicitamente, no projecto de estatutos que temos a honra de oferecer à vossa patriótica e inteligente apreciação.
Pensamos que é esta a manifestação mais condigna. Poderia erigir-se um monumento em granito ou mármore, abrindo-lhe na base inscrições comemorativas; mas não será um anacronismo que neste século de actividade intelectual prefiramos a inscrição à associação, o mármore a um pensamento em actividade constante, a inércia de uma coluna ao vivido movimento de uma instituição, que deve prosperar se nunca lhe falecer a vossa protecção e a dos nossos conterrâneos?
(...)
- excerto da acta da assembleia fundadora da Sociedade Martins Sarmento
Esta ideia de reconhecimento e de progresso que norteou os fundadores da Sociedade Martins Sarmento é aquela que permanece na obra, no “monumento vivo” a que - faz hoje 140 anos - começaram a dar forma.
O projecto que os iniciadores lançaram em torno da figura tutelar de Francisco Martins Sarmento concretizou-se. Sarmento continuou a acompanhar os seus pares, a proteger e a inspirar a Sociedade que o tomou como patrono e, mesmo depois da sua morte, em 1899, continua presente e a orientar os passos daqueles que, dia após dia, foram dedicando o seu esforço à permanente construção desta obra que se tornou numa das referências onde Guimarães se revê, projectando o seu nome e o próprio território.
Tendo inaugurado a sua actividade logo em 1882, e, conforme pretendiam os fundadores, no dia 9 de Março, aniversário de Francisco Martins Sarmento, não passou muito tempo até que Sociedade Martins Sarmento viu ser-lhe cedido “o edifício do extinto Convento de São Domingos (...) com todos os seus anexos (...) a fim de nele estabelecer a sua biblioteca, museus, escolas e mais dependências”. Diário do Governo, nº 80, de 9 de Abril de 1888. O claustro do antigo convento, onde se encontra o Museu Arqueológico, foi recentemente, como se sabe, objecto de trabalhos de restauro e reabilitação e operou-se também uma reorganização da exposição. Esta intervenção foi já apresentada e terá continuidade. A Direcção tinha intenção de associá-la à passagem dos 750 anos do início da construção da Igreja de São Domingos, então adossada à muralha da cidade, e da vinda para Guimarães da Ordem Dominicana. Razões diversas impuseram o adiamento desse programa, que seria também comemorativo de mais uma década da Assembleia Fundadora da SMS e de homenagem aos seus promotores. Vai ser oportunamente apresentado.
Entretanto e até final do ano realizam-se várias outras actividades e estão patentes exposições nas nossas galerias, Arte Robótica de Leonel Moura e Os Lusíadas da Bienal de Ilustração de Guimarães; nos Passos Perdidos, a exposição Documentação de uns para todos e, na Sala Professor Emídio Guerreiro, a exposição Teatro Jordão (1938-…).
Lembramos que está ainda a decorrer o Concurso de Fotografia "Guimarães – Expedição fotográfica" | 3ª Edição, 2021, com o novo prazo de entrega de candidaturas até 30 de Novembro.
Hoje mesmo e no próximo sábado, dia 27, tem lugar na Citânia de Briteiros e no Museu da Cultura Castreja o programa dedicado ao Dia da Floresta Autóctone.
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