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Torcato Peixoto de Azevedo
No dia 2 de Maio de 1622, o sargento-mor João Rebelo Leite e a sua mulher Isabel Peixoto de Azevedo levaram a batizar o seu primogénito na igreja paroquial que espreitava para o Toural pela Postigo de S. Paio. Deram-lhe o nome do avô materno, Torcato Peixoto de Azevedo. A sua vida, em que seguiu a carreira eclesiástica com o hábito de presbítero secular e se dedicou aos estudos e à escrita, foi passada na casa onde nasceu, na antiga rua de Alcobaça. Aí terminaria os seus dias, no dia 23 de Junho 1705.
No dia 2 de Maio de 1622, o sargento-mor João Rebelo Leite e a sua mulher Isabel Peixoto de Azevedo levaram a batizar o seu primogénito na igreja paroquial que espreitava para o Toural pela Postigo de S. Paio. Deram-lhe o nome do avô materno, Torcato Peixoto de Azevedo. A sua vida, em que seguiu a carreira eclesiástica com o hábito de presbítero secular e se dedicou aos estudos e à escrita, foi passada na casa onde nasceu, na antiga rua de Alcobaça. Aí terminaria os seus dias, no dia 23 de Junho 1705.
A herança que o padre Torcato deixou à sua sobrinha Mafalda Luísa Leite, senhora do morgado dos Peixotos de Azevedo, incluía 35 volumes de manuscritos com biografias de fidalgos e de reis de Portugal e Castela, além de genealogias de famílias portuguesas, três volumes compostos por cadernos com “importantes notícias”, cujo conteúdo se desconhece, e os livros da sua biblioteca, onde se incluiria um exemplar da primeira edição de Os Lusíadas, que hoje pertence à Sociedade Martins Sarmento.
Ao padre Torcato devemos as Memórias Ressuscitadas da Antiga Guimarães, obra precursora e luminosa de um erudito robustecido por muitas leituras, historiador metódico e consciencioso, com inegável talento para a escrita, que tem sido subestimado.
As Memórias do padre Torcato começam pela descrição da repartição Mundo, percorrem a Europa, atravessam a Península Ibérica até aos limites de Portugal, sobrevoam o Entre-Douro-e-Minho e chegam a terras de Guimarães quando já vão no 43.º dos seus 142 capítulos. E seguem o seu percurso, cumprindo o que prometido no começo:
decantar em agradável estilo as primeiras notícias da nossa antiga Araduca e fundação da nova Guimarães e sua igreja catedral real, como ela foi colocada à Virgem Santa Maria e o motivo que houve para lhe darem o título de Oliveira; medindo sua grandeza, contando seus vizinhos, enumerando as freguesias de seu termo, concelhos, coutos e honras de suas comarcas, edifícios, mosteiros, capelas, rios, pontes e fontes suas vizinhas; morgados e casas de seus nobres povoadores, privilégios, isenções e liberdades com que foram honrados de seus reis; casos e sucessos que, na sua defesa e do reino, lhe sucederam.
Esta é uma obra incontornável para quem queira compreender Guimarães. Datada de 1692, teria permanecido inédita até 1845, não fosse ter sido grosseiramente plagiada no início do séc. XVIII pelo padre Carvalho da Costa, que a verteu quase ipsis verbis na sua Corografia Portuguesa.
Tem a antiguidade muitas sombras, porque são nela tantas as escuridades como os anos e o que se soube bem esconder, nunca se pode bem conhecer, pelo que acham os tempos testemunhas falsas nas histórias, se os anais não são verdadeiros e é temeridade grande querer pôr à luz o seu princípio, quando o descuido dos que viveram naqueles primeiros séculos não deixaram notícias de suas memórias.
Cap. 1.º, p. 9
Não se pode ter por escritura verdadeira aquela que somente se funda na fama, mas aquelas coisas que ficaram ocultas pela falta de escrita lhes serve a tradição de prova verdadeira, principalmente nesta província, por seus naturais não terem tempo de escrever por andarem continuamente com a espada na mão contra seus inimigos, e assim fiaram da memória dos tempos tanto as acções que obravam, como as coisas grandes de seu século que mereciam andar nos anais da fama, não lhe ficando outro crédito além da tradição.
Cap. 43.º, p. 144
António Amaro das Neves
Abril 2022
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