UM MÊS, UMA PEÇA - Junho - pintura "Mulheres num bêco" de Abel Salazar (1889-1946)
Ao longo de 2024, a Sociedade Martins Sarmento (SMS) estuda e expõe em detalhe peças do seu acervo museológico, com o objetivo de partilhar um pouco da história dessas peças e das coleções disponíveis na SMS.
A peça em destaque do mês de junho é a pintura "Mulheres num bêco" de Abel Salazar (1889-1946).
Esta peça poderá ser visitada no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Categoria Pintura
A peça em destaque do mês de junho é a pintura "Mulheres num bêco" de Abel Salazar (1889-1946).
Esta peça poderá ser visitada no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Categoria Pintura
Nº Inventário 5 [p-164]
Título Mulheres num bêco
Autor Abel Salazar (1889-1946)
Época/Data (entre 1930-1936?)
Técnica Óleo s/ contraplacado
Dimensões 63,5 X 63,5 cm
Incorporação Oferta de Abel Salazar em 24/12/1938.
Localização Reserva Arte
Título Mulheres num bêco
Autor Abel Salazar (1889-1946)
Época/Data (entre 1930-1936?)
Técnica Óleo s/ contraplacado
Dimensões 63,5 X 63,5 cm
Incorporação Oferta de Abel Salazar em 24/12/1938.
Localização Reserva Arte
Nota biográfica
ABEL ABEL SALAZAR. Médico, cientista, professor, artista plástico, crítico de arte, prosador e pensador.
Abel de Lima Salazar, filho mais velho de Adolfo Barroso Pereira Salazar e Adelaide da Luz Silva Lima Salazar, nasceu em Guimarães a 19 de julho de 1889, no Hotel do Toural.
O seu pai foi, em Guimarães, sócio da Sociedade Martins Sarmento, admitido em 8 outubro de 1882; secretário da Direção entre 1884 e 1887 e bibliotecário entre 1884 e 1891; professor de francês na Escola Industrial Francisco de Holanda entre 1888 e 1891 e escrevia para a “Revista de Guimarães”. A eliminação da disciplina de francês dos currículos escolares em Guimarães parece ter sido a causa principal da sua ida para o Porto, no ano letivo de 1891/1892, onde começa a lecionar na Escola Industrial Infante D. Henrique.
Abel Salazar, com o seu irmão Camilo Salazar, permanece ainda em Guimarães, na casa da avó, onde completa a escola primária, tendo recebido o prémio de melhor aluno pela escola municipal na sessão de 9 março de 1900 que decorreu na Sociedade Martins Sarmento, e parte do secundário no Seminário-Liceu, onde foi condiscípulo do futuro cardeal Cerejeira.
Matricula-se em 1903 no Liceu Central do Porto, em S. Bento da Vitória, onde se mantém até à conclusão da 7ª Classe de Ciências no ano letivo de 1906/1907.
Aqui o seu talento para o desenho foi-se revelando em caricaturas, dos mestres, de tal modo irreverentes que ganhou a admiração dos seus companheiros.
Foi sobretudo este talento artístico que lhe abriu as portas de uma tertúlia de condiscípulos mais velhos e atentos às mudanças políticas que ocorriam no país.
Em 1909 Abel Salazar ingressa na Escola Médico-Cirúrgica do Porto e em 1915 concluiu o seu curso de Medicina e apresenta a tese inaugural “Ensaio de Psicologia Filosófica” classificada com 20 valores.
Participa, em 1915, com dezenas de croquis na Exposição de Humoristas e Modernistas realizada no Salão Passos Manuel, no Porto, juntamente com Almada Negreiros, Jorge Barradas, Cristiano Cruz, Stuart de Carvalhais, entre outros.
Em 1918, com apenas 30 anos de idade, Abel Salazar é nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia.
Em 1909 Abel Salazar ingressa na Escola Médico-Cirúrgica do Porto e em 1915 concluiu o seu curso de Medicina e apresenta a tese inaugural “Ensaio de Psicologia Filosófica” classificada com 20 valores.
Participa, em 1915, com dezenas de croquis na Exposição de Humoristas e Modernistas realizada no Salão Passos Manuel, no Porto, juntamente com Almada Negreiros, Jorge Barradas, Cristiano Cruz, Stuart de Carvalhais, entre outros.
Em 1918, com apenas 30 anos de idade, Abel Salazar é nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia.
Como investigador, empreende uma série de pesquisas tendentes a definir, a esclarecer a estrutura e evolução do ovário, criando o célebre método de coloração tano-férrico, de análise microscópica, que lhe abre caminhos no meio científico (Método Tano-férrico de Salazar).
