Sociedade Martins Sarmento no Notícias de Guimarães
Da edição de hoje do jornal "Notícias de Guimarães", transcrevemos a seguinte notícia:
Sem se tratar de uma prenda de aniversário e apesar da falta de apoios financeiros por parte do Estado, a Sociedade Martins Sarmento (SMS) está a ultimar um conjunto de projectos que passam pela nova imagem daquela instituição, pela criação de um conjunto de réplicas de algumas das suas peças mais emblemáticas, pela renovação da biblioteca e do museu arqueológico. Em simultâneo está a trabalhar para a abertura de uma quinta pedagógica em Briteiros.
A poucos dias da festa dos 124 anos da Sociedade Martins Sarmento, que nasceu com o objectivo de homenagear o arqueólogo Francisco Martins Sarmento e promover o desenvolvimento da instrução primária, secundária e profissional, Amaro das Neves fala ao NG dos projectos a realizar e da ‘saúde’ financeira da instituição. E enquanto exibia uma réplica perfeita do busto de Martins Sarmento, o presidente da direcção, visivelmente satisfeito, começou por contar que estão em elaboração, no Museu Arqueológico de Odrinhas, em Sintra, um conjunto de réplicas de ‘elevada qualidade’, entre elas, duas belíssimas Senhoras da Oliveira, as jóias castrejas e um conjunto de peças das colecções de arqueologia. “As Nossas Senhoras da Oliveira são duas peças muito bonitas e com um valor simbólico muito significativo. E estarão à venda antes do Natal”, disse Amaro das Neves. O responsável explicou ainda que uma das imagens em formato maior é em bronze e fazia parte do emblema de uma aparente pedra de armas da cidade que estava num tanque que existiu junto à Torre da igreja da Oliveira e hoje faz parte do espólio da associação. A outra Senhora da Oliveira é uma imagem mais pequena, em prata, que faz parte das chaves simbólicas da cidade, entregues à rainha D. Maria II, em 1852, quando a rainha se deslocou a Guimarães.
A par das réplicas para venda está em estudo aquela que será a nova imagem da SMS no próximo ano, desde o logotipo, cartas, convites... “Neste momento estamos a trabalhar na relação da SMS com o exterior. E como hoje é muito importante a imagem e a questão da identidade gráfica para qualquer instituição estamos na fase terminal da elaboração dos diferentes materiais que irão dar corpo à nova identidade gráfica da SMS a todos os níveis, desde o novo logotipo, o novo design do boletim, da revista, etc”, acresce.
Outros projectos em curso dentro da própria sede passam pela renovação de algumas valências e pela oferta de novos serviços culturais. A longo prazo e sem apontar datas o presidente fala da intenção de renovar a biblioteca. Uma obra difícil de concretizar uma vez que implica a aquisição de novas estantes e a criação de condições ambientais de controle da temperatura, da humidade, das poeiras, entre outras, com o intuito de “conservar e preservar o espólio bibliográfico daquela instituição”, afiança. “Temos umas das melhores colecções que existe no nosso país de livro antigo, isto é, anterior a 1820. E grande parte do nosso acervo bibliográfico exige condições de conservação especiais”, justifica o presidente da instituição e fala dos encargos financeiros que isso acarreta: “Para além de encargos com o equipamento e com mobiliário exige uma operação logística que é muito complicada. Retirar dezenas de milhares de livros do situo onde estão, voltar a repô-los no novo lugar, embora no mesmo espaço, sem os perder é uma operação complexa que vai demorar o seu tempo, isto porque os custos são muito grandes para as possibilidades actuais da casa”.
A criação de um novo espaço museológico já é na opinião de Amaro das Neves uma ideia fácil de concretizar. “É mais leve do ponto de vista logístico e concerteza vamos conseguir encontrar soluções que vão tornar viável essa ideia”, sublinha. Segundo o entrevistado trata-se do museu arqueológico mais antigo do nosso país. Foi feito em finais do século XIX e até hoje mantêm as mesmas características. “E como é pouco adequado a uma leitura com uma perspectiva didáctica e pedagógica, vamos fazer com que tenha pelo menos um núcleo explicativo do próprio museu de forma a tornar-se mais adequado ao público em geral, mesmo que não tenham conhecimentos profundos de arqueologia”. Actualmente é um museu que se auto-explica, mas só para os arqueólogos, que chegam ao museu e ficam encantados com as obras que lá existem. Quando tiver uma leitura museológico contemporânea os responsáveis daquela instituição pretendem encontrar uma solução para passarem a ter as jóias da SMS naquele espaço. Assim, provavelmente a partir do primeiro semestre do próximo ano o museu estará mais acessível para visitas escolares.
Sempre com o intuito de acompanhar a evolução da sociedade, outro desafio da SMS foi a criação de um blog, onde se escreve essencialmente notícias daquela instituição. A saber: http: //sarmento.weblog.com.pt. .
'Uma mais valia para o turismo em Guimarães'.
O outro grande projecto da SMS é fora de portas, sita em S.Salvador de Briteiros junto ao museu da Cultura Castreja. Trata-se da criação de uma quinta pedagógica, com finalidades de exploração agrícola. O projecto visa produzir as mesmas espécies, quer do ponto de vista animal, quer vegetal, que eram produzidas pelos nossos antepassados, no tempo dos castros. As mesmas que se produziam entre nós há dois ou três mil anos.
O projecto a cargo de uma engenheira e um arqueólogo estará concluído dentro de pouco tempo. Entretanto já estão a ser desenvolvidas parcerias e Amaro das Neves acredita que os primeiros passos serão dados durante os próximos dois anos. Altura em que o actual presidente termina o seu mandato e porá o lugar à disposição. “Não é meu propósito fazer mais do que este mandato aqui à frente da direcção da SMS ( Março de 2007) porque é demasiado absorvente e implica uma dedicação exclusiva”.
