Efemérides vimaranenses: 24 de Setembro

O Convento de Santa Clara, numa fotografia antiga

Algumas das efemérides vimaranenses deste dia, coligidas por João Lopes de Faria:

1568 — O ex-alcaide desta vila, João Mendes, fez procuração para a demanda de divórcio que trazia com Isabel Gonçalves sua mulher, perante os desembargadores e vigários de Braga, sobre o dito divórcio, alimentos e outras coisas. – Nota de Manuel Gonçalves -

1628 — A mesa da Misericórdia risca de irmãos os vereadores Pedro Machado de Miranda, licenciado Miguel de Morgade, Sebastião Afonso de Carvalho e o mister Francisco Simões, por impetrarem provisão régia que não concedia a terça das imposições para as obras da casa, como há muitos anos lhe era concedida.

1678 — Às 3 horas da manhã falece o cónego tesoureiro-mor Baltasar Dias de Fonseca, natural da vila de Tomar, onde residira algum tempo estando censurado. O Cabido, em 6 de Setembro de 1632 privou-o de voz activa e passiva por ser indigno, em razão de diversos maus procedimentos; levantou-lhe esta pena a 4 de Março de 1633. Sucedeu-lhe o seu coadjutor Nicolau Dias de Matos, cuja posse tomou a 11 de Outubro de 1670

1710 — Nasceu Luís António da Costa Pego de Barbosa. Foi insigne protector da basílica de São Pedro, para cuja igreja conseguiu tal título, e benfeitor do convento das Capuchas e de outras corporações religiosas. Era filho de Francisco da Rosa Veloso e de D. Isabel da Trindade; escreveu diversas místicas obras.

1723 — Carta régia noticiando à Câmara o nascimento dum infante, para que faça os costumados festejos.

1768 — O arcebispo D. Gaspar manda às freiras de Santa Clara que, sob pena de excomunhão, não façam doces de forno para pessoa alguma eclesiástica ou secular, ainda que lhes mandem o necessário para eles, excepto para os pais delas freiras, por motivo de moléstia, uma ou outra vez no ano, em quantidade que se reconheça ser por necessidade para moléstia; e recomenda à abadessa que faça por extinguir, por ser abuso inteiramente ao espírito da vida e observância religiosa, o costume das freiras fazerem doces para vender. Também, sob a dita pena e privação de voz activa e passiva, lhes ordena não seja emprestado para fora objecto algum da igreja ou convento dedicado ao culto divino.

1784 — O arcebispo D. Gaspar faz visitação à paróquia de S. Sebastião na igreja de S. Dâmaso por estar em obras a de São Sebastião. Na carta da visitação, lê-se: - Também chegou à nossa notícia por meio da devassa e por informações particulares, que alguns eclesiásticos davam grande escândalo na vila com o uso de vestidos alheios do seu estado; e assim passeavam nela e iam a várias funções e romarias; porquanto éramos ditos vestidos de cores alegres palhetadas de ouro e prata, e com guarnições indecentes e abotoa dures; de tambaque; e até usavam de gravatas e de golas de renda, e folhos à imitação dos seculares, de sorte que, a não serem conhecidas as suas pessoas, se não distinguiriam no hábito dos ditos seculares: e reconhecendo os mesmos eclesiásticos esta muito repreensível corrupção, nenhum, enquanto estivemos na dita vila, se atreveu a usar de semelhantes vestidos; porém sendo muito para temer que na nossa ausência se renove a dita corrupção e mau exemplo, que tem dado, tão indecoroso ao estado, é necessário aplicar algum remédio.

1814 — Morre em Madrid, onde tinha ido em nome dos Reis de Portugal para felicitar D. Fernando 7.º pela sua restituição ao trono de Espanha, o D. Prior de Guimarães, D. Luís Maria de Saldanha Oliveira e Sousa, filho do morgado de Oliveira, António de Saldanha Oliveira, e de sua mulher D. Constança de Portugal, não chegando a cumprir a missão de que fora encarregado. Foi sepultado no Campo Santo daquela cidade, na paróquia de S. Luís, e às suas exéquias concorreu a maior parte da grandeza daquela corte, concorrendo com o seu funeral o ministro de Portugal, que então era o Morgado de Mateus, D. José Maria de Sousa Botelho.

1845 — Saiu em procissão a Senhora das Dores dos terceiros. Domínicos, para Deus Nosso Senhor dar bom tempo, para se poderem fazer as colheitas, pois já há muito tempo que chovia, estando os renovos muito atrasados. Pelo mesmo tempo se fizeram Preces em quase todas as igrejas da vila pelo mesmo motivo. P.L.

1877 — 2ª feira – Às 7 e meia horas da manhã, no largo de Nossa Senhora da Guia, um criado do estalajadeiro José Miguel, de nome Roque José da Silva, foi rudemente mordido num braço por um gato atacado de hidrofobia. Aos gritos de socorro dados por o ferido, acudiu a gente da casa e os vizinhos, que a custo puderam livrar a vítima do animal. O gato fugiu, e, sendo perseguido de perto, foi morto a tiro pelo merceeiro fronteiro, António Serafim Afonso Barbosa e o ferido foi imediatamente curar-se à botica Martins, nos Trigais, sendo-lhe cauterizadas as feridas. – De manhã no “Hotel de Guimarães”, largo de Nossa Senhora da Oliveira, o hóspede Henrique José da Costa, de 44 anos, casado, mestre-escola, natural de São Pedro de Cerva, de Ribeira de Pena, despenhou-se do 2.º andar do mesmo hotel para a rua, onde ficou em mísero estado. Ungido imediatamente, foi levado em maca para o hospital da Misericórdia, onde morreu à uma e meia hora da tarde deste mesmo dia 24, de contusões fortes e fractura do crânio. Estava alucinado mentalmente, porque na Póvoa de Varzim, donde vinha, quisera por mais de uma vez atirar-se de cima do paredão ao mar, e pelo caminho da Póvoa até aqui muitas vezes dera que fazer aos que o acompanhavam para o segurarem, por querer por força sair do carro e atirar-se entre os cavalos. Aqui, quando foi chamado para almoçar, deixou ir adiante os seus companheiros, e atirou-se da janela abaixo.

Fonte: Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento.