Exposição no MNA: Pedra Formosa - Arqueologia Experimental em Vila Nova de Famalicão
A Pedra Formosa do Alto das Eiras (Foto MNA)
O monumento do Alto das Eiras foi descoberto em 1880 por Francisco Martins Sarmento, que descreveu uns restos de construção cónica igual à do “forno dos Mouros da Saia” (monumento que hoje é propriedade da Sociedade Martins Sarmento, no Monte da Saia, em Barcelos). Foi objecto de uma campanha de escavação em 1990, sob a direcção de F. Queiroga e A. P. Dinis, que revelaria uma estrutura arquitectónica, com átrio, antecâmara, câmara e fornalha, e elementos decorativos semelhantes aos de outros monumentos congéneres. A sua Pedra Formosa, infelizmente mutilada, destaca-se pela sua riqueza ornamental.
A Pedra Formosa, a partir da qual todos os monumentos do mesmo tipo tomaram o nome, é o ex-libris da Sociedade Martins Sarmento, tendo sido assim denominada pelo povo de Briteiros, por causa da beleza da sua ornamentação. É um monólito de granito lavrado há uns três mil anos, com quase três metros de largura e mais de dois de altura. Apesar das suas dimensões e peso, calculado em mais de cinco toneladas, já foi objecto de várias trasladações. Actualmente encontra-se exposta no Museu da Cultura Castreja, em S. Salvador de Briteiros. Fazia parte da estrutura de um balneário composto por três espaços distintos: átrio com um tanque onde caía a água corrente, destinado a banhos frios, antecâmara de transição e câmara para banhos de vapor, tipo sauna. O vapor era produzido lançando água sobre seixos previamente sobreaquecidos num forno adjacente a esta última câmara. A Pedra Formosa erguia-se entre a antecâmara e o espaço da sauna, permitindo o acesso através da pequena abertura semicircular situada na sua base, concebida de modo a evitar a fuga de calor, mas suficiente para permitir a passagem de uma pessoa. O balneário do Alto das Eiras, agora reconstituído na Galeria Ocidental do MNA, enquadra-se na mesma tipologia.
A exposição, a não perder, estará patente até 16 de Dezembro de 2007.
2 Comments:
Visitei há dois dias a exposição e confesso que, por minha culpa, certamente, fui induzido em engano: atraído pelo título da exposição, convenci-me que ia ver o balneário a funcionar. Porém, nem vestígios de água, nem sinais de fumo, nem ares de vapor. Apenas uma construção que, à entrada, não se assemelhava nada à imagem que eu tinha idealizado dos banhos castrejos e que me lembrava, vagamente, um curral.
A réplica é um excelente trabalho de cantaria, embora com alguns aspectos que me suscitaram algumas interrogações. A Pedra Formosa pareceu-me inesperadamente alteada no vértice superior, e fiquei com a sensação de que seria um processo para dar mais altura ao interior do edifício. Olhando para as fotografias da pedra original, onde falta a parte superior, esta impressão acentua-se. Vendo agora as imagens que colocaram aqui, parece-me que a pedra das Eiras é muito semelhante à de Briteiros, ficando com a ideia de que aqueles trísceles que colocaram na parte superior podem estar a mais.
É pena o balneário não estar a funcionar (embora perceba que, naquele espaço, não deveria ser fácil). Fiquei com a sensação de que não seria suportável ficar muito tempo no interior da câmara a que se acede pela pedra formosa enquanto ali ardesse a fornalha, devido ao calor que provavelmente daria para fazer um belo leitão assado, e não percebi muito bem qual seria o meio de condução da água utilizada para fazer o vapor, uma vez que só vi uma passagem (a da pedra formosa, junto ao solo).
Mas tudo isto são dúvidas que resultam do senso comum, uma vez que quase nada sei de arqueologia.
Quanto ao resto da exposição, embora pequena, achei muito interessante e reveladora da grande riqueza arqueológica do nosso Minho. Ao ler a notícia que aqui dão sobre a história da Pedra Formosa, estranhei não ter encontrado nenhuma referência (possivelmente estava lá, mas eu não vi) à Pedra Formosa original. Mas isto deve ser o meu coração vimaranense a falar...
Não tive oportunidade ainda de visitar a exposição "Pedra Formosa", no Museu Nacional de Arqueologia, mas observei as imagens colocadas neste blog, assim como as que estão disponíveis no site do MNA.
A ideia que anteriormente tinha acerca desta exposição, tendo em conta o conteúdo da divulgação levada a efeito, era que o balneário estaria de facto a funcionar, sendo então uma prática de "Arqueologia experimental".
A estrutura montada no MNA (inspirado no balneário do castro do Alto das Eiras, em Famalicão)não deve ser considerada uma réplica, posto que do balneário original, apenas aproveita parte da Pedra Formosa. E desta, a lógica figurativa da decoração, não foi respeitada na parte reconstituída (superior) quando se agregaram os dois trísceles. Muito dificilmente uma Pedra Formosa enquadrada na tipologia da de Briteiros (da primeira), estaria ornamentada com tais elementos, surgindo eles, por exemplo, na segunda Pedra Formosa de Briteiros (conservada no balneário), aparentemente mais tardia, tendo em conta a apurada simetria das suas linhas de decoração.
Por outro lado, tal como já foi dito aqui, o aspecto exterior da reconstituição também não corresponde à ideia que detenho do que seria o aspecto original destas estruturas, tendo sobretudo em conta que estas estariam parcialmente soterradas. Ou seja, as paredes não apresentariam uma face exterior, apenas uma face interna, a única que seria visível. Uma reconstituição mais fidedigna, apenas seria praticável ao ar livre, restituindo não apenas a estrutura em si, mas também a sua envolvente, que se revela fundamental para compreender a implantação destes balneários.
Seria até bastante interessante que, finda a exposição, a Câmara de Famalicão reutilizásse a estrutura, montando-a algures num espaço aberto e, se possível, ensaiásse o seu funcionamento.
Já agora, não teria ficado mal uma referência aos balneários de Briteiros, e à Pedra Formosa propriamente dita.
A organização está, contudo, de parabéns. Esta iniciativa não deixa de ser inédita, e penso vir a contribuir bastante para o incremento do estudo das estruturas de banhos da Idade do Ferro.
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