DIA MUNDIAL DO LIVRO II 2024 - “ARGONÁUTICA” DE APOLÓNIO DE RODES
DIA MUNDIAL DO LIVRO II 2024
“ARGONÁUTICA” DE APOLÓNIO DE RODES
Comemorando o Dia Mundial do Livro, e assinalando os 125 anos que passam sobre a morte de Francisco Martins Sarmento, a Sociedade Martins Sarmento destaca da Biblioteca Pessoal do seu patrono o livro em grego, “Argonauticon librii IIII”, de Apolónio de Rodes, com edição de 1574, que fora fonte de pesquisa para as investigações do etnógrafo e arqueólogo vimaranense.
Escrito pelo erudito grego, Apolónio de Rodes (séc. III a.C), no período do Egito Ptolemaico, a “Argonáutica” é um poema épico em quatro cantos, que descreve as aventuras e viagens dos Argonautas – 50 heróis gregos, entre eles Jasão –, desde o porto de Tessália, até à Cólquida, assim como a viagem de regresso, pelo Mar Negro. Os Argonautas partiram de Tessália, na nau Argos, em busca do “velo de ouro” – símbolo do poder e da realeza, presente dos deuses que atraía a prosperidade –, objetivo alcançado depois de superadas várias adversidades. De uma forma sintética, o primeiro e segundo livro da “Argonáutica” conta a viagem até Eetes (Cólquida); o terceiro narra o enamoramento de Medeia e Jasão, assim como apresenta as várias provas que este teve de vencer para alcançar o “velo de ouro”, o quarto livro dá conta da conquista do “velo” e prossegue com a viagem de regresso à terra natal, pelo Mar Adriático até ao Egeu.
O livro narra o episódio mítico – aventura heroica que decorreu no período anterior à Guerra de Troia –, apresentando as várias personagens e as dinâmicas políticas, religiosas, culturais e éticas específicas da época dos acontecimentos. A esta narrativa, Apolónio de Rodes associa o contexto do real, da “Dinastia Ptolemaica”, assim como explora os modelos poético-literários do seu tempo. O autor carateriza várias figuras políticas, herdeiras de Alexandre o Grande, analisa os ecos políticos da esfera religiosa na sociedade, articulando-os no processo de construção ideológico da identidade helénica no Egito do séc. III a.C., e apresenta modelos de governação, como que sugestivos para o desenvolvimento da reflexão sobre a governação pelos soberanos ptolemaicos. O poeta grego, para além das caraterísticas mitológicas que explora, integra elementos de natureza geográfica, histórica, etnográfica, cultural e política, relevantes para o conhecimento sobre a Antiguidade.
Sobre as qualidades da obra e do poeta, escreve o autor da primeira tradução do livro para português, José Maria da Costa e Silva (1852):
“(…) é um dos mais belos monumentos da poesia grega: não desconheço os seus defeitos, e um deles é a demasiada extensão dos cantos, cada um dos quais contém versos para dois de tamanho regular.
Quando comparo Homero com Apolónio, o primeiro se me afigura uma torrente, que se precipita de uma serra elevada, e inculta, reboando, e escumando em roda dos alcantis dos rochedos, que lhe servem de amparo, ou estorvo, até arrojar-se com estrondos em lagos, e barrancos; o segundo uma fonte, que desce murmurando de uma colina coberta de verdura, e arvoredo, para vir serpear por um prado alcatifado de flores à sombra de freixos, e salgueiros, que sobre a sua torrente se debruçam.
Homero é mais grandioso, sublime, e abundante; Apolónio mais correto, regular, e sentencioso. Homero tem mais imaginação; Apolónio mais juízo. Um representa a época do génio, e da força; o outro a da filosofia, e do gosto, que sempre vem depois dela. Homero tem mais fecundidade; Apolónio mais nexo; quiséramos muitas vezes Homero menos gigantesco, e Apolónio mais pitoresco; no primeiro menos exageração, no segundo mais fogo. O pincel de Homero é forte, e vigoroso como o de Rembrandt, e Caravaggio; o de Apolónio delicado, e gracioso como o de Albano, ou Júlio Romano. Apolónio imita muitas vezes Homero, porém as suas imitações não ficam inferiores ao original.
Não dou a minha opinião como regra, mas parece-me que um poema, que excitou o ciúme de Calímaco, que Quintiliano conta entre o número dos que devem ler-se, dando-o pelo mais perfeito modelo do estilo temperado; um poema que Varrão tomou o trabalho de traduzir em verso latino, e de que Ovídio, Valério Flaco e Virgílio se ajudaram tanto, não pode ser uma obra sem merecimento, nem composição de um poeta medíocre (…)”.
Apolónio de Rodes nasceu no Egito, tendo vivido na Alexandria e em Rodes, foi discípulo do poeta e mestre-escola Calímaco, e, para além de homem de letras, foi guarda-mor da Biblioteca da Alexandria. Escreveu vários textos poéticos, contudo os investigadores destacam o poema épico “Argonáutica”, considerando-o uma das mais importantes e influentes composições literárias do período helenístico. Os estudos que têm vindo a ser dedicados a este texto, apontam a assinalável influência da obra de Apolónio de Rodes na poesia latina, assim como frisam o traço “académico” da “Argonáutica”, em consonância com o saber da época. Virgílio, no livro IV da “Eneida”, denota a influência do texto épico de Apolónio de Rodes.
Francisco Martins Sarmento, em 1887, apresentou um estudo no qual interpreta a lenda dos Argonautas, livro que o etnógrafo e arqueólogo vimaranense intitulou “Os argonautas: subsídios para a antiga história do ocidente”. O estudo de Martins Sarmento sobre a obra de Apolónio de Rodes, especialmente do livro IV, inscreve-se no âmbito das investigações sarmentinas dedicadas ao conhecimento das origens antropológicas e étnicas dos Lusitanos. F. Martins Sarmento ofereceu os direitos da obra à Sociedade Martins Sarmento, tendo a Instituição concorrido com este trabalho a um prémio instituído pelo Rei D. Luís, na Academia das Ciências de Lisboa, e oferecido um exemplar aos seus sócios.
“ARGONÁUTICA” DE APOLÓNIO DE RODES
Comemorando o Dia Mundial do Livro, e assinalando os 125 anos que passam sobre a morte de Francisco Martins Sarmento, a Sociedade Martins Sarmento destaca da Biblioteca Pessoal do seu patrono o livro em grego, “Argonauticon librii IIII”, de Apolónio de Rodes, com edição de 1574, que fora fonte de pesquisa para as investigações do etnógrafo e arqueólogo vimaranense.
Escrito pelo erudito grego, Apolónio de Rodes (séc. III a.C), no período do Egito Ptolemaico, a “Argonáutica” é um poema épico em quatro cantos, que descreve as aventuras e viagens dos Argonautas – 50 heróis gregos, entre eles Jasão –, desde o porto de Tessália, até à Cólquida, assim como a viagem de regresso, pelo Mar Negro. Os Argonautas partiram de Tessália, na nau Argos, em busca do “velo de ouro” – símbolo do poder e da realeza, presente dos deuses que atraía a prosperidade –, objetivo alcançado depois de superadas várias adversidades. De uma forma sintética, o primeiro e segundo livro da “Argonáutica” conta a viagem até Eetes (Cólquida); o terceiro narra o enamoramento de Medeia e Jasão, assim como apresenta as várias provas que este teve de vencer para alcançar o “velo de ouro”, o quarto livro dá conta da conquista do “velo” e prossegue com a viagem de regresso à terra natal, pelo Mar Adriático até ao Egeu.
O livro narra o episódio mítico – aventura heroica que decorreu no período anterior à Guerra de Troia –, apresentando as várias personagens e as dinâmicas políticas, religiosas, culturais e éticas específicas da época dos acontecimentos. A esta narrativa, Apolónio de Rodes associa o contexto do real, da “Dinastia Ptolemaica”, assim como explora os modelos poético-literários do seu tempo. O autor carateriza várias figuras políticas, herdeiras de Alexandre o Grande, analisa os ecos políticos da esfera religiosa na sociedade, articulando-os no processo de construção ideológico da identidade helénica no Egito do séc. III a.C., e apresenta modelos de governação, como que sugestivos para o desenvolvimento da reflexão sobre a governação pelos soberanos ptolemaicos. O poeta grego, para além das caraterísticas mitológicas que explora, integra elementos de natureza geográfica, histórica, etnográfica, cultural e política, relevantes para o conhecimento sobre a Antiguidade.
Sobre as qualidades da obra e do poeta, escreve o autor da primeira tradução do livro para português, José Maria da Costa e Silva (1852):
“(…) é um dos mais belos monumentos da poesia grega: não desconheço os seus defeitos, e um deles é a demasiada extensão dos cantos, cada um dos quais contém versos para dois de tamanho regular.
Quando comparo Homero com Apolónio, o primeiro se me afigura uma torrente, que se precipita de uma serra elevada, e inculta, reboando, e escumando em roda dos alcantis dos rochedos, que lhe servem de amparo, ou estorvo, até arrojar-se com estrondos em lagos, e barrancos; o segundo uma fonte, que desce murmurando de uma colina coberta de verdura, e arvoredo, para vir serpear por um prado alcatifado de flores à sombra de freixos, e salgueiros, que sobre a sua torrente se debruçam.
Homero é mais grandioso, sublime, e abundante; Apolónio mais correto, regular, e sentencioso. Homero tem mais imaginação; Apolónio mais juízo. Um representa a época do génio, e da força; o outro a da filosofia, e do gosto, que sempre vem depois dela. Homero tem mais fecundidade; Apolónio mais nexo; quiséramos muitas vezes Homero menos gigantesco, e Apolónio mais pitoresco; no primeiro menos exageração, no segundo mais fogo. O pincel de Homero é forte, e vigoroso como o de Rembrandt, e Caravaggio; o de Apolónio delicado, e gracioso como o de Albano, ou Júlio Romano. Apolónio imita muitas vezes Homero, porém as suas imitações não ficam inferiores ao original.
Não dou a minha opinião como regra, mas parece-me que um poema, que excitou o ciúme de Calímaco, que Quintiliano conta entre o número dos que devem ler-se, dando-o pelo mais perfeito modelo do estilo temperado; um poema que Varrão tomou o trabalho de traduzir em verso latino, e de que Ovídio, Valério Flaco e Virgílio se ajudaram tanto, não pode ser uma obra sem merecimento, nem composição de um poeta medíocre (…)”.
Apolónio de Rodes nasceu no Egito, tendo vivido na Alexandria e em Rodes, foi discípulo do poeta e mestre-escola Calímaco, e, para além de homem de letras, foi guarda-mor da Biblioteca da Alexandria. Escreveu vários textos poéticos, contudo os investigadores destacam o poema épico “Argonáutica”, considerando-o uma das mais importantes e influentes composições literárias do período helenístico. Os estudos que têm vindo a ser dedicados a este texto, apontam a assinalável influência da obra de Apolónio de Rodes na poesia latina, assim como frisam o traço “académico” da “Argonáutica”, em consonância com o saber da época. Virgílio, no livro IV da “Eneida”, denota a influência do texto épico de Apolónio de Rodes.
Francisco Martins Sarmento, em 1887, apresentou um estudo no qual interpreta a lenda dos Argonautas, livro que o etnógrafo e arqueólogo vimaranense intitulou “Os argonautas: subsídios para a antiga história do ocidente”. O estudo de Martins Sarmento sobre a obra de Apolónio de Rodes, especialmente do livro IV, inscreve-se no âmbito das investigações sarmentinas dedicadas ao conhecimento das origens antropológicas e étnicas dos Lusitanos. F. Martins Sarmento ofereceu os direitos da obra à Sociedade Martins Sarmento, tendo a Instituição concorrido com este trabalho a um prémio instituído pelo Rei D. Luís, na Academia das Ciências de Lisboa, e oferecido um exemplar aos seus sócios.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home