UM MÊS, UMA PEÇA - Abril - Peitoral de couraça séc. XVI - Sociedade Martins Sarmento
Ao longo de 2024, a Sociedade Martins Sarmento (SMS) estuda e expõe em detalhe peças do seu acervo museológico, com o objetivo de partilhar um pouco da história dessas coleções.
A peça em destaque do mês de abril é um peitoral de couraça do séc. XVI, que é acompanhado por mais um peitoral e um espaldar de couraça e uma joelheira, todos do séc. XVI.
Estas peças poderão ser visitadas no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Categoria: Armas
Subcategoria: Arte
Nº Inventário: Et-0380
Denominação: Peitoral de couraça
Época: Séc. XVI
Altura: 36,3 cm
Largura: 35,8 cm
Profundidade: 18 cm
Matéria: Ferro
Proveniência: Desconhecida
Função: Defesa do tronco
Localização: Reserva Etnografia
Descrição Peitoral de couraça em ferro batido. Tem dois botões de fixação da presilha de couro, que os ligava ao espaldar da couraça. Nas ilhargas apresenta duas patilhas para fixação da fralda. É vincado em quilha desde a gola debruada até ao rebordo inferior, formando a toda a volta uma pala de três a quatro centímetros. Na pala existe um botão de fixação da fralda. Sob a gola, ao centro ostenta um punção em que se nota o número 31.
Couraça: peça de proteção do tronco (peito e costas) dos combatentes, cuja afirmação se produz na Península Ibérica a partir dos meados do séc. XIII, em virtude da incapacidade das tradicionais defesas de malhas (do género da loriga) contrariarem, por si só, a evolução registada ao nível do armamento ofensivo. Era fabricada em couro «fervido» especialmente resistente, acolchoada e forrada interiormente por telas de estopa de cânhamo, entre as quais eram embutidas lâminas de ferro imbricadas ou dispostas lado-a-lado, presas (pelo dorso, pela lateral, ou pela frente) por meio de cravos e suficientemente unidas e espessas para que não surgissem aberturas propicias à penetração das armas inimigas. Complementarmente, a couraça podia também levar gorjais para proteção do pescoço, assim como mangas e fraldões. Por outro lado, podia ser coberta por um tecido de seda bordado a ouro, de cores distintas, motivo por que os textos ibéricos coevos falam em couraças vermelhas, amarelas ou azuis. Este género de «proteção reforçada» (de que há diversos testemunhos ibéricos, ainda para o último quartel do séc. XIV) antecede (e de alguma forma anuncia) o aparecimento e triunfo das armaduras compostas por placas ou chapas metálicas (isto é, o arnês).
Arnês: termo genérico, designando o conjunto das peças metálicas de formato anatómico que se afirmam na generalidade do Ocidente (em substituição das defesas de malha do género das lorigas e das defesas de placas do tipo das couraças) ao longo da 2ª metade do séc. XIV, anunciando o aparecimento — na centúria de Quatrocentos — dos famosos «arneses brancos» (ou armaduras completas). As peças que compõem o arnês são, portanto, chapas metálicas bem polidas, propicias ao deslize (ou deflexão) das armas adversárias e extremamente resistentes. No entanto, e contrariamente ao que habitualmente se pensa, revelam uma articulação e uma flexibilidade muito razoáveis, embora tendo de ser compensadas nas juntas (especialmente nas axilas) e nas articulações por proteções de malha suplementares. Um arnês completo podia comportar duas ou três dezenas de peças independentes, as quais eram unidas e articuladas entre si por meio de dobradiças, de gonzos e de atilhos de couro.
Entre as componentes mais importantes do arnês, destacam-se (para além do peitoral ou peito, que protegia o tronco): os gorjais e as baveiras, que garantiam uma eficaz proteção da zona do queixo e do pescoço (imediatamente abaixo do bacinete); um núcleo de peças discordais, em forma de rodela, para defender as articulações superiores, como pulsos, cotovelos e ombros (deve ser esse o caso da espaldeira); o «arnês de braços», isto é, as placas metálicas destinadas a proteção dos braços, dos antebraços e das mãos (designadamente os braçais, os avambraços, os rebraços e as manoplas, flexivelmente articuladas entre si, para preservar a mobilidade do cavaleiro); a panceira ou escarcela (o conjunto de peças que ficavam suspensas da cintura, para a proteger); e, finalmente, o chamado «arnês de pernas», o qual incluía peças de proteção das coxas, dos joelhos e dos pés (ou seja, coxotes, joelheiras, grevas e sapatos de ferro ou escarpins).
Bibliografia
- Catálogo do Museu de Martins Sarmento : secção de etnografia . - Guimarães : SMS, 1981
- Catálogo do Museu da Sociedade Martins Sarmento : IV - secção de arte e etnografia . - Guimarães : SMS, 1936
- GUIMARÃES, Alfredo; As Armas Brancas do Solar de Pindela. Porto: Instituto para a Alta Cultura, 1946
- MONTEIRO, João Gouveia; A guerra em Portugal nos finais da idade média, Notícias Editorial, 1998
- MONTEIRO, João Gouveia; Armeiros e Armazéns nos finais da Idade Média, Viseu, 2001
- RIQUER, Martin de; Estudios sobre el Amadis de Gaula, Barcelona, 1987
- SOLER DEL CAMPO, Alvaro; La evolucion del armamento medieval en el reino castellano-leones y al-andalus (siglos XII-XLV), Madrid, 1993
- VITERBO, Francisco Marques de Sousa; A Armaria em Portugal. Noticia documentada dos fabricantes de armas brancas que exerceram a sua profissão em Portugal; Lisboa, 1907-1908
A peça em destaque do mês de abril é um peitoral de couraça do séc. XVI, que é acompanhado por mais um peitoral e um espaldar de couraça e uma joelheira, todos do séc. XVI.
