Um Mês, Uma Peça - 1 a 31 de Julho de 2024
Ao longo de 2024, a Sociedade Martins Sarmento (SMS) estuda e expõe em detalhe peças do seu acervo museológico, com o objetivo de partilhar um pouco da história dessas peças e das coleções disponíveis na SMS.
A peça em destaque do mês de julho é a pintura "Moysés" de António Carneiro (1872-1930), que acompanha com o busto em gesso de António Carneiro da autoria de António de Azevedo (1889-1968).
Esta peça poderá ser visitada no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Categoria Pintura
Título Moysés
Autor António Carneiro (1872-1930)
Época/Data s/d
Técnica Óleo s/ tela
Dimensões 51,5 x 30 cm
Incorporação Oferta de Abel Cardoso em 11/12/1943
Localização Reserva Arte
ANTÓNIO TEIXEIRA CARNEIRO JÚNIOR.
Pintor, ilustrador, poeta e professor nasceu a 16 de Setembro de 1872 em S. Gonçalo de Amarante. Era filho de Francisca Rosa de Jesus, costureira e de António Teixeira Carneiro.
Teve uma infância difícil. Aos sete anos foi abandonado pelo pai, ficando, pouco depois, órfão de mãe. Sozinho e desamparado, em 1879 foi encaminhado para o internato no Asilo do Barão de Nova Sintra, no Porto. Nesta instituição pertencente à Santa Casa da Misericórdia do Porto fez o ensino primário e começou a desenhar, copiando ilustrações de textos religiosos e de periódicos.
O seu talento foi notado de imediato. Por recomendação do professor Adrião Augusto de Sousa Carneiro e do Padre José Marques Dias, bacharel de Direito e diretor daquele estabelecimento, ingressou, em 1884, na Academia Portuense de Belas Artes, com o apoio da Santa Casa, onde fez o curso de Desenho Histórico, entre 1884 e 1890, na qual foi discípulo do mestre Marques de Oliveira.
Em 1890 deixou o asilo e começou a frequentar o curso de Escultura, que veio a abandonar depois da morte de Soares dos Reis, em 1889. Deste curso transferiu-se para o de Pintura, onde recebeu ensinamentos de João António Correia. Em 1893, casou com Rosa Carneiro. Desta união nasceram três filhos: Cláudio (1895-1963) que se notabilizou como músico e compositor, Maria Josefina (1898-1925) que faleceu jovem vítima de tuberculose e Carlos (1900-1971) que se notabilizou em pintura, seguindo as pisadas do pai.
Em 1895 terminou o curso de Pintura de História, com a classificação final de dezoito valores.
Em 1897 partiu para Paris após a obtenção de uma bolsa patrocinada pelo Marquês de Praia e Monforte. Na capital francesa instalou-se com a esposa no Boulevard Arago e frequentou a Academia Julien, na qual foi aluno de Jean-Paul Laurens e de Benjamin Constant.
Quando regressou ao Porto foi convidado a lecionar na Academia de Belas Artes do Porto, em 1911, sendo investido na qualidade de Professor de Nomeação Definitiva, responsável pela Cadeira de Desenho de Figura em 1918.
Nos anos que decorreram entre 1893 e 1929, expôs, individual ou coletivamente, em Portugal, no Centro Artístico Portuense, no Ateneu Comercial do Porto, na Santa Casa da Misericórdia do
Porto, no Grémio Artístico de Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, na Photografia Guedes e Photografia União, nas sedes da Ilustração Portuguesa e da Renascença; no Brasil, na Galeria Jorge no Rio de Janeiro, no Prédio Glória em S. Paulo e na Associação Comercial do Panamá em Curitiba e participou nas exposições universais de Paris (1900), de Saint Louis (1904) e na Exposição Internacional de Barcelona, de 1907.
Em 1929 foi nomeado diretor da Academia de Belas Artes do Porto, cargo que não veio a exercer.
Faleceu no Porto em 31 de março de 1930.
Deixou uma obra vasta e admirável, revelando-se como um dos maiores pintores do seu tempo. Desenhos magníficos e retratos a sanguínea, que ficaram célebres, de alguns dos vultos mais representativos da intelectualidade portuguesa.
«O artista vive na angústia incessante de realizar a perfeição. Ai delle! - a perfeição, não a atingirá
jamais?...
É na clausura de si mesmo, sózinho em face das coisas, que elle se interroga, medita e procura entender as augustas interggeições da Natureza.
Fixar o momento fugitivo, ou traduzir, com vagar os aspectos permanentes; as penumbras dos interiores ou as claridades instantâneas do ar livre: sondar a figura humana, de tão complexa e atraente revelação: pôr tudo a alma ajoelhada, e humilde, e ancorar - eis o meu esforço e o meu anseio...»
in «Correio da Manhã» - Rio de Janeiro (entrevista, 8-9-1929)
Bibliografia
- António Carneiro 1872-1930, Museu Nacional Soares dos Reis, Porto, 1973
Categoria Escultura
Nº Inventário E-49 [E(p)35]
Título António Carneiro (1872-1930)
Descrição Busto do pintor António Carneiro, em gesso patinado.
