Esclarecimento da Direcção da Sociedade Martins Sarmento sobre o Castro de S. Bartolomeu
No monte de S. Bartolomeu, onde as freguesias de Figueiredo, Leitões e Sande S. Clemente se encontram, existe, de facto, um castro, há muito identificado, e que consta na Base de Dados Endovélico, do antigo Instituto Português de Arqueologia, que pode ser consultada em www.ipa.min-cultura.pt.
Os vestígios arqueológicos do Monte de S. Bartolomeu foram descritos, ainda no século XIX, por Francisco Martins Sarmento, que procedeu ao reconhecimento do local, no âmbito do levantamento sistemático de sítios e monumentos arqueológicos a que procedeu no concelho de Guimarães e em toda a região de Entre-Douro-e-Minho. Nos apontamentos de Arqueologia de Martins Sarmento, editados pela SMS, encontram-se referências a este monumento e aos vestígios arqueológicos que então foram detectados pelo arqueólogo vimaranense.
As informações recolhidas no levantamento de Martins Sarmento têm sido corroboradas por vários arqueólogos.
No 2.º Congresso de Arqueologia Peninsular, que teve lugar em Zamora, em 1996, António Pereira Dinis incluiu este local no seu inventário do “Povoamento do Baixo Ave no 1.º Milénio a.C.”.
Em 1999, no âmbito do Estudo de Impacto Ambiental que precedeu a construção do troço que liga Guimarães a Braga da auto-estrada A11, uma equipa de arqueologia identificou e descreveu aquele monumento, no levantamento de reconhecimento no terreno confinante ao corredor da via. O arqueólogo responsável pelo estudo, Ricardo Teixeira, caracterizou da seguinte forma os vestígios que ali foram identificados:
“Povoado fortificado com várias linhas de muralhas. Trata-se de um povoado de grandes dimensões, implantado no cume de S. Bartolomeu no limite Sudeste da Serra da Morreira. Foram detectadas à superfície cerâmicas micáceas, datáveis da Idade do Ferro”.
Tendo em conta as informações disponíveis, é inegável a existência de vestígios arqueológicos significativos no alto de monte de S. Bartolomeu, e certamente nas suas vertentes, já que ali existiu um castro da Idade do Ferro, com várias linhas de muralhas, um povoado fortificado da mesma família dos que estão identificados em Briteiros, no Sabroso, no Alto das Eiras ou em Lanhoso. Como é óbvio, a prospecção, o estudo e o inventário de vestígios com esta natureza, frequentemente imperceptíveis para o olhar de não especialistas, é trabalho para arqueólogos, devendo preceder todas as intervenções similares àquela que ali se realizou recentemente.
Assim sendo, urge agora averiguar se os trabalhos de abertura do caminho de acesso ao alto do monte de S. Bartolomeu provocaram danos nos vestígios arqueológicos, nomeadamente ao nível dos alinhamentos de muralhas ou dos estratos de ocupação existentes. Para tal, deve ser solicitada a intervenção da entidade que tem a tutela legal sobre o património arqueológico nacional, o actual IGESPAR, IP, de modo a assegurar que, caso se revele necessário, se apliquem medidas que visem a minimização do impacto da intervenção já realizada e a salvaguarda daquele bem patrimonial.
A Direcção da SMS termina este esclarecimento lamentando que se tenha avançado para esta obra sem uma prévia avaliação dos seus possíveis impactos e sem o acompanhamento técnico que a mesma impunha, o que poderia ter sido evitado a partir de uma simples leitura de informação que está acessível para consulta pública, e disponibiliza-se para prestar a sua colaboração para que seja encontrada uma solução que permita limitar os danos eventualmente causados por uma intervenção menos avisada.
Guimarães, 14 de Abril de 2008
A Direcção da Sociedade Martins Sarmento