13 março, 2025

Guimarães e Francisco Martins Sarmento, na Tintura Científica e Literária de CAMILO CASTELO BRANCO

Guimarães e Francisco Martins Sarmento, na Tintura Científica e Literária de CAMILO CASTELO BRANCO

 

CAMILO CASTELO BRANCO NASCEU, no dia 16 de março de 1825, em Lisboa. Foi um literato extraordinariamente versátil, tendo sido com a criativa “pena” de homem de letras, jornalista, poeta, romancista, dramaturgo, biógrafo, bibliógrafo, polemista, crítico, cronista e investigador histórico. Fez ainda traduções, revisões e anotações de trabalhos de outros autores, organizou edições várias, entre outros textos. Foi um polígrafo singular. Em 1885 foi agraciado, pelo Rei D. Luís, com o título de Visconde de Correia Botelho.

Considerado por muitos como um dos mais destacados génios da literatura portuguesa, o escritor da Casa de Seide, como assinalou o Conde de Sabugosa (1925), “deu à fala lusa duas notas que o patriciado dos clássicos desconhecera – O Riso e as Lágrimas (…) com lunetas feitas de Ironia os seus olhos observaram incisivamente os ridículos que o rodeavam (…) a sua alma doente ensinou-lhe o segredo de expressar a Dor. Riu e chorou! Foi humano! Foi genialmente humano. Entre a zombaria e a amargura Camilo abria por vezes parêntesis de afável sociabilidade que faziam as delícias dos seus íntimos”.
Os escritos que Camilo Castelo Branco deixou publicados, evidenciam a sua grande capacidade de observação da sociedade em que viveu, permitindo-nos através deles estabelecer um retrato do ambiente social, cultural, político e económico de Portugal no séc. XIX. Proporcionam um meio que permite sobre a condição do ser humano e os costumes da época.

Por entre as “onze dúzias de livros” de Camilo Castelo Branco, como observa Alberto Vieira Braga (1925), o escritor “pintou a natureza toda, inteira, nas sensações, nas gamas, nos segredos, perscrutou das paixões e foi traçando a largas manchas os encantos da terra, os venenos da vida e as corrupções da alma, dando esbelteza ao sorrir das flores, maviosidade ao gorjeio das aves, doçura ao canto das mulheres e imprimiu ritmo de graça ao jeito dos braços que se quebram nas danças de folga, e deu balanço de harmonia ao jeito do corpo que se consome no lidairar do trabalho, pôs a alma na grandeza da esmola, no amparo do faminto, no frio da desgraça e cobriu de beijos os filhos tenros das mulheres perdidas; sorriu a pobres, cariciosamente, amparou misérias, com ternura, sacudiu palhaços, agitou carcaças, arremeteu contra fantasmas, jogou o pim-pam-pum, fez dançar muitos robertos como que em cacifos de feira, cascalhou de ironia, atenazou corações, salvou almas, matou muita gente e perdeu muita mulher!... Soube rir e soube chorar; soube sofrer e penar como mártir, e soube lutar e morrer como homem, filho do desalento e da desgraça!”.

Também, Guimarães e Francisco Martins Sarmento vivem na obra literária de Camilo Castelo Branco. Com o erudito vimaranense o escritor de Seide manteve, durante vários anos, uma relação de profunda amizade, assim como de comunhão e partilha intelectual. Camilo, para além de várias referências que na sua obra fez a Martins Sarmento, também dedica ao arqueólogo vimaranense os livros “O regicida” e “No Bom Jesus do Monte”. O espírito benemérito de ambos, evidencia-se no contributo que dedicaram na obra “Óbolo às crianças”.

Vários textos camilianos, como “A viúva do enforcado”, “Memórias do Cárcere”, “No Bom Jesus do Monte”, “A filha do regicida” e “A brasileira de Prazins", entre outras obras, são povoados por paisagens e personagens vimaranenses, reais ou ficcionadas.

Nos 200 anos que passam sobre o nascimento do escritor da Casa de Seide, a Sociedade Martins Sarmento assinala a efeméride camiliana, apresentando a exposição Guimarães e Francisco Martins Sarmento, na tintura científica e literária de Camilo Castelo Branco. O momento expositivo revisita a obra de Camilo, especialmente o trabalho literário com referências ao território vimaranense, e a relação de amizade entre o escritor e F. Martins Sarmento.