Retomando o projecto da quinta, Amaro das Neves pensa “que vai ser particularmente aliciante para os miúdos das escolas que passarão a ter ali mais um polo de atracção que vai conjugar com outros pólos de atracção que já existem na zona desde logo a Citânia de Briteiros, o Museu da Cultura Castreja, o Museu dos Moinhos e dentro em breve o Castro Sabroso- que também temos projectos para o requalificar”, descreve. Refira-se que o Castro Sabroso tem um problema de infestação de mimosas “muito difícil de irradicar”. “A instituição já gastou milhares de contos a limpar o Castro e ao fim de pouco tempo voltava ao mesmo. Agora estamos a tentar encontrar uma solução que seja radical e definitiva, ou seja, que faça, com que o Castro Sabroso, um sitio arqueológico muito importante, passe a estar acessível ao público”, refere. Uma ajuda apontada foi o aparecimento do Ave Park naquele local. “Com o aparecimento do Ave Park ali nas fraldas do monte esta ideia vai ser concretizável”, até porque os responsáveis “já revelaram que tem intenções de o requalificar do ponto de vista florestal e refloresta-lo com espécies da região”.
Projectos que para o professor são mais do que ideias da instituição, mas poderão tornar-se em mais valias para o turismo na cidade-berço. “Estes projectos podem ser uma mais valia importante nomeadamente para o turismo em Guimarães, porque passa a criar um novo polo de atracção que tem vários equipamentos e vários pontos de interesse”. Recorde-se que com a colaboração da SMS, mas organizado pela Zona de Turismo de Guimarães está no terreno uma actividade ‘muito procurada’- um circuito pedestre que englobe toda a região. Motivos suficientes para Amaro das Neves defender que este polo pode ajudar a mudar a natureza do turismo em Guimarães. “Nós temos um turismo sem turistas. Temos um turismo de visitantes, de pessoas que vêm vistam o Paço dos Duques e o Castelo, descem ao centro histórico às vezes vão ao museu e vão embora. Não pernoitam, não usam os restaurantes e fazem poucas compras. Isto porque não são obrigados a ficar. E havendo mais do que um polo, mais do que um centro histórico, provavelmente haverá uma contribuição para que o turismo se altere e aí podemos dar uma ajuda importante. Briteiros, com o termalismo nas Taipas e associado ao turismo religioso em S.Torcato pode dar uma contribuição importante”, enaltece. .
'SMS perto da asfixia'.
“Aquilo que temos é um conjunto de projectos ou ideias lançadas, mas ainda não temos datas porque todas elas dependem de questões tão alargadas como mão de obra e financiamento”, sublinha Amaro das Neves, para quem o tempo desde o falecimento do Dr Santos Simões foi em grande parte para adequar o funcionamento da SMS a novas rotinas. “Rotinas que têm a ver com o desaparecimento de uma pessoa que personificava a instituição e tinha sobre os seus ombros a maior parte do trabalho, o que hoje não é praticável”.
De resto, para que os projectos saiam do papel é necessário o apoio do Estado. “São projectos que só poderão andar para a frente a partir do momento em que a SMS tenha concretizado as suas expectativas de sustentabilidade financeira através do protocolo que eventualmente irá ser assinado com o Ministério da Cultura”, desabafou preocupado, explicando que tem muito mais sentido o apoio vir do Estado do que da própria autarquia. “Percebemos que a SMS não é uma instituição só de Guimarães, até porque tem uma actividade que é de âmbito nacional. Publica uma revista que tem uma expansão internacional, exerce uma actividade de protecção de Património Nacional, uma vez que tem quatro monumentos nacionais a seu cargo”. Tem uma anta na Guarda, uma mamoa em Bragança, uma laje- um penedo com gravuras rupestres em Barcelos, um balneareo no monte da Seia e um monumento no Marco de Canaveses. “Há uma percentagem do trabalho que fazemos que é por sua natureza do Estado, desde logo a protecção do Património”, sustenta. Na oportunidade, o presidente afirma que tal apoio é muito necessário para tirar a associação da asfixia. “É necessário que em Lisboa percebam o que é a SMS para termos um futuro mais risonho. Até porque a SMS vive hoje muito perto da asfixia”.
Em tom irónico, Amaro da Neves lembra que para resolver os problemas basta deixar de ter actividades. “Assim não tem despesas, não tem problemas. Mas o que nós queremos é que a SMS continue a ser aquilo para que nasceu. Uma instituição viva que leve o nome de Guimarães ao país e ao estrangeiro”. Em jeito da balanço, o responsável relata que do ponto de vista da actividade, 2005 foi um ano com resultados interessantes. A associação conseguiu completar o espólio do museu da Cultura Castreja, a Casa de Acolhimento da Citânia de Briteiros está em pleno funcionamento, foi condecorada com a Ordem do Infante D.Henrique como reconhecimento da actividade da instituição, iniciou a regularização da actividade editorial. Foi ainda um ano com avanços muito interessantes em termos de trabalho com a Universidade do Minho, nomeadamente com a Casa de Sarmento que permitiu que em pouco tempo centenas de milhares de páginas de jornais fossem digitalizadas e colocadas na Internet. “Foi ainda um ano que tivemos muita gente a trabalhar na SMS porque recorremos às diferentes modalidades de financiamento e colocação de estágios, através do Instituto de Emprego e da universidade e de outras universidades”, adita. Foi também este ano que a SMS lançou um ciclo expositivo da galeria. “São exposições temporárias que estão a decorrer de um modo muito interessante porque temos aí artistas que são novos, mas temos tido amostras muito interessantes”, conclui.
Por:Aurora do Céu Lima
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