Exposição GREENHOUSE II de Isabel Garcia | 12 Maio | 18h00 | Galeria de Exposições SMS
Preocupações
(de uma semeadora)
a pensar
no tempo por vir
Desde os anos 80 e 90, em exposições recentes como "Matriz" (Galeria Serpente, 2019), "Seed" (Galeria Arte Periférica, 2020) ou "Seedland" (Laboratório do Museu de História Natural, 2021), que Isabel Garcia aprofunda coerentemente linhas de pesquisa que exploram diversas linguagens e ideias interligadas que interrogam os princípios geradores da vida, senão mesmo o habitar do mundo contemporâneo nas suas várias dimensões sociais e políticas. Estas linhas de investigação que descrevi não são separáveis dos materiais e médiuns artísticos, pois a artista vem alargando, cada vez mais os seus interesses a outros campos como o vídeo, a fotografia ou os livros de artista.
Uma das principais
preocupações da sua pesquisa é a ideia de "matriz", mobilizadora do
seu processo e prática artística, princípio esse que associa às tensões da vida
do mundo humano, animal e vegetal, explorando-as através de oposições ou
complementaridades entre conteúdo e forma, o dentro e o fora, o natural e o
artificial, o orgânico e o inorgânico. Com efeito, os seus pequenos
objectos-esculturas em bronze, polidos, patinados ou pintados de intenso
pigmento azul ultramarino, depois de cortados e separados em partes, ou em
fatias (como os pães), vêm a servir de diálogo entre médiuns cujas formas
obtidas, desdobrando-se ou multiplicando-se, se configuram em novas sementes de
desenhos-frottages. Em grafite ou carvão e mesmo em
aguarelas, eles evocam e representam sementes, raízes, ambientes líquidos,
abrigos ou habitações.
Porém, o que interessa
assinalar nestes trabalhos actuais de colunas de água, tornados e tufões que
arrastam sementes com matrizes "caídas do céu" espalhadas pelo chão,
são como já acima referi, os seus significados impregnados por preocupações
existenciais contemporâneas. Neste sentido, a artista volta de novo à
referência das «green houses" que já imaginara na Bienal de Escultura e
Desenho das Caldas da Rainha (1993).
A "green house"
encenada no espaço da galeria é uma estrutura que permite repensar a protecção
de seres vivos como sementes e plantas. Interessante é lembrar, por isso mesmo,
a história do seu uso na Europa desde o século XVII e da sua evolução. Elas
deram origem à arte e à ciência da jardinagem a qual, enquanto prática, aponta
para uma adaptação às condições locais de modo a ajudar, entre outras coisas, à
multiplicação de sementes e de plantas.
É com base
nestas ideias que me parece que Isabel Garcia privilegia um tempo por vir ou a
ideia de invenção de uma outra realidade, talvez utópica, mas indicando o
futuro no contemporâneo. Isto é, ao evocar o caos primordial - o dos desastres
naturais que hoje nos assolam-, a artista parece dizer-nos que eles só podem
ser vencidos se criarmos arquivos de sementes, a salvo de violências e
destruições. São essas "green houses" que urge potenciar. Em suma,
locais onde poderemos guardar patrimónios vivos criadores de vida.
FILOMENA SERRA, 29 DE MARÇO
DE 2022
ISABEL GARCIA
Isabel Garcia nasceu na Figueira da Foz, licenciou-se em Pintura
na ESBAL, vive e trabalha em Lisboa e Alcobaça.
Em 1985 foi subsidiada pela F. C. Gulbenkian para investigar a interligação
de diversos materiais como o ferro, vidro e aço polido.
Começou por se dedicar à interpretação dos fenómenos
atmosféricos e telúricos de um ponto de vista poético-mitológico, recorrendo a
duas linguagens de expressão.
Por um lado, através da escultura, onde explora o reflexo e
multiplicação de imagens através da utilização do aço polido em chapa ou em
tubo, em associação com o espelho. Esta tem sido uma das vertentes do seu
trabalho desde os finais dos anos 80, na recriação de um universo onde o macrocosmo e o
microcosmo se interpenetram.
Por outro lado, através do desenho sobre superfícies translúcidas a
que chamou skins, e que surgem em 2004, associadas a frottage sobre
papel de arroz, que decalca repetidamente de uma matriz. A
matriz resultante do corte feito sobre esculturas em bronze, tem sido um dos
instrumentos de registo sobre papel, resultando numa série de exposições de
que fazem parte "Matriz", "Seedland" e "Greenhouse/Semear".
A instalação e o vídeo, têm feito parte das suas intervenções em
espaços institucionais, como "Mesas Postas" na
cozinha do Mosteiro de Alcobaça, "Rosa Rosae" no Claustro do Museu
Alberto Sampaio em Guimarães, "Love Affair" no Convento dos Capuchos,
promovida pela Casa da Cerca de Almada, "Tormenta" na Ala Sul do Mosteiro de Alcobaça e
"Seedland" no Museu Nacional de História Natural e da Ciência.
Expõe regularmente desde 1981 em Galerias de Arte e Espaços
Institucionais.
Participou e inúmeras exposições colectivas em Portugal e no
estrangeiro.
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