A LANTERNA MÁGICA, Caricatura e Imprevisto de RAFAEL BORDALO PINHEIRO - Nos 150 anos do Zé Povinho
A LANTERNA MÁGICA
Caricatura e Imprevisto de RAFAEL BORDALO PINHEIRO
Nos 150 anos do Zé Povinho
Assinalando os 150 anos do periódico “A Lanterna Mágica”, de Rafael Bordalo Pinheiro, a Sociedade Martins Sarmento destaca a publicação e evoca a figura e a obra do artista, considerado o maior caricaturista português, tido, ainda, como o iniciador desta arte em Portugal.
Rafael Bordalo Pinheiro nasceu em 1846, no seio de uma família de artistas. Evidenciou gosto pelo teatro, fez incursões pela pintura, pela decoração e pela cerâmica, mas a caricatura foi a expressão artística que mais notoriedade lhe conferiu. Irisalva Moita afirma que “concorria em Rafael Bordalo Pinheiro um tão importante conjunto de predicados necessários ao caricaturista, espírito crítico, poder de síntese, penetração psicológica, amor ao próximo, desenho inciso e rápido, intuição, poder de fixação do essencial, que era neste campo que o Artista havia de, forçosamente, encontrar-se”.
A partir de 1870, os trabalhos de Bordalo Pinheiro, no domínio do desenho-caricatura, começam a formar-se com mais significado, sendo “A lanterna mágica” (1875) o primeiro periódico de crítica humorístico-caricatural de maior expressão. Em colaboração com importantes figuras do meio artístico e literário da época, Rafael Bordalo Pinheiro principia, neste órgão, a crítica metódica e regular ao governo, aos políticos, às instituições e às principais figuras da sociedade e da cultura portuguesa de oitocentos. Este periódico figura-se, assim como os trabalhos sequentes, nomeadamente “O António Maria”, o “Álbum das glórias” e “A parvónia”, numa espécie de arquivo/repositório de acontecimentos políticos, sociais e culturais da sociedade portuguesa do seu tempo que, para além do conhecimento que proporcionam sobre as posições e a personalidade do autor, permitem estabelecer o retrato de uma época, assim como refletir sobre o estado do país.
É ainda, no jornal “A lanterna mágica”, que Rafael Bordalo Pinheiro põe em cena, pela primeira vez, há 150 anos, a icónica e intemporal figura do Zé Povinho, representação do povo português. Acompanhar a vida do Zé Povinho, pela mão de Rafael Bordalo Pinheiro, é assistir ao desenrolar da cena político-administrativa, social, artística e cultural do país e conhecer os impactos das decisões dos seus principais atores – reis, príncipes, ministros, políticos, escritores, atores e instituições – no quotidiano do povo.
Caricaturista, com a pena e com o barro, embora, como escreve Raul Brandão (1903), também, os olhos, o nariz, as mãos e até o bigode que se encrespa, desenham e imitam, Rafael Bordalo Pinheiro dissecou graficamente a 2.ª metade do século XIX português, com sentido de humor, espírito crítico, evidenciando uma profunda afeição à liberdade e aos ideais republicanos. Maria Virgílio Cambraia Lopes (2005) assinala que “não se pode recordar sem um sorriso o caricaturista que, meticulosamente, semana a semana, durante trinta e cinco anos (de 1870 a 1905), registou – com a veia humorística que lhe era peculiar – tudo o que de relevante fez parte da vida cultural, social e política do país”.
Autor de numerosos trabalhos – muitos deles publicados em diversas publicações da época, nacionais e estrangeiras, outros tomaram forma enquanto obra ceramista – Bordalo Pinheiro foi uma figura de grande talento criativo e de caracterização do período em que viveu.
O traço artístico da obra cerâmica de R. Bordalo Pinheiro, manifesta-se no intenso colorido, na riqueza e na expressão das formas dos elementos naturalistas, no figurado de tipo popular e nas cenas de natureza etnográfica que o artista criou e executou na antiga Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.
Deixou-nos, entre muitos outros trabalhos, o figurado dos Passos da Paixão de Cristo, destinado às Capelas do Buçaco, por encomenda do Estado Português, e que atualmente se encontra no Museu José Malhoa; participou, também, na construção do Pavilhão de Portugal, na Exposição Universal de Paris (1889), assim como realizou a decoração do Pavilhão de Portugal, na Exposição Colombiana de Madrid (1892).
A exposição, A LANTERNA MÁGICA, a caricatura e o imprevisto de Rafael Bordalo Pinheiro, proporciona um olhar sobre a complexa e plural obra do caricaturista, um dos mais prolíficos artistas da segunda metade do século XIX em Portugal, acompanhando, também, a sua especial personagem o “Zé Povinho”, no quotidiano da vida política, social e económica da época.