Entre 1919 e 1925 o seu trabalho torna-se conhecido internacionalmente e publicado em várias revistas científicas internacionais.
Publicou 113 trabalhos científicos nas áreas dos aparelhos de Golgi e Para Golgi, Método Tano-Férrico, ovário, tecido conjuntivo, anatomia do cérebro, tecido celular, sangue, técnica de desenho microscópico e temas gerais. Em 1921 casa-se com Zélia de Barros, de quem não chegou a ter filhos.
Com Cerqueira Machado, seu companheiro de infância, realiza em 1922, uma exposição no Porto, e em 1924 em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
Entre 1919 e 1925 o seu trabalho torna-se conhecido internacionalmente e publicado em várias revistas científicas internacionais.
Publicou 113 trabalhos científicos nas áreas dos aparelhos de Golgi e Para Golgi, Método Tano-Férrico, ovário, tecido conjuntivo, anatomia do cérebro, tecido celular, sangue, técnica de desenho microscópico e temas gerais. Em 1921 casa-se com Zélia de Barros, de quem não chegou a ter filhos.
Com Cerqueira Machado, seu companheiro de infância, realiza em 1922, uma exposição no Porto, e em 1924 em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
Em 1926, e ao fim de 10 anos de trabalho profícuo em condições adversas como vem proclamando sistematicamente, Abel Salazar sucumbe ao cansaço e à depressão, sofrendo um esgotamento que o leva a interromper a sua atividade universitária durante quatro anos.
Por sugestão do seu amigo Joaquim Madureira interna-se na Casa de Saúde de São João de Deus em Barcelos, mas logo se arrependeu desta decisão, tendo dedicando-se às artes.
Por sugestão do seu amigo Joaquim Madureira interna-se na Casa de Saúde de São João de Deus em Barcelos, mas logo se arrependeu desta decisão, tendo dedicando-se às artes.
Em 1935 é, por fim, “desligado do serviço” (Portaria de 5 de junho) numa ação retaliadora e persecutória do salazarismo, ação que atinge, também, outras grandes figuras da cultura portuguesa como Aurélio Quintanilha, Manuel Rodrigues Lapa, Sílvio Lima, Norton de Matos, etc.
O afastamento da vida académica permitiu-lhe desenvolver em sua casa uma produção artística variada na temática e na expressão plástica: gravura, pintura (paisagens, retratos, ilustração da vida da mulher trabalhadora e da mulher parisiense), pintura mural, aguarelas, desenhos, caricaturas, escultura e cobres martelados (caso único entre os artistas contemporâneos).
Em 1941, por sugestão do Prof. Mário de Figueiredo, então Ministro da Educação Nacional, o Instituto para a Alta Cultura cria um Centro de Estudos Microscópicos, na Faculdade de Farmácia, cuja direção é confiada a Abel Salazar.
Abel Salazar morre em Lisboa, na casa de sua irmã Dulce Salazar, a 29 de dezembro de 1946, com 57 anos de idade, vítima de cancro pulmonar.
in Biografia de Abel Salazar da Casa-Museu Abel Salazar
«Precursor em Portugal de outras expressões do pensamento moderno, Abel Salazar, em busca da sua verdade pessoal é, sem favor e sem alarde, um precursor, também, entre nós, da expressão social de um neorrealismo na pintura. Abel Salazar não motivou com a sua obra as acaloradas polémicas que as exposições dos "modernistas" e dos "futuristas", da sua idade e mais novos, estabeleceram com os "clássicos" e os "académicos" do nosso meio intelectual. Ele, que foi um vivo polemista e um crítico esclarecido, tantas vezes acicatante, não pretendeu com a sua pintura provocar a burguesia acomodada. Foi mais além, ao obrigar o cidadão vulgar a interrogar-se perante a sua pintura. Abel Salazar sabia que os seus temas eram, potencialmente, um estímulo à sensibilidade da classe média atuante e uma abertura para a solidariedade humana. O profundo sentido dessa humanidade nascia, essencialmente, do seu respeito pelo Povo!
Os seus trabalhos, procurando documentar e responder a exigências sociais imediatas, encontrarão, por isso mesmo, crescente interesse com o tempo, por terem surgido num momento histórico dominado por uma sociedade fútil e tacanha...
