Efemérides vimaranenses: 8 de Outubro

Os Paços do Concelho, onde em 1910 Eduardo de Almeida leu a proclamação da República.

Algumas das efemérides vimaranenses deste dia, coligidas por João Lopes de Faria:

1657 — A Câmara, tendo conhecimento que o povo andava gritando que não havia azeite nos mesteirais, porque estes o não podiam comprar para vender pela taxa posta, taxou-o a 36 réis, visto ser comprado por eles a 1$650 réis o almude.

1829 — Chega a noticia de terem subido ao Oratório da Relação do Porto e réus sentenciados "(foram executados no dia 9 deste)" por opiniões políticas, um era sargento de cacadores 10 e o outro era estudante, de Albergaria. Foram mais 3 presos sentenciados "(entre os quais o Bandeira escrivão desta vila)" a diferentes degredos por toda a vida. PL. José de Sousa Bandeira, escrivão do judicial e notas desta vila, casado natural de Lisboa e residente nesta vila de 39 anos, foi sentenciado a ir degredado por toda a vida para o presídio de Pongo Andongo, pena de morte se voltar, e assistir às execuções.

1863 — A Câmara felicita El-Rei pelo nascimento do princípe real, D. Carlos.

1882 — A Assembleia geral da Sociedade Martins Sarmento delibera criar na sua casa um instituto escolar, por constar findava o colégio das Hortas.

1883 — A filha mais velha do surrador Fitas, casada com surrador, moradores na mesma casa no Eirado do Forno, fez, de tarde, tal banzé com o seu marido, dentro em casa, que os vizinhos saíram para a rua, cuidando que havia incêndio, o marido, deixou-a e veio para a loja, ela, por ele assim proceder e não lhe ligar importância, julgou-se desconsiderada e veio á varanda no 2º andar, pendurou-se da parte de fora pelas mãos, grita, os que estavam na rua acodem, esticam nas mãos um cobertor (o marido também segurava uma das pontas), ela vendo que não tinha perigo desagarrou-se e veio cair no cobertor. Não faltaram risos e comentários.

1884 — Tendo precedido 2 dias de Preces, sai em procissão da sua igreja imagem de S. Sebastião, por causa da aproximação da cólera, o qual foi acompanhada por grande número de fiéis, tomou parte na procissão, acompanhando-a o arcebispo de Mytelene, João Rebelo Cardoso de Menezes: era eleito mas ainda não estava sagrado.

1907 — Entusiástica e animada manifestação à noite, promovida pela direcção da Associação Comercial, em sinal de regozijo pela nova vitória alcançada pelas armas portuguesas na gloriosa campanha contra os Cuamatas; no cortejo incorporaram-se duas bandas de música, diversas associações e muitos populares. Na noite anterior, com o mesmo fim, o elemento militar do 20 de infantaria, organizou uma marcha aux flambeaux, acompanhada da sua banda, com um entusiasmo muito frio.

1910 — Ao meio dia e poucos minutos chegou ao largo de Nossa Senhora da Oliveira uma força do 20 de infantaria, que veio pela rua Nova de Santo António e rua da Rainha, estando aí bastantes populares. Nos paços do concelho, o já administrador, Eduardo de Almeida Júnior, nas janelas, estando rodeado de diversas autoridades, aos 22 minutos leu a proclamação da República e içou a bandeira vermelha e verde, aos 25 minutos. Toda a oficialidade e força do 20 prestaram a continência à bandeira, ou vindo-se então muitos vivas à república portuguesa, à pátria, ao exército, ao povo português e ao administrador do concelho. A força militar desfilou em continência em frente à bandeira, seguindo logo pelas mesmas ruas por onde viera, para o quartel, indo atrás da força a banda de música "Boa União", após esta a comissão republicana acompanhada de bandeiras, depois a banda de música terminando o préstito por bastante povo que ia vitoriando o novo sistema ao som das músicas que durante o trajecto até ao quartel foram tocando a "Portuguesa", e chegando aí, também com as devidas honras, foi içada a bandeira nacional sobre o portal do quartel. Houve sempre completo sossego neste dia. Algumas noites seguintes percorreu as ruas da cidade uma marcha aux flambeaux e republicanos a darem vivas e empunhando bandeiras republicanas. Sempre boa ordem.

Fonte: Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento.