Continuamos por cá... | 12 de Março, nascimento de Raul Brandão
Raul Brandão, um dos grandes vultos da literatura portuguesa, nasceu a 12 de Março de 1867, na Foz do Douro, e faleceu em Lisboa, em 1930. Desenvolveu profundas raízes em Guimarães, local para onde foi destacado, em 1896, como Alferes no Regimento de Infantaria 20, aquartelado no Paço dos Duques de Bragança. Também, em Guimarães, viria a conhecer Maria Angelina, com quem casou no ano de 1897 e onde, mais tarde, construiu uma casa em Nespereira, comummente conhecida como a Casa do Alto, local onde escreveu uma parte significativa da sua obra literária e onde recebeu importantes figuras da literatura portuguesa, entre elas Teixeira de Pascoaes. Também em Guimarães, na Sociedade Martins Sarmento, encontra-se o espólio bibliográfico-documental de Raul Brandão.
Sobre Francisco Martins Sarmento, o patrono da instituição, disse Raul Brandão, em 1900:
O SABIO, e o archeologo sobretudo, sempre me appareceram sob este aspecto singular: homens que, á força de conviverem com a sciencia hirta e as sêccas pedras, tinham endurecido o coração; homens de methodo e experiencia, desavindos de tudo o que na vida e na natureza é simples e emotivo: arvores, amores, sol, o quinhão dos poetas emfim. Depois, porém, que conheci Martins Sarmento comecei a duvidar: estava diante d'um sabio a valer, e ao mesmo tempo – o que é mais raro e mais apreciavel – d'um grande homem de coração e caracter. Guimarães deve-lhe muito: escólas, instrucção, e essa admiravel bibliotheca Martins Sarmento, que tem, ao contrario de quantas outras eu conheço, a extraordinaria opinião de que os livros se fizeram para se lêr e assim os empresta a quem os queira, socio ou não.
E este foi o pensamento dominante de toda a sua vida -- instruir. Por isso Martins Sarmento tem um valor mais alto, mais nobre: além d'um sabio e d'um grande coração, foi um homem que olhou para o futuro. Fundando escólas, dedicando a sua vida inteira á instrucção, trabalhou para os homens d'ámanhã.
E elles decerto não o esquecerão.
O espólio de Raul Brandão, constituído ao longo dos anos e na sequência de várias incorporações – doação do escritor, assim como através da intervenção da SMS –, integra a biblioteca pessoal do escritor da Casa do Alto, a obra autógrafa, correspondência, iconografia, e impressos, entre outros documentos. A existência e salvaguarda, de grande parte do espólio documental brandoniano na SMS, deve-se sobretudo à dedicação do Dr. Joaquim António dos Santos Simões, durante vários anos Presidente da instituição e dedicado impulsionador da obra de Raul Brandão. Neste domínio, realça-se a sua perseverança quando do processo de transferência da documentação do escritor (obra autógrafa, correspondência e iconografia), que se encontrava depositada na Biblioteca Nacional (BN).
A incorporação do espólio de Brandão na BN resulta do processo de aquisição, pelo Estado Português, do espólio literário e artístico de Manuel Mendes, que àquela data incluía ainda a documentação do escritor da Casa do Alto. Os documentos haviam sido disponibilizados pela viúva de Brandão a Manuel Mendes, que com eles pretendia desenvolver trabalhos de edição da obra do autor do Húmus.
Em colaboração com os herdeiros de Raul Brandão e na sequência de um processo judicial, o espólio brandoniano foi entregue à centenária instituição cultural vimaranense, na 1.ª década do século XXI, assegurando-se deste modo o retorno da documentação a Guimarães.
Entretanto, outros documentos relativos ao escritor têm vindo a ser integrados, especialmente em 2019, quando o filho de David Mourão-Ferreira entregou à SMS um conjunto de cartas de namoro do escritor para Maria Angelina.
No dia da comemoração do nascimento de Raul Brandão, a Sociedade Martins Sarmento lembra o escritor da Casa do Alto, considerado pelos especialistas como uma das mais emblemáticas figuras do pensamento português contemporâneo.
Destacamos ainda a importância do seu espólio, fonte indispensável na investigação e produção do conhecimento sobre a vida e obra do escritor, espelhando o universo literário e a personalidade de Raul Brandão, que foi militar, literato, pintor e jornalista, tendo pertencido ao grupo de intelectuais [clicar na ligação] que fundou, em Lisboa, a revista Seara Nova, cujo primeiro número data de 1921.
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