Ultrapassando, sem grande esforço, a epiderme da realidade, imprime grandeza humana às mulheres do povo que pinta, quer sejam costureiras, leiteiras, vendedeiras ou trapeiras, quer sejam carrejonas dobradas sob o peso de descomunais molhos de carqueja a subirem íngremes rampas ou trabalhadoras na Alfândega descarregando carvão, perigosamente, sobre pranchas estreitas, de manhã à noite ou carregando fardos e sacos enormes no mercado do Anjo, nos armazéns do Barredo ou da Rua Nova de S. João. Mulheres transportando dia-a-dia pesados fardos, além do seu angustioso drama, mulheres que o Artista compreendia e desejava mostrar, quase paradoxalmente, numa revelação "bela" de arte. Assim, apresenta-as anatomicamente perfeitas e de uma força física solidamente contida em todos os seus corpos, em contensão de gestos, com cabeças, tantas vezes sem rostos nítidos, envolvidas em amplos lenços para melhor harmonizar a sua ligação aos bustos. Mesmo num amontoado grupo, essas mulheres mantêm-se nos seus quadros bem definidas, serenas e dignas, revelando-nos plenamente a feminilidade de toda a "Mulher-Mãe". São mulheres, obrigadas para sobreviverem aos mais degradantes e brutais esforços, mas, em nenhum dos seus quadros, Abel Salazar desce ao pormenor da chaga, do farrapo ou do gesto teatral, para só deixar ficar bem de pé a imagem poderosa de todo aquele esforço sobre-humano. Não se encontram nessas mulheres, como se encontra na maioria da pintura neorrealista europeia e portuguesa, dos meados deste século, a mulher degradada e faminta. É, nos seus quadros, uma mulher batida pelas tempestades da vida, conhecedora da maior miséria, mas mantendo uma dignidade que a própria força do seu trabalho justifica... Ela já é em si, nessa sua força, uma esperança de sobrevivência e de libertação. E, quando procuramos destacar aqui, mais esta parte da sua grande obra de Artista, é por nos parecer ser ela um documento raro, pela presença da nossa mulher do Povo no seu lugar de Honra!»
Os seus trabalhos, procurando documentar e responder a exigências sociais imediatas, encontrarão, por isso mesmo, crescente interesse com o tempo, por terem surgido num momento histórico dominado por uma sociedade fútil e tacanha...
Ultrapassando, sem grande esforço, a epiderme da realidade, imprime grandeza humana às mulheres do povo que pinta, quer sejam costureiras, leiteiras, vendedeiras ou trapeiras, quer sejam carrejonas dobradas sob o peso de descomunais molhos de carqueja a subirem íngremes rampas ou trabalhadoras na Alfândega descarregando carvão, perigosamente, sobre pranchas estreitas, de manhã à noite ou carregando fardos e sacos enormes no mercado do Anjo, nos armazéns do Barredo ou da Rua Nova de S. João. Mulheres transportando dia-a-dia pesados fardos, além do seu angustioso drama, mulheres que o Artista compreendia e desejava mostrar, quase paradoxalmente, numa revelação "bela" de arte. Assim, apresenta-as anatomicamente perfeitas e de uma força física solidamente contida em todos os seus corpos, em contensão de gestos, com cabeças, tantas vezes sem rostos nítidos, envolvidas em amplos lenços para melhor harmonizar a sua ligação aos bustos. Mesmo num amontoado grupo, essas mulheres mantêm-se nos seus quadros bem definidas, serenas e dignas, revelando-nos plenamente a feminilidade de toda a "Mulher-Mãe". São mulheres, obrigadas para sobreviverem aos mais degradantes e brutais esforços, mas, em nenhum dos seus quadros, Abel Salazar desce ao pormenor da chaga, do farrapo ou do gesto teatral, para só deixar ficar bem de pé a imagem poderosa de todo aquele esforço sobre-humano. Não se encontram nessas mulheres, como se encontra na maioria da pintura neorrealista europeia e portuguesa, dos meados deste século, a mulher degradada e faminta. É, nos seus quadros, uma mulher batida pelas tempestades da vida, conhecedora da maior miséria, mas mantendo uma dignidade que a própria força do seu trabalho justifica... Ela já é em si, nessa sua força, uma esperança de sobrevivência e de libertação. E, quando procuramos destacar aqui, mais esta parte da sua grande obra de Artista, é por nos parecer ser ela um documento raro, pela presença da nossa mulher do Povo no seu lugar de Honra!»
in SILVA, Amândio, Abel Salazar Artista, “Forum”, Braga: Conselho Cultural da Universidade do Minho, nº 7, janeiro 1990, p. 115-123
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