Técnica Escultura em gesso
Autor António de Azevedo (1889-1968)
Datação 1928
Dimensões 47,5x52x19 cm
Incorporação Oferta em 02/03/1969 pela Senhora D. Maria Emília de Azevedo, viúva do autor, através do Senhor Francisco Ramos Martins Fernandes, tendo sido notícia no Notícias de Guimarães, ano 38, nº 1957, 21 junho 1969
Localização Reserva Arte
ANTÓNIO FERREIRA DE AZEVEDO. Escultor nascido em Mafamude, Vila Nova de Gaia a 11 de Dezembro de 1889, filho de Abílio Pereira de Azevedo, industrial, e de Francisca Ferreira Alves, doméstica, ficou órfão de pai com apenas um ano de idade.
Depois de frequentar a Escola Primária das Estafinhas, realizou, a 6 de agosto de 1900, o exame da instrução primária do 2.º grau no Liceu Central do Porto. Seguidamente matriculou-se na Escola Industrial do Infante D. Henrique, no Porto.
No ano letivo de 1901-1902 completou os estudos técnicos e em outubro de 1902 matriculou-se, como aluno ordinário, no 1.º ano de Desenho Histórico da Escola de Belas Artes do Porto.
Concluiu o 4.º ano em 1906 e o 3.º de Arquitetura e de Anatomia Artística e seguiu Escultura. Em outubro de 1910 inscreveu-se no 5.º ano de Escultura, tendo sido condiscípulo de Sousa Caldas, Diogo de Macedo, Henrique Moreira e Zeferino Couto.
No ano letivo de 1910-1911 terminou o curso de Desenho Histórico e de Escultura, encontrando-se já habilitado com o 5.º ano do curso de Arquitetura Civil.
No verão de 1911 prosseguiu os estudos em Paris, financiado pela família.
Em 1914, com a eclosão da I Guerra Mundial, regressou a Portugal, trazendo na bagageira o busto “Crepúsculo”. Instalou-se na casa materna em Vila Nova de Gaia, perto da qual montou ateliê e produziu os primeiros trabalhos.
O artista participou em várias exposições modernistas como, por exemplo, na mostra do Grupo dos Humoristas que decorreu no Porto - Jardim Passos Manuel em 1915, onde apresentou 16 desenhos; no Salão de Modernistas do Porto, de 1916 e de 1919, e no I Salão de Independentes na Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1930.
Em 1921 envolveu-se na renovação da Sociedade Nacional de Belas Artes, no Porto. Em 1925 apresentou a sua primeira exposição individual, no Salão Silva Porto, onde expôs 12 peças em mármore e bronze.
Começou uma longa carreira de docência no ensino técnico na Escola Faria Guimarães; mudou-se, mais tarde, para a Escola Industrial Infante D. Henrique, também no Porto e, por fim, para a Escola Industrial Francisco de Holanda, em Guimarães, onde, além de lecionar, assumiu o cargo de diretor.
Em 1931 fixou-se definitivamente em Guimarães, onde se casou no dia 10 de dezembro com Maria Emília Verde Gomes Machado Falcão. Em 1932 integrou a Comissão Estética da Câmara de Guimarães (renomeada Comissão de Arte e Arqueologia em 1950) e a Comissão Central das Comemorações das Festas Centenárias de 1940. Inaugurou o monumento a Martins Sarmento que é de sua autoria (1933) e a fonte decorativa Faunito ou Fonte do Sátiro (1934). Em 1935 homenageou o gravador Molarinho num monumento situado no Largo Condessa do Juncal.
Participou na preparação das Festas Milenárias comemorativas da fundação do burgo vimaranense por Mumadona Dias e da elevação de Guimarães a cidade (1953).
Foi delegado da Junta Nacional de Educação no concelho de Guimarães (nomeação de 1949) e também trabalhou como arquiteto e urbanista, tendo sido responsável pela transformação do Jardim do Carmo, a recuperação do Recolhimento das Trinas e o arranjo dos largos dos Laranjais, de S. Francisco e do Toural.
Fora de Guimarães integrou a comissão presidida por Aarão de Lacerda destinada a inventariar os prédios de interesse público a classificar no Porto. Esteve representado no Pavilhão de Portugal da Exposição Internacional de Paris (1937).
António de Azevedo aposentou-se em maio de 1959.
Foi distinguido com o grau de Oficial da Ordem de Instrução Pública, em 1957, e homenageado na Assembleia Municipal de Guimarães em 1965, e em 2012 no quadro do programa Constelações, da Capital Europeia da Cultura «Guimarães 2012», a Muralha - Associação de Guimarães para a Defesa do Património, o Cineclube de Guimarães e a Assembleia de Guimarães uniram-se para celebrar a obra de António de Azevedo. Faleceu em Guimarães no dia 18 de abril de 1968 e foi sepultado no cemitério de Atouguia.
No seu busto de António Carneiro, a cabeça "ergue-se poderosa e ao mesmo tempo frágil [...]. O rosto é de um herói antigo, sem pormenores descritivos e, no entanto, personalizado na testa alta, na barba fluida, sobretudo na densidade do olhar, todo ele detido em imagens interiores". Utilizando um modelado sensível, "como se os gestos do autor compusessem uma derradeira homenagem", Azevedo joga com o efeito inacabado do busto, "distendendo-se como um molde ético sobre as impressivas marcas do tempo ou da memória".
in Silva, Raquel Henriques – "António de Azevedo: Busto de António Carneiro". A.A.V.V. – Museu do Chiado: arte portuguesa 1850-1950. Lisboa: Museu do Chiado; Instituto Português de Museus, 1994, p. 278
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