10 março, 2010

9 de Março - Intervenção do Presidente da Direcção da Sociedade Martins Sarmento

(Foto de Guimarães Digital)

9 de Março é o dia da festa da Sociedade Martins Sarmento, instituição que iniciou oficialmente a sua actividade neste dia, com a primeira edição desta mesma cerimónia, há 128 anos. É este, pois, um dia de celebração, se mais não fosse porque a velha Sociedade Martins Sarmento está viva e se recomenda. A escolha desta data não foi obra do acaso: é este o dia do aniversário de Francisco Martins Sarmento, que nasceu há exactamente 177 anos. Sarmento foi um vimaranense luminoso, que marcou um tempo na vida desta cidade e que deixou o seu nome registado no nosso álbum de glórias. A invocação do seu nome adquire outra entoação no momento em que se nos apresenta no horizonte o ano de 2012, com todas as suas promessas.

Francisco Martins Sarmento, como todos os vimaranenses do seu tempo e de qualquer tempo, foi um europeu. Se, pela dimensão da sua obra, obteve em vida o reconhecimento dos seus concidadãos de Guimarães, que o homenagearam com um monumento vivo - a Sociedade que ostenta, com orgulho, o seu nome - não lhe faltou o reconhecimento da Europa culta de finais de novecentos, que lhe foi pródiga em distinções e homenagens.

Cumprem-se, neste ano de 2010, vinte anos sobre o início do processo de mudança que chegou a esta casa com a entrada das equipas lideradas por Joaquim António dos Santos Simões. Estas foram duas décadas de transformação tranquila que catapultaram esta vetusta Sociedade para um novo paradigma na sua actividade cultural. Olhando para o que nos rodeia, somos tentados a reparar naquilo que permanece, intuindo que as coisas sempre foram tais como são hoje. Um olhar retrospectivo demonstra-nos o erro de perspectiva e quão longe vai o tempo em que esta casa funcionava com duas funcionárias administrativas e com um aposentado que, nas funções de porteiro, aqui acrescentava um modesto complemento à sua reforma. Para este processo transformador muito contribuíram todos quantos, ao longo destes anos, têm passado pela Direcção desta casa. Todos eles merecem o nosso reconhecimento e a nossa gratidão. Num momento de transição, com a entrada em funções de uma nova Direcção, ontem eleita, é o momento de reconhecer o trabalho generoso, dedicado e desinteressado dos dois directores que cessam funções com o termo do mandato que agora se fecha, Alberto Lameiras e Agostinho Ferreira. Sabemos que sabem que esta será sempre a sua casa, que contará, sempre, com a sua colaboração.

Nos finais do século XIX, Guimarães passou por um processo de mudança e de renovação, impulsionado por uma plêiade de homens ilustres, com um profundo sentido de serviço público, que se reuniram em torno da ideia de que uma comunidade se eleva através da instrução. Operaram uma revolução: desde então, Guimarães não voltaria a ser a mesma. Foi uma oportunidade única, de tempo e de circunstância, para toda uma geração. Olhamos para os desafios da Capital Europeia da Cultura de 2012 com a expectativa de que venha a ter a mesma dimensão de alavanca em direcção ao futuro. Hoje, apesar da nossa preocupação com o tempo, que vai escasseando, porque, cumprindo a sua rotina de séculos, avança, gerando, à medida do seu avançar, crescente ansiedade em relação a tudo quanto ainda está por fazer, reafirmamos que a Sociedade Martins Sarmento está disponível para meter ombros, com entusiasmo, confiança e energia, nas tarefas a que irá ser chamada na construção deste empreendimento colectivo único.

Guimarães não pode desperdiçar, não desperdiçará, a oportunidade que tem pela frente. Todos sentimos um profundo orgulho pela nossa cidade, pela sua história, pelo seu património, pelas suas tradições, pela sua cultura. Os vimaranenses revêem-se, entusiasmam-se, emocionam-se na partilha deste sentimento de pertença a uma comunidade e a um território únicos. Na Sociedade Martins Sarmento, como sempre dissemos, estamos disponíveis para ajudar a canalizar essa corrente energia que poderá contribuir para que 2012 seja um daqueles momentos que ficam registados nas melhores memórias da nossa cidade, mas que, acima de tudo, possa contribuir para a sua elevação cultural, social e económica. Desejamos que 2012 seja, como 1884 o foi, um passo em frente no sentido da modernidade, de uma modernidade que saiba assumir o compromisso com as marcas que a história gravou, respeitando as marcas da nossa identidade.

Em Guimarães somos vimaranenses, somos portugueses e somos europeus. Bem sabemos que a Capital Europeia da Cultura não nos ensinará a sermos europeus, porque sempre o fomos. Mas temos esperança de que contribuirá para mostrar à Europa a nossa cultura, a nossa história, o nosso património e este nosso modo tão particular de sermos europeus. Não faltam em Guimarães, da arqueologia à história, da música ao cinema, das artes à literatura elementos que, superando a estreiteza dos muros locais, alcançaram inegável dimensão europeia. De uma dessas figuras falará hoje a oradora convidada desta sessão solene, a Prof.ª Maria João Reynaud, cuja contribuição agradecemos, reconhecidos. Raul Brandão é um dos nomes maiores da literatura portuguesa. A sua obra, densa, profunda, multifacetada e marcante, influenciou profundamente a produção escrita em língua portuguesa no século XX. Nasceu no Porto e viveu, desde 1896, em Guimarães, terra onde está sepultado e onde se guarda o seu espólio literário.

Já o escrevemos no último editorial do Boletim da SMS:
“Numa escolha das figuras com suficiente relevância cultural para assumirem protagonismo na CEC, feita com base em de critérios de projecção nacional e europeia e de vinculação a Guimarães, Raul Brandão será, necessariamente, um nome incontornável. E Guimarães não pode perder esta oportunidade para prestar tributo ao seu maior escritor. O ano de 2012 será, também, tempo para celebrar Raul Brandão, divulgando a sua obra, promovendo o estudo e a difusão dos seus livros, impulsionando a edição das suas obras completas e a sua tradução para diferentes línguas. E homenagear Raul Brandão será, também, uma oportunidade para recordar aquele que foi o mais persistente e dedicado defensor do seu legado e do seu património cultural: Joaquim António dos Santos Simões.”

A Sociedade Martins Sarmento, depositária da memória de Raul Brandão, tem uma dívida de gratidão para com o escritor e para com a sua família. Tudo fará para que o autor de A Farsa e de Húmus venha a ser um dos protagonistas da agenda cultural de Guimarães nos tempos auspiciosos que se antevêem. Podemos anunciar que, ainda este ano, iremos organizar uma grande exposição com a obra gráfica de Raul Brandão, com que se homenageará o escritor, que também foi artista plástico de reconhecido mérito, e se assinalará a passagem do primeiro centenário da República.

Não queremos terminar sem deixar uma palavra para aqueles que nesta sessão irão receber o Prémio Escolar da Sociedade Martins Sarmento. Que este prémio vos sirva de estímulo para o curso da vida. Parabéns.

Obrigado.

publicado por SMS às 09:27

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