Estas peças poderão ser visitadas no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Categoria: Armas
Subcategoria: Arte
Nº Inventário: Et-0380
Denominação: Peitoral de couraça
Época: Séc. XVI
Altura: 36,3 cm
Largura: 35,8 cm
Profundidade: 18 cm
Matéria: Ferro
Proveniência: Desconhecida
Função: Defesa do tronco
Localização: Reserva Etnografia
Descrição Peitoral de couraça em ferro batido. Tem dois botões de fixação da presilha de couro, que os ligava ao espaldar da couraça. Nas ilhargas apresenta duas patilhas para fixação da fralda. É vincado em quilha desde a gola debruada até ao rebordo inferior, formando a toda a volta uma pala de três a quatro centímetros. Na pala existe um botão de fixação da fralda. Sob a gola, ao centro ostenta um punção em que se nota o número 31.
Couraça: peça de proteção do tronco (peito e costas) dos combatentes, cuja afirmação se produz na Península Ibérica a partir dos meados do séc. XIII, em virtude da incapacidade das tradicionais defesas de malhas (do género da loriga) contrariarem, por si só, a evolução registada ao nível do armamento ofensivo. Era fabricada em couro «fervido» especialmente resistente, acolchoada e forrada interiormente por telas de estopa de cânhamo, entre as quais eram embutidas lâminas de ferro imbricadas ou dispostas lado-a-lado, presas (pelo dorso, pela lateral, ou pela frente) por meio de cravos e suficientemente unidas e espessas para que não surgissem aberturas propicias à penetração das armas inimigas. Complementarmente, a couraça podia também levar gorjais para proteção do pescoço, assim como mangas e fraldões. Por outro lado, podia ser coberta por um tecido de seda bordado a ouro, de cores distintas, motivo por que os textos ibéricos coevos falam em couraças vermelhas, amarelas ou azuis. Este género de «proteção reforçada» (de que há diversos testemunhos ibéricos, ainda para o último quartel do séc. XIV) antecede (e de alguma forma anuncia) o aparecimento e triunfo das armaduras compostas por placas ou chapas metálicas (isto é, o arnês).
Arnês: termo genérico, designando o conjunto das peças metálicas de formato anatómico que se afirmam na generalidade do Ocidente (em substituição das defesas de malha do género das lorigas e das defesas de placas do tipo das couraças) ao longo da 2ª metade do séc. XIV, anunciando o aparecimento — na centúria de Quatrocentos — dos famosos «arneses brancos» (ou armaduras completas). As peças que compõem o arnês são, portanto, chapas metálicas bem polidas, propicias ao deslize (ou deflexão) das armas adversárias e extremamente resistentes. No entanto, e contrariamente ao que habitualmente se pensa, revelam uma articulação e uma flexibilidade muito razoáveis, embora tendo de ser compensadas nas juntas (especialmente nas axilas) e nas articulações por proteções de malha suplementares. Um arnês completo podia comportar duas ou três dezenas de peças independentes, as quais eram unidas e articuladas entre si por meio de dobradiças, de gonzos e de atilhos de couro.
Entre as componentes mais importantes do arnês, destacam-se (para além do peitoral ou peito, que protegia o tronco): os gorjais e as baveiras, que garantiam uma eficaz proteção da zona do queixo e do pescoço (imediatamente abaixo do bacinete); um núcleo de peças discordais, em forma de rodela, para defender as articulações superiores, como pulsos, cotovelos e ombros (deve ser esse o caso da espaldeira); o «arnês de braços», isto é, as placas metálicas destinadas a proteção dos braços, dos antebraços e das mãos (designadamente os braçais, os avambraços, os rebraços e as manoplas, flexivelmente articuladas entre si, para preservar a mobilidade do cavaleiro); a panceira ou escarcela (o conjunto de peças que ficavam suspensas da cintura, para a proteger); e, finalmente, o chamado «arnês de pernas», o qual incluía peças de proteção das coxas, dos joelhos e dos pés (ou seja, coxotes, joelheiras, grevas e sapatos de ferro ou escarpins).
Bibliografia
- Catálogo do Museu de Martins Sarmento : secção de etnografia . - Guimarães : SMS, 1981
- Catálogo do Museu da Sociedade Martins Sarmento : IV - secção de arte e etnografia . - Guimarães : SMS, 1936
- GUIMARÃES, Alfredo; As Armas Brancas do Solar de Pindela. Porto: Instituto para a Alta Cultura, 1946
- MONTEIRO, João Gouveia; A guerra em Portugal nos finais da idade média, Notícias Editorial, 1998
- MONTEIRO, João Gouveia; Armeiros e Armazéns nos finais da Idade Média, Viseu, 2001
- RIQUER, Martin de; Estudios sobre el Amadis de Gaula, Barcelona, 1987
- SOLER DEL CAMPO, Alvaro; La evolucion del armamento medieval en el reino castellano-leones y al-andalus (siglos XII-XLV), Madrid, 1993
- VITERBO, Francisco Marques de Sousa; A Armaria em Portugal. Noticia documentada dos fabricantes de armas brancas que exerceram a sua profissão em Portugal; Lisboa, 1907-1908
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