Continuamos por cá... "Nos 120 anos da morte de Emil Hübner" | 9 de Junho, Dia Internacional dos Arquivos
“Diante de nossos olhos surge pela primeira vez na Península Ibérica um oppidum calaico, morada pobre e primitiva de um povo extremamente simples, levantada numa posição defensiva e esta ainda reforçada pela arte, com as suas habitações uniformes e sumamente primitivas (que mal se podem chamar casas) e os raros vestígios da invasão da civilização romana ocorrida na era de Augusto, invasão que marcou provavelmente ao mesmo tempo a hora fatal dêste lugar e de outras pequenas antigas povoações.”
Por estas palavras descreveu resumidamente Hübner a Citânia de Briteiros, no primeiro artigo que lhe dedicou, redigido em Abril de 1878.
Conhecido na bibliografia portuguesa como Emílio Hübner, Ernst Willibald Emil Hübner nasceu em 7 de Julho de 1834, em Düsseldorf. Nascido numa família de artistas, desde cedo apaixonado pelos estudos clássicos, particularmente nos campos da Filologia e Epigrafia, empreendeu, entre 1851 e 1859, a sua formação superior nas universidades de Bona e de Berlim, prosseguindo com um conjunto de viagens pela Europa. Os seus périplos por Itália, Espanha e Portugal, em busca de antiguidades epigráficas, foram um contributo fundamental para o inventário e estudo das inscrições latinas, particularmente da Península Ibérica.
Estudando previamente os materiais então publicados e notícias várias sobre as inscrições latinas peninsulares, empreendeu uma primeira excursão exploratória à Península entre 1860 e 1861, tendo então visitado Guimarães e Vizela.
Depois da publicação, em 1871, das Notícias Archeológicas de Portugal, traduzidas para português por A. Soromenho, Hübner escreve depois o célebre artigo intitulado “Citânia”, que acima se refere, traduzido por Joaquim de Vasconcellos, e publicado em 1879 no primeiro volume da Archeologia Artística. Nele traça uma resenha dos conhecimentos sobre a Citânia de Briteiros, baseado nas poucas fontes de informação de que dispunha, particularmente publicações dispersas em órgãos da imprensa, incluindo notícias sobre as escavações iniciadas por Francisco Martins Sarmento havia poucos anos.
Com efeito, as muitas imprecisões contidas no estudo, juntamente com uma crítica construtiva que sugeria a Sarmento a publicação de uma monografia e a realização de um registo topográfico fiel das ruínas de Briteiros, motivaram a redação, no mesmo ano, pelo próprio Sarmento, do opúsculo “Observações à Citânia do Sr. Doutor Emílio Hübner”, na qual o arqueólogo vimaranense percorre detalhadamente as informações de Hübner, corrigindo vários erros, quase todos atribuídos às notícias incertas e vagas que então se publicavam pontualmente.
Com efeito, Hübner tinha sido induzido em erro pelas fontes que consultou, pese embora ter sido o único investigador de vulto que, no século XIX, defendeu, corretamente, que a Pedra Formosa de Briteiros estaria originalmente na posição vertical. Apesar de sabermos, hoje, que Hübner estava certo, a interpretação que então fez do grande monólito como tendo sido o frontão de um túmulo andava também longe do que se veio a saber décadas depois, já no século XX, com a descoberta do Balneário Sul da Citânia de Briteiros.
O entusiasmo demonstrado por ambos, bem como a abordagem cordial que fizeram nos seus escritos, estiveram na origem de uma amizade e colaboração que se manteve entre os dois estudiosos. Em Setembro de 1881 Hübner é então recebido por Sarmento em Guimarães, tendo finalmente visitado a Citânia de Briteiros e também o Castro de Sabroso.
Após o falecimento de Sarmento, em Agosto de 1899, Hübner redige uma memória fúnebre, em Latim, reproduzida pela Sociedade Martins Sarmento no volume especial da Revista de Guimarães que, em 1900, homenageou o patrono da Instituição (disponível nesta ligação).
Pouco tempo depois, em 21 de Fevereiro de 1901, falecia Emil Hübner, em Berlim. A Direção da Sociedade Martins Sarmento, pela mão do Abade de Tagilde, prestou homenagem ao epigrafista alemão:
“Custou-nos a acceitar o fatal acontecimento, tão longe estava do nosso espirito a ideia de que assim depressa e abruptamente seccaria a limpida nascente em que depuravamos as nossas hesitações neste rude labor, a que nos entregamos, de juntar materiaes, que os competentes aproveitarão para o estudo dos povos, que nos precederam. A peninsula hispanica é devedora de muita gratidão ao sabio professor da Universidade de Berlim.”
A intensa correspondência epistolar entre Hübner e Sarmento seria compilada e publicada pela Sociedade Martins Sarmento em 1947, numa edição anotada por Mário Cardozo. Já antes disso, a edição dos Dispersos de Martins Sarmento, pela Imprensa da Universidade de Coimbra, em 1933, tinha incluído a publicação dos dois trabalhos que estiveram na origem do contacto científico entre os dois estudiosos.
Assinalando o Dia Internacional dos Arquivos, a Sociedade Martins Sarmento relembra a obra de Emil Hübner, ao passarem 120 anos sobre o seu falecimento, com uma exposição documental sobre o estudioso, incluindo parte da correspondência epistolar original que integra o Arquivo da SMS. A exposição estará patente até ao final do mês de Junho, na galeria dos Passos Perdidos.
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