Presépio de figurado de Barcelos
Presépio de figurado de Barcelos
Super Categoria Etnologia
Categoria Artes plásticas
Subcategoria Olaria figurativa
Nº Inventário ET-0463
Denominação Presépio de figurado de Barcelos
Autor Domingos Gonçalves Lima - "Mistério"
Cronologia 1965
Fabrico/ Marca Oficina do Oleiro "Mistério", Galegos Santa Maria, Barcelos
Tema Religião
Técnica Moldagem - Modelagem
Marca Assinado na base, lado direito "MISTÉRIO"
Matéria Barro branco, arame e tintas multicolores
Dimensões 28 x 31 x 22,5 cm
Incorporação Oferta de Margarida Rosa Cassola Ribeiro em 30 de Março 1971.
Descrição: A obra mostra uma representação artesanal do Presépio de Natal.
O presépio retrata o nascimento de Jesus e inclui figuras como a Sagrada Família; os três Reis Magos; os animais; o Anjo e estrela.
São José - Figura de barro representando S. José ajoelhado, envolvido numa veste azul-turquesa pregueada, que se cruza com manto amarelo ocre, que lhe cobrem todo o corpo. O manto apresenta-se franjado, com as franjas incisas e pintadas de dourado. O braço direito, encontra-se arqueado, com a mão direita fechada, empunhando um cajado, enquanto leva à cara a mão esquerda aberta. A cabeça tem cabelo grisalho, riscado com incisões. O rosto está coberto por bigodes e barba cinzenta. As orelhas são salientes, com o ouvido marcado, os olhos duas ovais incisas com um ponto negro central, o nariz é proeminente, triangular, com uma placa semicircular horizontal que as narinas perfuram, sendo a boca uma incisão horizontal com o interior pintado a vermelho. Apresenta uma auréola circular no topo da cabeça, dourada, recortada nos bordos, enfeitada com incisões circulares, e linhas retas e oblíquas. O cajado é composto de uma haste feita com um segmento de arame pintado de amarelo.
Nossa Senhora - Figura de barro representando Nossa Senhora, ajoelhada, com a cabeça coberta por um véu branco, veste uma túnica branca pregueada, adornada com linhas verticais douradas. As mãos sobressaem da túnica branca, cruzadas. O rosto é afilado, com o queixo apontado. Por baixo do véu, pequenas incisões figuram os cabelos em franja. Os olhos são duas incisões ovais perfuradas com um ponto negro ao centro, o nariz é saliente, triangular, com as narinas perfuradas, sendo a boca uma incisão horizontal, com os lábios salientes e o interior pintado de vermelho. Apresenta uma auréola circular dourada no topo da cabeça, recortada nos bordos, enfeitada com incisões circulares e linhas retas e oblíquas.
Menino Jesus - Figura de barro representando o Menino Jesus deitado sobre palhinhas. Estas são feitas com segmentos tubulares dispostos verticalmente, apoiados sobre outros segmentos, dispostos paralela e horizontalmente. O menino encontra-se deitado, com o corpo despido, as pernas esticadas, os pés com os dedos marcados, uma perfuração figurando o umbigo, de braços abertos ao alto. No rosto as orelhas são salientes, os olhos são duas incisões ovais e um ponto negro perfurado no centro, o nariz é proeminente, de forma triangular, com as duas narinas perfuradas. São visíveis as bochechas e o queixo, e a boca com o interior vermelho. O cabelo é escuro, com incisões.
Reis Magos - Três figuras com coroas, recortadas nos bordos, vestes coloridas e presentes simbólicos.
Vaca deitada - Figura de barro representando uma vaca deitada , de cor castanha-ocre. O corpo do animal, é semicilíndrico, sendo as coxas traseiras e dianteiras, de ambos os lados, marcadas com incisões profundas, salientando as patas encostadas ao corpo e os cascos pintados de negro. Uma comprida cauda negra, rodeia a pata traseira. O pescoço está levantado, sendo ladeado por uma fileira de incisões pintadas de negro. A cabeça apresenta dois cornos paralelos recurvados e pontiagudos, pintados a branco com a ponta negra. Por baixo as orelhas aparecem espetadas, ovais. Os olhos são ovais, grandes, incisos, brancos com um ponto negro perfurado ao centro. O focinho saliente tem a forma cilíndrica, com duas perfurações na ponta figurando as narinas e a boca aberta, pintada de vermelho no interior.
Burro deitado - Figura de barro representando um burro deitado de cor cinzenta. O corpo do animal, é semicilíndrico. O pescoço é cónico, com um dos seus lados coberto por incisões sucessivas, negras, figurando a crina. No topo da cabeça, as orelhas triangulares apontam para cima, sendo o interior oco e pintado de cinzento. Dispostos lateralmente, os olhos são ovais, grandes, incisos, brancos com um ponto negro perfurado ao centro. O focinho saliente tem a forma cilíndrica, com duas perfurações na ponta figurando as narinas e a boca aberta, pintada de vermelho no interior.
Anjo e Estrela: Um anjo a flutuar acima das figuras e uma grande estrela dourada no topo do presépio, simbolizando a Estrela de Belém.
Galo: Na tradição cristã, é o responsável pelo despertar das alvoradas "o galo cantou à meia-noite do nascimento de Jesus".
Cenário: A cena está montada sob um arco azul claro decorado com estrelas e bordas triangulares, recortadas e douradas.
