Um Mês, Uma Peça - 1 a 31 Agosto de 2024
Ao longo de 2024, a Sociedade Martins Sarmento (SMS) estuda e expõe em detalhe peças do seu acervo museológico, com o objetivo de partilhar um pouco da história dessas peças e das coleções disponíveis na SMS.
A peça em destaque do mês de agosto é um "jugo de tábua" com todas as suas pertenças.
Esta peça poderá ser visitada no nosso espaço de terça a domingo das 10h00-12h30 e das 14h30-17h30.
Supercategoria Etnografia
Categoria Transporte
Subcategoria Instrumento de atrelagem
Nº Inventário Et-0594
Denominação Jugo de tábua
Autor Desconhecido
Época/Data 1929
Técnica Baixos-relevos e vazados
Dimensões 64 x 114 cm
Incorporação Oferta da Dra. Margarida Ribeiro em 20/12/1969
Localização Reserva Etnográfica
Descrição Jugo de tábua de madeira, com formato geral trapezoidal. O rebordo superior é recto e elevado a meio em ângulo muito aberto. A aresta superior é plana. A grade é decorada com duas fileiras de flores separadas por folhas. Os rebordos laterais são curvos e alargam no sentido inferior. O rebordo inferior apresenta duas largas reentrâncias semicirculares - as golas - com umas pontas inferiores. As pontas interiores são de dimensão ligeiramente inferior às exteriores. Entre estas, o rebordo inferior é irregular. Nas duas faces são visíveis duas janelas retangulares de vazados. A meio da tábua, apresentam-se duas aberturas retangulares e arqueadas no topo. Na face da frente, um friso composto por um ramo ondulado com folhas contorna os rebordos superior e laterais. Esta face tem como motivo central as armas nacionais com coroa e cruz, ladeada por ramos florais e leques nos cantos. A inscrição “19 29” está interrompida pela coroa. As janelas de vazados que se encontram de cada lado do motivo central estão preenchidas por folhas e motivos geométricos. Dois frisos verticais de ramos ondulados e dois frisos verticais de outros motivos delimitam os vazados das janelas. Duas finas linhas de goivados dividem horizontalmente as janelas de vazados. Na face da frente, correias de cabedal – tamoeiro - passam pelas duas grandes aberturas funcionais retangulares. Contra as golas apoiam duas réguas de madeira encurvadas, com as pontas direcionadas para cima - os arcos exteriores. As pontas estão fechadas por chavetas metálicas - as partizelas. Em cada um dos arcos, uma correia de couro – ensogadura - entra por dois orifícios circulares e quatro vazados retangulares na linha inferior das janelas retangulares de vazados, prendendo o arco exterior à tábua. Outra correia de couro, mais estreita, aperta cada partizela ao jugo através de um nó na ensogadura. A superfície dos arcos exteriores apresenta decoração pontilhada. Na face de trás, três linhas de goivados contornam o rebordo superior. Um friso de goivados encadeados, contornam os rebordos laterais. A grade é decorada com duas fileiras de flores separadas por folhas. As janelas de vazados que se encontram de cada lado do motivo central estão preenchidas por rosetas e folhas. A inscrição “1 9 2 9” está interrompida pelos elementos vegetais. Duas finas linhas de goivados e de ziguezagues dividem horizontalmente as janelas de vazados. Uma fina chapa metálica cobria as arestas laterais da tábua, existindo somente na lateral esquerda.
Nota biográfica
Margarida Rosa Cassola Ribeiro nasceu em Portalegre a 15 de novembro de 1911. A família proporcionou-lhe uma educação exigente e rigorosa, alicerçando o gosto pela escrita, o saber e a procura constante do conhecimento, que tão bem a caracterizaram ao longo da vida. As primeiras letras aprende-as na Escola da Corredoura, em Portalegre, e aos 12 anos parte para Lisboa, onde completa a sua formação, primeiro como interna no Instituto do Professorado, depois no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho e, mais tarde, na Escola do Magistério Primário. Ao longo de três décadas foi professora primária, papel que desempenhou de forma dinâmica, inovadora e criativa com os seus alunos. É como professora do ensino primário que, entre 1941 e 1959, vive em Coruche, período dedicado também à pesquisa rigorosa e obstinada da história e etnografia do concelho, publicada no Estudo Histórico de Coruche (1959), a obra da sua autoria de maior envergadura. As temáticas da educação, o feminismo e a formação da mulher, são assuntos recorrentes em artigos de opinião, estudos e textos poéticos que, desde muito cedo, publica. No início da década de 60 ingressa, como Técnica de Etnografia, no Serviço Nacional de Informação e Turismo, sendo mais tarde Chefe de Secção de Etnografia da Secretaria de Estado da Informação, Cultura Popular e Turismo. Quando se aposentou era Técnica Superior de 1ª Classe da Secção de Etnografia da Direção Geral do Património Cultural da Secretaria de Estado da Cultura. O interesse pela pesquisa histórica e etnográfica é evidenciado no percurso desta investigadora, que se relacionou com grandes figuras como Manuel Heleno, Ruy de Azevedo e Fernando de Almeida.
Colaborou com o Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnografia, a Sociedade Martins Sarmento (sócia da SMS, admitida a 30 abril 1967 e sócia correspondente desde 23 maio 1970); ajudou a fundar a Associação Portuguesa dos Amigos dos Moinhos; foi correspondente da Associação Brasileira de Folclore de São Paulo; membro de La Société d’Ethnographie Française; diretora do Boletim do Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo e representou Portugal em diversas missões oficiais ao estrangeiro. Alguns dos seus trabalhos vieram a público em reputadas publicações científicas como a Revista de Guimarães (escreveu diversos artigos para a revista entre 1962-1975, nomeadamente, Contribuição para o estudo da Cerâmica popular portuguesa, 1962; Construções de falsa cúpula e de planta circular do Sítio de Álamo, Mértola, 1963; Estudos sobre a aldeia da Glória, Salvaterra de Magos, 1963; Vestígios lusitano-romanos da Herdade do Escatelar, 1964; Vasos de barro da nora e da roda de tirar água. Suas analogias e divergências, 1969; Vestígios de um tipo de alimentação neolítica. A "falacha", 1971; A Olaria nos punções ou marcas de ourives, 1972; O chapéu dos carregadores de Sines e de Setúbal. Subsídios para o estudo das populações da costa portuguesa e de seus costumes, 1974; Vasos lusitano-romanos de Coruche, 1975), Revista Lusitana, a Revista de Portugal, a Revista de Etnografia, O Arqueólogo Português, Ethnos, Ocidente, o Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa e o Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa. Margarida Ribeiro pautou a sua vida por uma busca incessante, como a própria declara:
«Eu tinha tão pouco tempo, tão pouco tempo… e queria fazer tanto!... Eu queria abarcar o mundo. Era de uma ambição fantástica!»
Faleceu no Porto a 6 de maio de 2001.
Bibliografia
- Revista de Guimarães, vol. 76, 1966, p. 221; vol. 77, 1967, p. 263; vol. 79, 1969, p. 371; vol. 80, 1970, p. 185-186
- SILVA, Mário Justino, Margarida Ribeiro. Vida e obra, 1911-2001, Centro de Documentação Margarida Ribeiro, Museu Municipal de Coruche, 2005
- VASCONCELOS, J. Leite de, Estudo ethnographico aproposito da ornamentação dos jugos e cangas dos bois nas províncias portuguesas do Douro e Minho, Porto: Empreza do jornal d'Agricultura, 1881
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