Efemérides vimaranenses: 2 de Dezembro

Albano Belino (à direita de bigode). À esquerda, o Padre Gaspar Roriz.

Algumas das efemérides vimaranenses deste dia, coligidas por João Lopes de Faria:

1697 — Gonçalo Peixoto da Silva de Macedo de Carvalho, fidalgo, como tutor dos seus 2 netos, filhos do seu genro Gonçalo Lopes de Carvalho Fonseca e Camões, obriga-se aos frades de S. Domingos, na nota de António Ribeiro, a fazer a capela na sacristia (é a actual) da igreja dos ditos frades, no sítio em que já estava principiada.

1718 — Ordem ao Provedor, mandando correr as moedinhas de ouro de 480 réis novamente cunhadas.

1747 — O Arcebispo de Braga, D. José de Bragança, que estava residente em Guimarães, visita a gruta ermida de Nossa Senhora da Penha. Comemorava esta visita o seu retrato na casa hospício, o qual, por ocasião da inauguração do monumento a Pio IX, 1882, foi arrumado para o sótão e, como traste velho, de lá desapareceu.

1758 — O Arcebispo tendo muitas queixas de que as freiras de Santa Clara de Guimarães costumavam pela festa do Natal gastar a maior parte do tempo a fazer doces, devendo gastá-lo em servir a Deus, e de que também costumavam fazer várias danças e entremezes profanas, de que tinha resultado grande relaxação da modéstia regular: ordena à abadessa que reúna em capítulo as religiosas e lhes faça saber a este respeito o desgosto dele arcebispo, ordenando-lhes se abstenham de fazer todo o género de doces, desde que principie o advento até 7 de Janeiro de cada ano, e menos lhes consinta fazerem bailes ou entremezes e músicas profanas, porque do contrário ele arcebispo curaria doutros meios para acabar com tais abusos.

1875 — A Câmara faz rematar em hasta pública o tronco da Oliveira e a grade que a circuitava, existente em frente à Colegiada, que tinha expropriado ao Cabido.

1896 — Chegou neste dia e retirou no dia 9 António Batalha Reis que, a pedido do Sindicato Agrícola de Guimarães, foi comissionado pela comissão das obras públicas para dirigir a preparação dos produtos que iam ser remetidos à exposição de Bordéus, e ao mesmo tempo concluir os seus estudos e ensaios vinícolas, suspensos desde a vindima. No dia 8 em reunião de muitos sócios do Sindicato fez uma conferência.

1900 — - Domingo - Perto das 4 horas da tarde, realizou-se no lugar onde estava a igreja de S. Sebastião, pelos estudantes, a exibição - Uma sessão de espiritismo - que foi de belo resultado. Depois das 4 horas da tarde chegou do Porto, a fingir um entendido em assuntos espíritas, acompanhado da célebre medium D. Tonia Feitiça que trajava um modesto vestido do merino preto, capa da mesma cor, chapelinho às 3 pancadas e 1 mosqueiro que lhe cobria parte do rosto encantador. Suas excelências tiveram na estação de Vila Flor ou do Cavallinho uma imponente recepção. Estava lá tudo, mas a fingir, estudantes, zé povinho, médicos, vereadores, galuchos, sopeiras e a tuna do Zé Lopes (estudante, coxo e beberrote, com um trombone, de que tirava algumas notas desafinadas) com a [ilegível] bandeira expressamente bordada por delicadas mãos de fada. O mestre João Inácio e mais músicos a muito custo lá apareceram (estiveram à espera de paga adiantada, porque nos festejos dos últimos anos pregaram-lhe o geco). Depois dos cumprimentos do estilo: Como chegaram? Chegaram bem? Seguiu o cortejo pela avenida, que estava cheia de lama, Campo da Feira, rua da Rainha, Toural, campo de S. Francisco onde teve lugar a exibição e não no lugar acima referido. As janelas das casas fronteiras estavam repletas de damas, e cá em baixo enorme multidão ria a bom rir dos ditos inofensivos da alegre rapaziada. Toda a gente se espantou ao ver surgir o espírito do conselheiro João Canuto - era um estudante muito pequeno, devido a ser marreca, por uma criada o deixar em criança, mas era mau, devido ao muito mimo que o pai, José Joaquim de Oliveira (filho) o célebre escrivão de direito, da herança Esteves Ribeiro, lhe dava e os amigos do pai que todos o traziam nas tainas, cafés, &ª. e lhe puseram o nome de conselheiro.

1906 — À uma e meia hora da tarde faleceu na rua de Camões, em casa da família da esposa, Albano Ribeiro Belino. Era natural da vila de Gouveia, veio para marçano da tabacaria de José Joaquim de Lemos, o Lixa, à Porta da vila, e aí era freguês o cónego António Joaquim de Oliveira Cardoso, que, conhecendo-lhe a inteligência, ensinou-lhe metrificação fazendo-o poeta; Belino, frequentava a casa do cónego, onde tomou amores e casou com uma sobrinha dele (quarentona, grande diferença nas idades); foram viver para Braga onde se tornou arqueólogo (gratificando bem o Dr. Pereira Caldas). Teve um insulto apopléctico.

Fonte: Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento.