Um mês, uma peça - 1 a 29 fevereiro 2024
Ao longo de 2024, a Sociedade Martins Sarmento (SMS) estuda e expõe em detalhe peças do seu acervo museológico, com o objetivo de partilhar um pouco da história dessas coleções.
A peça em destaque do mês de fevereiro é o Saltério do séc. XVIII, fabricado no Brasil.Esta peça poderá ser visitada no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Categoria Instrumentos Musicais
Subcategoria Cordofones (sem braço)
Nº Inventário Et-0237
Denominação Saltério
Fabrico Rio de Janeiro, Brasil
Autor António Martins Santiago
Marca Antonio Miz. S.TGº. Rio 1762
Época/Data Séc. XVIII / 1762
Altura 18 cm
Comprimento 85,8 cm
Material Madeira e metal
Localização Reserva Etnografia
Incorporação Oferta da senhora D. Maria de Freitas Aguiar Martins Sarmento em 1922
Descrição Instrumento de madeira em formato de trapézio e sem braço. O tampo harmónico possui duas rosáceas de pergaminho gofrado e pintado a ouro, com aplicação de pedra de vidro em tons vermelho e as cordas estão dispostas paralelamente ao longo do tampo harmónico. Possui noventa e oito cravelhas em ferro e cordas em aço, com 12 ordens de cordas quadruplas, mais 10 ordens de cordas quíntuplas. Contem ainda 2 cavaletes de madeira móveis seccionados. No fundo do instrumento existem quatro pés.
Este instrumento é guardado numa caixa em madeira, decorada com pintura floral, no interior em tons de vermelho onde possui uma pintura paisagística e no exterior em tons de azul.
Entre 1753 e 1756, António Martins Santiago atuava em Vila Rica como organeiro e construtor de saltérios. Em 1762 já estava estabelecido no Rio de Janeiro, expandindo as suas atividades a ponto de exportar os seus instrumentos para Portugal. São conhecidos instrumentos seus em museus de Guimarães (1762), Petrópolis (1765), Rio de Janeiro (1767), Lisboa (1769) e São Paulo (1775).
Este instrumento figurou, em junho de 1961, na Exposição Internacional de Instrumentos Antigos, integrada no V Festival Gulbenkian de Música e organizada em Lisboa, no Palácio Foz, pela Fundação Calouste Gulbenkian.
História O saltério é um instrumento da família das cítaras. O termo “cítara” é utilizado para denominar qualquer cordofone que possua cordas esticadas sobre o corpo do instrumento. Normalmente, o corpo é a própria caixa de ressonância e as cordas são esticadas acima dela, passando por cima de cavaletes. No saltério, especificamente, as cordas são fixadas por meio de cravelhas de madeira ou de metal.
Na antiguidade, o instrumento era utilizado pelos assírios, babilônios e egípcios, em rituais religiosos e profanos. Os hebreus utilizavam o saltério para acompanhar salmos nos cânticos sacros. Por volta do século XVII, o saltério do Oriente (qanun) chegou à Europa por meio da Espanha e influenciou a estrutura do saltério comumente utilizado no continente europeu entre os séculos XII e XV. Neste período, o saltério era utilizado tanto em ritos religiosos quanto em ritos profanos como danças e canções dos menestréis. Para tocar, o instrumentista apoia o saltério numa mesa ou sobre as pernas e dedilha as cordas com os dedos ou com um plectro. Outra técnica possível é percutir as cordas com baquetas.
Na Renascença, devido à difusão do uso do cromatismo, sistema que o saltério não tinha como atender, o instrumento perdeu espaço. No século XVI, o saltério deu origem a outros instrumentos: o dulcimer (onde as cordas são tocadas com martelos), o cravo (onde as cordas são pinçadas e acrescentou-se um teclado à estrutura do saltério) e a cítara (onde se acrescentaram trastes). No século XVIII, o instrumento voltou a tornar-se conhecido e muitos dos exemplares que chegaram até os dias de hoje são desse período, como o próprio exemplar do Museu. No século XX, o saltério foi utilizado principalmente na execução do repertório de música antiga.
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