Origem/Historial Faz parte da série de objetos de artesanato popular, que pertenciam à coleção particular da senhora D. Margarida Ribeiro (1911-2001), que doou à Sociedade Martins Sarmento entre 1969 e 1971, composta por 47 objetos de diferentes regiões do país, na sua maioria de Estremoz e Barcelos.
Autor Domingos Gonçalves Lima nasceu a 29 de Agosto de 1921 em Galegos São Martinho. Filho de mãe solteira, a trabalhar em Espanha, foi criado pela avó, Rosa Gonçalves Lima. Conta que a alcunha "Mistério" lhe tinha sido dada por ser uma criança débil, e os vizinhos dizerem ser um mistério ter sobrevivido. Aprendeu a fazer figurado com a avó, bonequeira, que o vendia na feira semanal de Barcelos. Inicialmente, fazia coisas simples, juntamente com a sua avó, para vender. Aos 12 anos, as suas peças já revelavam algum domínio da técnica do figurado de barro. Abordava temas do quotidiano rural, representando matanças do porco, juntas de bois e animais diversos. Por influência de uma educação profundamente religiosa, reproduziu esta temática nas alminhas, santos populares, presépios, Reis Magos, Ceias, Nascimento e Morte de Jesus. Devido às características das suas peças, sempre com um toque de humor, é bem aceite pelo público que o conhece pela alcunha de "Mistério", nome com que assina as peças. Casou-se com Virgínia Esteves Coelho (1924-2013), de quem teve doze filhos. Passou a vender por conta própria, mercadoria que comprava nas fábricas e peças a molde que fabricava com a mulher. Na década de 60 a notoriedade de Rosa Ramalho trouxe novo valor ao figurado feito à mão, que passou a ser vendido, já não como brinquedo de criança, mas como criação individual, peça única, para uma clientela urbana que procura o artigo em casa do artesão. Surgem as Feiras de Artesanato, no Estoril, em Belém, no Porto, Mercado Ferreira Borges, em Vila do Conde, onde os artesões expõem o figurado e trabalham ao vivo. "Mistério" cria um tipo de figuras com características próprias, de grandes orelhas, narizes desmesurados, olhos salientes. Sempre com um toque de humor, satiriza, cria Diabos a quem juntou a companheira e a família, a diaba e os pequenos diabinhos. Atento, reproduz cenas do quotidiano de trabalho e festa, figuras em atividades rurais. Recria o bestiário, galos, ouriços, figuras híbridas, fantásticas. Distingue-se nas cenas religiosas, as procissões de vários altares e numerosos participantes, as Alminhas em que põe padres e bispos no Inferno, no candelabro para sete velas, uma menorah que celebra o nascimento e a morte de Jesus, na Última Ceia, nos diversos tipos de presépios. Era a sua mulher Virgínia que pinta as figuras, acompanhando o gosto pela sátira do marido com as suas cores vivas, primárias, e a indiferença pelo realismo, roçando uma espécie de absurdo alegre - os Reis Magos de calças ou camisas cor-de-rosa vivo, São José de túnica azul-turquesa, cores que se tornaram igualmente uma das características definidoras do figurado de "Mistério".
Ganhou o primeiro prémio no III Salão de Artesanato do Casino Estoril com a peça Procissão Minhota, em 1983. Domingos "Mistério" morre em 1995. Os seus filhos Francisco e Manuel, que sempre trabalharam com o pai, continuam a sua obra, acrescentando novas criações aos modelos do pai e assinam as peças por "Mistério Filho F." e "Mistério Filho M."
Bibliografia
- CARDOSO, Cátia Daniela (2019). Memória e Identidade: Novos Paradigmas da Olaria e Figurado de Barcelos. Porto: Escola Superior de Educação. Dissertação de Mestrado.
- CARNEIRO, Eugénio Lapa (1962). Donde vem a confusão entre louças do Prado e louças de Barcelos. Barcelos.
- CEARTE. (2014). Caderno de Especificações para a Certificação. Câmara Municipal de Barcelos. [https://www.cearte.pt/public/media.501711554/files/gpao/191_CE_Figurado-Barcelos_20191127.pdf]
- CORREIA, Ana Rita Oliveira (2021). Bonecos, Coleção e Museu. O Figurado de Barcelos pelas mãos de Sellés Paes. Vol. I. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
- CORREIA, João Macedo (1965). As Louças de Barcelos. Cadernos de etnografia, nº 4. Barcelos: Oficinas Gráficas da Companhia Editora do Minho.
- JÚNIOR, J. R. Santos, Bonecos de Barro (1940). «Vida e Arte do Povo Português», Lisboa.
- PEIXOTO, Rocha (1966). As Olarias de Prado: Cadernos de Etnografia, nº 7, Museu Regional de Cerâmica.
- RIOS, Conceição (2006). Figurado de Barcelos: Desenhos de Barro. Câmara Municipal de Barcelos: Museu de Olaria
- REINA, Carina; MOSCOVO, Patrícia (2010). Variações sobre um tema: Figurado Barcelense: de Rocha Peixoto a Rosa Ramalho. «Boletim Cultural Póvoa de Varzim», 44, 7-45.
- Sociedade Martins Sarmento (1995). Exposição inventário de artesanato: olaria popular [catálogo].
- VILLAS BOAS, Joaquim Sellés Paes (1948). Notas de Cerâmica Popular III. O Vocabulário dos Oleiros de Barcelos in Separata do Vol. III de Ethnos, Lisboa



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