Seguindo os “trilhos” de Sarmento: novas gravuras rupestres nos Montes de S. Romão e do Coto de Sabroso, em Guimarães
Nas suas inúmeras subidas aos Montes de S. Romão e do Coto de Sabroso (freguesias de S. Salvador de Briteiros e Sande S. Lourenço) no topo dos quais se localizam a Citânia de Briteiros e o Castro de Sabroso respectivamente, Martins Sarmento foi deixando notícias da existência de arte rupestre ao longo dos caminhos e tapadas.
Entre 1 a 15 de setembro de 2020, numa cooperação habitual da Sociedade Martins Sarmento (SMS) com o Departamento de História da Universidade do Minho (DHUM), decorreu um estágio de campo que teve como objectivo descobrir algumas das gravuras rupestres registadas por este investigador e dar continuidade aos trabalhos iniciados por Daniela Cardoso no âmbito da sua tese de doutoramento intitulada “A Arte Atlântica do Monte de S. Romão (Guimarães) no Contexto da Arte Rupestre Pós-paleolítica da Bacia do Ave – Noroeste Português”.
A campanha arqueológica deste ano, dirigida pela Professora Doutora Ana M. S. Bettencourt (DHUM), em colaboração com a Doutora Daniela Cardoso (SMS) contou com a presença de cinco alunos do Mestrado em Arqueologia. Apesar das dificuldades relacionadas com o coberto arbóreo e arbustivo dos terrenos, ainda assim, foi possível descobrir 12 novos sítios com gravuras rupestres, principalmente nas vertentes sudeste e sudoeste do Monte do Coto de Sabroso (9), na área do Castro de Sabroso (1) e na área da Citânia de Briteiros (2), embora nenhum deles coincida com os desenhos deixados por Martins Sarmento, o que deixa prever que a quantidade de gravuras rupestres nestes montes é muito superior ao que se pensava.
Além da prospeção e da inventariação dos sítios foi realizada a sua limpeza superficial possibilitando o seu levantamento fotográfico diurno e noturno, o seu decalque, assim como o levantamento fotogramétrico. Esta nova tecnologia foi também aplicada a estações rupestres já conhecidas, como é o caso da Quinta do Paço.
As gravuras rupestres agora descobertas revelaram um reportório iconográfico de grande diversidade e originalidade, como é caso de representações de equídeos e de um serpentiforme. Foram ainda descobertas novas estações de arte atlântica, com distintos motivos circulares, onde se inclui um labirintiforme, além de gravuras de simbologia cristã.
Estas manifestações rupestres inserem-se em distintas cronologias demonstrando que a tradição de gravar nos afloramentos é milenar.
Usando métodos comparativos de datação, é possível admitir que as gravuras mais antigas e abstractas (arte atlântica) terão sido realizadas no 4º e 3ª milénios a.C. (Neolítico e Calcolítico) em parte contemporâneas dos dólmenes, enquanto os equídeos poderão ter sido gravados pelas comunidades que viveram nos povoados de Briteiros e Sabroso (1º milénio a.C). As gravuras de simbologia cristã serão de época medieval ou moderna, importantes na medida em que marcam caminhos antigos, hoje em vias de extinção e cuja memória urge preservar.
Trata-se de um património que é necessário proteger, quer para valorizar a arqueologia do concelho de Guimarães e o conhecimento do seu passado, quer, porque, em articulação com outros bens patrimoniais, como os já conhecidos monumentos arqueológicos da Citânia de Briteiros e do Castro de Sabroso, poderá constituir um novo atrativo pedagógico e turístico.
Apesar dos milhares de anos que nos separam destas representações, foi interessante verificar, junto da comunidade local, que alguns dos sítios com arte rupestre que se encontram nos trilhos outrora percorridos por Sarmento e frequentados pela população, permaneceram significantes na “memória popular”, quer através da toponímia, quer de lendas como é o caso do lugar das Pegadinhas.
Apesar destas descobertas, continuam por identificar os sítios relatados por Martins Sarmento, que poderão correr perigo de destruição.
(Departamento
de História da Universidade do Minho, Lab2PT)
(Sociedade
Martins Sarmento, CGUC)
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