 

 

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12 março, 2025

RAUL BRANDÃO, COMEMORAÇÃO DO NASCIMENTO

RAUL BRANDÃO, COMEMORAÇÃO DO NASCIMENTO

 

 Maria Angelina e Raul Brandão. Arquivo Sociedade Martins Sarmento.


12 de março de 1867, RAUL BRANDÃO NASCEU no Porto, na Foz do Douro. Foi escritor. Casou em Guimarães, com a vimaranense Maria Angelina, e viveu na Casa do Alto, Nespereira, local onde escreveu uma parte significativa da sua obra literária.

A Sociedade Martins Sarmento assinala mais um aniversário do Escritor da Casa do Alto, revisitando o II volume das “Memórias” de Raul Brandão, publicado pelo escritor em 1925, através de um excerto do texto “O silêncio e o lume” (para Maria Angelina Brandão):

“A certa altura da vida tive a impressão de que me despenhara num mundo de espectros. A face humana meteu-me medo pelo que nela descobria de repulsivo e grotesco. Fugi para poder viver; tudo me soava falso e me parecia inútil. Paz e uma árvore. Vamos, disse-te, ser como aqueles náufragos de jangada, que vi numa estampa, agarrados um ao outro, entre o mar encapelado. Estamos nas mãos de uma coisa desconforme e frenética que nos dá a ilusão e a morte. Deixemo-nos levar, que isto dura pouco. E daí não sei… Muitas vezes tenho perguntado se seríamos mais felizes noutra existência calma. Supõe a eternidade imutável no céu imutável, e talvez tivéssemos saudade da dor…

Mas tudo isto no fundo, bem no fundo, era egoísmo. Não compreendia a vida. À própria natureza preferia um cenário. E o que eu não queria era ver a outra coisa enorme – a outra coisa esplêndida que é a Vida. O que eu não queria era ver…

Fugimos para a aldeia…A nossa casa fica a meia encosta da colina. Por trás o mar verde dos pinheiros, em frente os montes solitários. Este cantinho rústico criei-o eu palmo a palmo. Tudo isto foi pedra e uma árvore contemporânea da fundação da monarquia. O carvalho centenário cobria todo o eido. Era enorme, era prodigioso. No tronco, que nem seis homens podiam abranger, tinham os bichos as luras e seu hálito sentia-se ao longe. Logo que o vi fiquei apaixonado. – Vamos viver juntos, vou envelhecer ao pé de ti. – Nós não ouvíamos as árvores, mas a sua alma comunica sempre connosco: sua força benigna toca-nos e penetra-nos…

Construí a casa, plantei as árvores, minei as águas. Absorvi-me. Uma pedra basta, basta-me um tronco carcomido…Este tipo esgalgado e seco, já ruço, que dorme nas eiras ou sonha acordado pelos caminhos, sou eu. Sou eu que gesticulo e falo alto sozinho, envolto na nuvem que me envolve e impregna. Que força me guia e impele até à morte?”

Tenho apanhado sol em todas as eiras. Nunca me farto de ver as grandes pedras veneráveis, nem de falar com jornaleiros, cavadores e pedreiros, que não ganham para comer (…) Refiro-me principalmente aos pedreiros – geração formidável que há séculos vem rachando a alvenaria para edificar a casa, erguer os socalcos e lajear as eiras. São homens só ossatura e pele, que na mesma cantilena – ou pedra – ou – oupa – lá – têm erguido as cabanas de todos estes arredores. É o Tordo, o Carvalhoa, o Bernardino, quase todos da mesma família, alguns velhos de poucas falas, e os filhos, que vão sucedendo aos pais no mesmo mester de cortar a laje e a afeiçoar a pico e cinzel, sempre cantando e trabalhando – ou pedra – ou – oupa – lá – para no fim da vida acabarem de fome.

O que aqui conserva um caráter eterno são as árvores, os montes e o trabalho no campo e nas eiras, que à força de ser transmitido – sempre os mesmos gestos – adquiriu uma beleza extraordinária, entranhada até ao âmago nos vivos e nos mortos.”

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